4 Maio 2015

A longa-metragem documental “O Medo à Espreita”, da realizadora portuguesa Marta Pessoa, venceu o prémio especial Amnistia Internacional na 12ª edição do festival de cinema independente IndieLisboa, cujo júri decidiu atribuir ainda uma menção honrosa a “Shipwreck”.

“O Medo à Espreita” (de 2015) narra as memórias daqueles que viveram, até à queda do Estado Novo, uma vida de perseguição pessoal e política, sob a ameaça dos informadores da PIDE/DGS e da tortura, e é também um retrato de um país onde a denúncia se instalou no quotidiano.

“A falta de liberdade, o medo, a ditadura não são coisas longínquas nem abstrações. A polícia política não é uma abstração e não podemos deixar que as pessoas pensem que isto são meras coisas do passado. São bem reais e podem voltar a acontecer. É por isso que fiz este filme e fui buscar as vozes dos informadores da PIDE para dizer às pessoas que eles existiram e podem voltar, pelo que temos de estar sempre alerta”, descreve Marta Pessoa à Amnistia Internacional.

O documentário (na foto) é, assim, também “uma reação ao medo”: “O medo é-nos muito próximo e constante, mas não nos podemos deixar vencer pelo medo. E a reação deve ser sempre a nossa maior força”, avança ainda a realizadora.

É justamente “porque o medo que hoje espreita é outro mas também existe”, que o júri do Prémio Amnistia Internacional do IndieLisboa – formado este ano pela jornalista Sofia Lorena (Público), pelo cartoonista António Antunes (Expresso) e por Susana Gaspar, presidente da Direção da Amnistia Internacional Portugal – escolheu “O Medo à Espreita” como vencedor de entre os seis filmes a concurso neste galardão. “Porque 41 anos depois do 25 de Abril ainda há caixotes por abrir, porque a realizadora tomou a iniciativa de abrir alguns deles e de, com isso, nos trazer a experiência dos que viveram, ainda ontem, num estado policial”, explicaram.

A curta documental “Shipwreck” (2014), de Morgan Knibbe, que traça rota nas palavras de um sobrevivente de um naufrágio de migrantes e refugiados ao largo da costa de Itália, em 2013, foi distinguido com uma Menção Honrosa. Com o ano de 2015 marcado já com balanços de mortes sem precedentes na travessia do mar Mediterrâneo, o júri do Prémio Amnistia Internacional quis com este galardão assinalar a tragédia humana e a crise que ocorre às portas da Europa”: “O Mediterrâneo transformado em cemitério. A impotência de quem assiste à dor, entre gritos e sussurros. A apatia da Europa perante esta tragédia que assim continuará a ser inevitável”.

Este prémio especial, fruto da parceria entre a Amnistia Internacional e o IndieLisboa, e atribuído desde 2005, visa distinguir filmes que contribuem para alargar a compreensão dos espectadores sobre as várias dimensões da dignidade humana.

 

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