3 Fevereiro 2015

Habitantes da cidade ucraniana de Debaltseve estão à beira da rutura

 

Os habitantes da cidade ucraniana de Debaltseve, no Leste do país, estão à beira da rutura, com milhares de pessoas desesperadas a refugiarem-se em todos os abrigos que encontram para se protegerem dos bombardeamentos, sem água canalizada, sem alimentos, sem eletricidade nem medicamentos essenciais, alerta a Amnistia Internacional.

“A situação que se vive em Debaltseve é catastrófica”, descreve a perita da Amnistia Internacional em resposta a crises Joanne Mariner, que esteve naquela cidade e se encontra atualmente em Slovyansk, também no oblast de Donetsk, no Leste da Ucrânia. “Falei com muitos idosos que estão fechados nas caves das suas casas, em condições extremamente difíceis, em espaços sobrelotados, e totalmente aterrorizados. Muitos disseram-me que se sentem completamente perdidos, sem saber o que fazer. Os bombardeamentos são constantes. Estas pessoas estão à mercê de forças sobre as quais não têm nenhum controlo”.

Joanne Mariner sustenta que “ambos os lados envolvidos no conflito têm a responsabilidade de se manterem longe das áreas civis e garantirem que as pessoas conseguem deixar a cidade em segurança”. “A comunidade internacional – e isto inclui a Rússia – tem de ser muito mais firme na condenação das violações das leis da guerra que estão a ser cometidas por ambas as fações em combate”, prossegue.

Debaltseve é um nó ferroviário estratégico e atualmente um reduto na região do Leste das forças militares fiéis ao Governo de Kiev. A cidade tem sido repetidamente bombardeada pelos separatistas pró-russos, que ao longo dos últimos dias tentam conquistar aquela área. A investigação da Amnistia Internacional no terreno indica que alguns destes ataques terão sido feitos de forma indiscriminada.

A população da cidade, de 25 mil habitantes, diminuiu para cerca de 7.000. As forças militares ucranianas dizem ter retirado do local mais de duas mil pessoas desde quarta-feira passada, 28 de janeiro.

A única estrada para fora da cidade está também sob permanentes bombardeamentos, o que torna a fuga de Debaltseve dos residentes que ali ainda permanecem ainda mais perigosa.

“O Governo ucraniano tem de encetar todos os esforços e tomar todas as medidas exequíveis para proteger a população civil de todas as vilas e cidades afetadas pelo conflito, incluindo a prestação de assistência à transferência daqueles que desejam partir e o seu transporte para áreas mais seguras. E as forças separatistas pró-russas têm de permitir que os civis partam, assim como tem de pôr fim a estes bombardeamentos indiscriminados”, insiste Joanne Mariner.

Estimativas das Nações Unidas dão conta que o conflito no Leste da Ucrânia causou a morte a já mais de 5.100 pessoas e forçou mais de 900.000 a abandonarem as suas casas desde o eclodir dos combates em abril de 2014. A vaga recente de hostilidades constitui o pior agravamento na violência desde o muito frágil cessar-fogo assinado há cinco meses e que, efetivamente, nunca saiu do papel.

 

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