17 Maio 2019

Zak Kostopoulos, um ativista queer, defensor dos direitos humanos e artista drag da Grécia, foi brutalmente espancado por dois homens, depois de ter entrado numa ourivesaria, no centro de Atenas, em setembro do ano passado. Na sequência do ataque, foram divulgadas imagens da polícia a tentar detê-lo, de forma violenta, enquanto estava no chão. A autópsia revelou que tinha vários ferimentos e contusões.

A morte trágica de Zak devastou a família, os amigos e a comunidade de direitos humanos da Grécia. Através de um testemunho comovente, a sua mãe, Eleni Kostopoulos, revela como está a lidar com a perda e a lutar por justiça em nome do filho.

Texto originalmente publicado no HuffPost

 

“O Zak foi o meu primeiro filho. Era um rapaz inteligente e doce que iluminou a minha vida como uma enorme estrela. Enchi-o do meu amor e afeto. Segurava o seu peluche favorito, um macaco, e estava sempre a sorrir.

Enquanto crescia, pude ver claramente como era gentil e bom. Nunca o ouvi dizer uma palavra maldosa a ninguém e entendia os sentimentos das pessoas, simpatizando com elas.

No quinto ano, a professora disse-me que o Zak era o único aluno que tinha ficado amigo de um rapaz estrangeiro que se tinha juntado à turma. Foi desenvolvendo um lado artístico, adorava dançar e eu costumava ouvir a sua voz, a cantar, ao mesmo tempo que batia os pés no chão do quarto.

Quando se tornou adulto, começou a luta. O Zak orgulhava-se de quem era, mas os padrões de algumas pessoas colocavam-no fora da norma. Teve de enfrentar a rejeição, a violência e o preconceito por causa das suas escolhas. Mas decidiu lutar, levantar-se não só por si, mas por todas as pessoas oprimidas. Ouviu as suas histórias, encorajou-os, ajudou-os e foi para as manifestações com eles.

O Zak era uma pessoa generosa e nada egoísta. Partilhou o que tinha com os outros, nunca deixou ninguém para trás, estava lá quando precisavam dele. Ao mundo, anunciou que era seropositivo, expondo-se com o objetivo de ajudar outras pessoas que tinham o mesmo problema. Queria que todos fossem conscientes e educados, para dar-lhes esperança de um futuro melhor.

O pai do Zak dizia-lhe muitas vezes: ‘Não vais mudar o mundo’. Mas tenho a certeza de que o Zak acreditava que poderia fazer isso – ou pelo menos tentar. Devia isso a si mesmo e aos seus semelhantes.

A meio de uma noite, recebemos aquela chamada. Uma chamada que desmoronou, destruiu o meu mundo. O Zak estava morto

Mas, a meio de uma noite, recebemos aquela chamada. Uma chamada que desmoronou, destruiu o meu mundo. O Zak estava morto. Não podia acreditar. Não iria aceitar. Era impossível. Foi horrível. As notícias começaram a chegar com os relatos de um suposto roubo, do vício em drogas, da necessidade de roubar, de uma pessoa diferente. Depois, as fotografias e os vídeos da violência, do ódio, da morte, do homicídio.

Dia após dia, os media e a polícia descreviam o Zak como algo que não era. Porque era fácil de o fazer, era para benefício próprio, era uma forma de encobrir as suas ações. Recusei-me a acreditar em tudo isso. Eu conhecia o meu filho. Nunca magoou ninguém. Também sei que a verdade nunca corre, apenas anda. Quando chegou a hora, todas as mentiras e as falsas acusações desfizeram-se. O mundo inteiro viu quem era o Zak – através das suas ações, dos seus escritos, das suas fotos, dos seus espetáculos.

Fiquei impressionada com o apoio de milhares de pessoas que se reuniram e manifestaram, em toda a Grécia e Europa, para exigir justiça pelo Zak

Durante esse tempo, fiquei impressionada com o apoio de milhares de pessoas que se reuniram e manifestaram, em toda a Grécia e Europa, para exigir justiça pelo Zak. Fiquei espantada com a quantidade de gente que o conheceu, gostava dele e se sensibilizou pela sua personalidade. Fiquei comovida com o amor e o respeito deles, quando partilharam as histórias de como se conheceram ou das coisas que ele tinha feito por eles.

Os dois indivíduos que pontapearam o meu filho até à morte vivem em liberdade. Estão nas suas casas, com as famílias, jantam juntos, riem, continuam as suas vidas. Os polícias suspeitos de estarem envolvidos na morte do Zak também vivem em liberdade. As sanções que receberam ainda não foram aplicadas.

Quanto a mim e à minha família, vamos até uma campa para estar próximo do nosso filho, falamos com ele em sonhos… Temos de andar para a frente, a viver e a enfrentar esta enorme perda.

Agora, a minha família está à espera de justiça, redenção. O nosso dever, como família do Zak, passa por continuar a lutar, para garantir que toda a vida humana seja valorizada e tratada com respeito, e todos paguem pelos seus erros, pelo que fizeram e pelo que não fizeram.

Há uma foto do Zak de braços abertos com uma placa à frente do seu peito que dizia ´abraços grátis’. Aquele é o Zak. Tinha um grande coração, um grande abraço, onde cabia tudo e todos.”

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Justiça para Zak Kostopoulos!

Justiça para Zak Kostopoulos!

Zak Kostopoulos, defensor de direitos LGBTI, morreu na sequência de um violento ataque na Grécia.

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