13 Setembro 2011

Widney Brown, Director Sénior, Política e Direito Internacional, Amnistia Internacional

Há muitas coisas das quais me lembro acerca do 11 de Setembro de 2001.

Como a maioria dos nova-iorquinos naquele dia, lembro-me do ar fresco puro e do céu azul imbatível pelas nuvens. Lembro-me de ir para o trabalho a pensar no dia atarefado que tinha pela frente.

Para mim, aquele dia era apenas mais um dia. Outro dia de trabalho como activista dos direitos humanos. E depois o primeiro avião riscou o puro céu azul, voando demasiado perto, demasiado baixo, demasiado rápido e fazendo demasiado barulho.

À medida que atravessava a Madison Avenue a caminho do trabalho no Empire State Building não conseguia perceber o que aquele jacto tão barulhento voando por cima de mim iria significar para o meu trabalho durante a década seguinte.

Muitos, talvez a maioria, dos nova-iorquinos aproximaram-se mais – de todos os quadrantes – apoiando-nos mutuamente na nossa dor e desorganização. Sentimos a perda, a desorientação, o desejo de regressar a trás no tempo antes do mundo parecer cair.

Nesse dia, caminhei pelas ruas de Nova Iorque e vi que à medida que as pessoas procuravam os desaparecidos, que procuravam perceber, vi o choque tornar-se em dor, depois em raiva e novamente em dor.

O que não sabíamos era que as nossas perdas, a nossa raiva e a nossa dor tornar-se-iam a justificação para um conceito fundamentalmente deteriorado – uma guerra global contra o terrorismo – levando a danos imensuráveis que desonraram a dor que sentimos naquele dia e continuamos a sentir 10 anos depois.

À medida que os governos começaram a debater como fortalecer as suas leis de combate ao terrorismo ao explorarem os princípios do direito internacional humanitário – princípios básicos e essenciais que nos protegem a todos de sermos torturados. As protecções fundamentais do processo de direito foram desmanteladas, explorando o medo resultante – o medo que os políticos tão prontamente identificaram e promoveram.

Como tal, neste 10º aniversário, escrevo não apenas pela memória daquele dia, mas pela forma como os governos usaram os terríveis acontecimentos para explorarem a dor e a raiva para enfraquecer os valores fundamentais, promoverem o medo e dividir o mundo entre “eles e nós”.

Quando os EUA decidiram que a tortura era justificável, viraram-se para o seu aliado próximo, Egipto, sabendo que as forças de segurança egípcias se distinguem pela tortura. Quando o governo chinês quis justificar a sua repressão dos Uighers em Xinjiang, os acontecimentos de 11 de Setembro aplicaram-se repentinamente. Os governos europeus apoiaram as rendições sabendo perfeitamente o risco de tortura envolvido para as vítimas de rendições. O oportunismo politico prosperou por todo o globo no mundo pós-11 de Setembro.

Amina Janjua do Paquistão, é uma mulher que compreende demasiado bem as consequências destas políticas mal concebidas. O seu marido, Masood, foi alegadamente mantido sob custódia do governo desde o seu desaparecimento em 2005, quando viajava num autocarro para Peshawar. Masood encontra-se entre as centenas de pessoas que desapareceram, alegadamente mantidas sob custódia, desde que o Paquistão se juntou em 2001 à “guerra contra o terrorismo” liderada pelos EUA.

Ao mesmo tempo, na Tanzânia, Índia, Espanha, Indonésia, Paquistão, Filipinas, Reino Unido, Quénia, Somália, Iraque, Noruega, Marrocos, aqueles que apoiam o terrorismo continuaram a causar estragos à medida que promoveram o ódio, mataram civis e glorificaram a violência.

É um cliché dizer que as acções do governo norte-americano tornaram-se fortes ferramentas de recrutamento para organizações como a Al-Qaeda. Quer isto seja verdade ou não, a questão que devemos enfrentar é: os governos de todo o mundo responderam a este ataque com dignidade humana ao promover a dignidade e igualdade inerente de todas as pessoas? Ou definiram um mapa do mundo onde o respeito pela dignidade humana e pela vida depende da nacionalidade de cada um? Da religião de cada um? Da classe de cada um? Do nome de cada um? Da condição de imigração de cada um? Da cor de pele de cada um?

Estes governos de coligação que estão em combate no Afeganistão tentaram ganhar credibilidade alegando que o seu objectivo era – em parte – promover os direitos das mulheres no Afeganistão. Mas à medida que a guerra se arrasta, emerge uma vontade de negociar com os talibãs, representando um perigo real que o direito das mulheres se torne em nada mais, nada menos, que uma moeda de troca.

Não existe nada simples acerca do combate ao terrorismo. Mas também não existe nada de simples sobre desafiar a repressão por parte dos governos que reduz as pessoas a etiquetas que determinam se os seus direitos serão respeitados ou não.

O terrorismo não terminará construindo alianças com os governos que governam recorrendo ao medo e à repressão. Isto é contraproducente e demonstra um desrespeito cruel pelos direitos humanos das pessoas que sofrem com essa repressão.

Lamentamos a perda das vidas devido ao terrorismo desde e no dia 11 de Setembro de 2001. Devemos também assustar-nos perante a perda das liberdades e dos direitos em nome do terrorismo e da luta contra o terrorismo nos últimos dez anos.

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