15 Abril 2015

 

A continuada negligência dos governos europeus face à colossal crise humana no Mediterrâneo contribuiu para o aumento brutal de mortes de migrantes e refugiados no mar – quase 900 desde o início de janeiro de 2015, o que representa 50 vezes mais do que no mesmo período do ano passado –, sustenta a Amnistia Internacional quando se teme que 400 pessoas morreram afogadas nas águas ao largo da Líbia em rumo para a Europa.

Esta quarta-feira, 15 de abril, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, UNHCR na sigla em inglês) revelou estar em “choque profundo” perante o facto da mais recente tragédia ter feito subir o número de mortes no Mediterrâneo para quase 900 desde o início de 2015. No mesmo período de 2014 foram registadas as mortes de 17 pessoas nas águas às portas da Europa. Este aumento equivale a quase 53 vezes mais migrantes e refugiados mortos no mar.

A Amnistia Internacional lançará a 28 de abril próximo um novo relatório em que é feita uma análise profunda da atual crise, e do qual fazem parte testemunhos diretos de sobreviventes de naufrágios que ocorreram nos primeiros três meses deste ano. Esse relatório detalha a forma como as operações de busca e salvamento no mar que existem atualmente estão muito aquém do que é necessário para dar resposta à crise humana que ocorre na zona central do Mediterrâneo.

“Quantas pessoas mais têm de morrer até os governos europeus reconhecerem que esta manta de retalhos de recursos, que são as atuais operações de busca e resgate, não chega?”, critica a vice-diretora do programa Europa e Ásia Central da Amnistia Internacional, Gauri van Gulik. “Milhares de migrantes e refugiados em desespero continuam a fazer a mais perigosa travessia marítima do mundo e centenas deles morreram já este ano – num aumento dramático em relação ao registado no mesmo período de 2014”, prossegue a perita.

Tudo indica que, a manter-se o cenário atual, continuará a aumentar o número de migrantes e refugiados a fazerem esta rota, conforme as condições climatéricas vão melhorando, mas a violência e a repressão em países como a Síria e a Eritreia continuam, assim como se mantem a instabilidade na Líbia, os principais pontos de partida da maioria das travessias do Mediterrâneo feitas por estas pessoas.

Fontes da guarda-costeira italiana revelaram à Amnistia Internacional que as suas patrulhas salvaram quase 10.000 pessoas das suas águas, em resposta a dezenas de pedidos de SOS feitos só desde sábado passado, 11 de abril. No domingo, a guarda-costeira italiana recuperou das águas os corpos de nove pessoas que naufragaram num bote de madeira. Os esforços de busca e salvamento prosseguem agora no Mediterrâneo para recuperar sobreviventes da mais recente tragédia, em que centenas de pessoas estão dadas como desaparecidas nas águas ao largo da Líbia.

Como aconteceu em outras missões de resgate recentes, a guarda-costeira italiana teve de se fazer valer de apoio ad hoc de uma combinação de recursos da operação de patrulha fronteiriça Tritão e alguns navios mercantes que se encontravam nas proximidades.

“A Europa diminuiu significativamente as capacidades das operações de busca e salvamento com base no argumento falacioso de que tais missões estavam a funcionar como um “fator de atração”, a atrair ainda mais migrantes [a fazerem a travessia]. Mas a realidade do que se está a passar no Mediterrâneo expõe com toda a clareza a falácia daquele argumento, pois os números de pessoas desesperadas que tentam fazer aquela rota rumo à Europa apenas estão a aumentar”, explica Gauri van Gulik.

A vice-diretora do programa Europa e Ásia Central da Amnistia Internacional insta “os líderes em Londres, Paris, Berlim e outras capitais da Europa a admitirem que a atual estratégia não funciona”. “É preciso que prestem toda a sua influência e apoio a uma operação humanitária no Mediterrâneo robusta e concertada, com pelo menos os mesmos recursos que tinha a operação italiana Mare Nostrum, encerrada no ano passado”, remata.

 

A Amnistia Internacional tem em curso desde 20 de março de 2014 a campanha “SOS Europa, as pessoas acima das fronteiras“, iniciativa de pressão a nível global para que a Europa mude as políticas de migração e asilo, no sentido de que migrantes, refugiados e candidatos a asilo sejam tratados com dignidade à chegada às fronteiras europeias. Aja connosco! Inste os líderes europeus a porem as pessoas acima das fronteiras, assine a petição.

 

Artigos Relacionados