3 Dezembro 2013

É já na próxima sexta-feira, 6 de dezembro, que arranca a edição de 2013 da Maratona de Cartas – uma das maiores campanhas globais da Amnistia Internacional, que mobiliza centenas de milhares de pessoas pelo mundo inteiro com o objetivo de mudar a vida de indivíduos que se encontram em risco, com o simples envio de uma carta.

A partir desta sexta-feira e até 17 de dezembro, pessoas oriundas de mais de 80 países unem-se na defesa de 12 outras pessoas e comunidades cujos direitos humanos estão a ser violados. Vão identificar, apontar o dedo e apelar diretamente aos governos responsáveis por esses abusos das liberdades fundamentais em apoio daqueles que estão a ser alvo de repressão por parte das autoridades de Estado.

A Amnistia Internacional espera que sejam enviadas mais de dois milhões de cartas, faxes, emails, tweets e mensagens de texto durante a campanha da Maratona. “Este é um momento crucial, que reflete o que está no cerne do trabalho da Amnistia Internacional: agir em benefício de outros, dando também uma mostra de solidariedade para com aqueles que corajosamente lutam contra a tirania”, sublinha o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.

Nos quatro cantos do mundo, da Argélia à Eslovénia, de Hong Kong a Marrocos, uma série de eventos – incluindo concertos, como o Live Freedom II em Portugal, mostras de graffiti e sessões de 24 horas ininterruptas de assinatura de cartas – vão ajudar a promover esta causa da Amnistia Internacional.

Em 2013 foram escolhidos a nível global 12 casos, vindos de todos os continentes e que abarcam uma enorme panóplia de violações de direitos humanos e liberdades fundamentais no mundo inteiro, incluindo prisioneiros de consciência, indivíduos que estão a ser alvo de abusos por parte do poder do Estado e ainda comunidades que se encontram sob intimidação e ameaças.

A Amnistia Portugal selecionou daquele grupo quatro casos para promover em especial:

– o jornalista etíope Eskinder Nega, preso repetidas vezes desde 2008, está a cumprir desde 2011 uma sentença de 18 anos de prisão, por crimes de “terrorismo contra o Estado”, tendo não mais do que criticado o Governo do seu país num discurso público feito na Suécia

– a ativista cambojana Yorm Bopha, que, apesar de ter sido libertada condicionalmente a 22 de novembro passado por ordem do Supremo Tribunal do Camboja, continua com uma sentença pendente de três anos de prisão sustentada em acusações que foram forjadas contra ela, depois de manter uma ação consistente e continuada em defesa do direito à habitação da sua comunidade no Lago Boeung Kak, na capital do país, Phnom Penh

– o performer e homossexual bielorrusso Ihar Tsikhanyuk, o qual foi espancado e permanece sujeito a persistente intimidação por parte da polícia, devido ao trabalho de ativismo que desenvolve pelos direitos LGBTI (comunidade lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexual) no seu país

– os residentes palestinianos da aldeia de Nabi Saleh, que se encontram cercados por colonos israelitas e enfrentam continuada repressão ao manifestarem-se todas as sexta-feiras contra a ocupação de Israel

 

Milhares de cartas não são facilmente ignoradas

“A Maratona de Cartas é uma enorme mostra de solidariedade internacional. É também uma iniciativa com um poderoso impacto positivo na vida destas pessoas cujos direitos humanos estão em risco. Uma só carta enviada às autoridades pode ser facilmente afastada . Mas milhares de cartas instando a mudanças nas práticas de direitos humanos não podem ser assim tão facilmente ignoradas. Temos a experiência de décadas deste tipo de iniciativas que já provou que o envio destas cartas muda de facto vidas, que salva a vida de muitas pessoas”, defende Salil Shetty.

Desde a sua criação, há 11 anos, a Maratona de Cartas já alcançou várias vezes resultados concretos com a libertação de indivíduos adotados pela Amnistia Internacional como prisioneiros de consciência. Este ano mesmo, dias antes do arranque oficial da edição de 2013 da Maratona, a ativista cambojana Yorm Bopha acabou por ser libertada condicionalmente após um reforçado esforço feito em sua defesa por ativistas do mundo inteiro nas vésperas do seu caso ser apreciado pelo Supremo Tribunal do Camboja.

Após se ter finalmente reunido com o marido e o filho de dez anos, os quais não via há mais de uma ano, a ativista cambojana pelo direito à habitação passou esta mensagem para todos quantos agiram em seu favor: “Quero agradecer aos apoiantes da Amnistia Internacional! A vossa campanha foi bem-sucedida, como a minha libertação o demonstra! Mas o meu caso ainda não chegou ao fim. Por favor continuem a pressionar o Governo cambojano para arquivar as acusações formuladas contra mim. E, por favor, continuem a dar-me o vosso apoio, e à minha comunidade e ao povo do Camboja. Podemos alcançar os maiores sucessos ao trabalharmos todos juntos!”

 

Da experiência polaca a dois milhões de cartas

A Maratona de Cartas nasceu há 12 anos na Polónia: o coordenador de um grupo da Amnistia Internacional em Varsóvia conheceu nesse ano num festival de música uma rapariga que lhe contou então a experiência que tivera a organizar em África eventos com a duração de 24 horas em que ativistas escreviam cartas aos governos instando à defesa dos direitos humanos em casos específicos. O grupo de Varsóvia decidiu seguir este exemplo e lançou a primeira iniciativa de assinatura e envio de cartas ao longo de um dia inteiro – no final contaram quantas cartas tinham feito e remetido.

Daí propuseram esta iniciativa a outros grupos na Polónia e a ideia espalhou-se e enraizou-se, unindo ativistas pelos direitos humanos por todo aquele país. Depois informaram outras secções da Amnistia Internacional pelo mundo inteiro e a “pequena ideia” inicial ganhou o efeito de bola de neve, acabando por se transformar numa enorme campanha global. Ativistas do mundo inteiro começaram a enviar fotografias para a Amnistia Internacional, nas quais se retratavam a assinar apelos de todas as capitais europeias, no Japão, na Mongólia, junto às Cataratas do Niagara…

E assim, desde há vários anos, por volta do dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, centenas de milhares de pessoas dos quatro cantos do mundo enviam uma mensagem de apoio e solidariedade a alguém que nunca conheceram, pressionando ao mesmo tempo as autoridades e governos responsáveis por abusos de poder e violações dos direitos humanos. É, no fundo, a técnica clássica de ação da Amnistia Internacional traduzida na sua fórmula mais simples – e 52 anos de trabalho na defesa dos direitos humanos dão provas de que as palavras têm mesmo o poder de mudar vidas.

No ano passado a Maratona de Cartas envolveu ativistas de 77 países com um número recorde de 1,9 milhões de mensagens enviadas. Em 2013 a Amnistia Internacional tem o objetivo de ultrapassar os dois milhões de cartas enviadas durante esta iniciativa.

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