12 Dezembro 2016

A rápida expansão da produção de óleo de palma, componente de muitos artigos de grande consumo a nível mundial, tem conduzido a extensa desflorestação, à destruição das florestas tropicais e a significativos danos em espécies selvagens. Tem também levado a chocantes abusos de direitos laborais dos trabalhadores, é documentado pela Amnistia Internacional no relatório “The great palm oil scandal: Labour abuses behind big brand names”.

 

 

 

Cinco fatos cruciais sobre o óleo de palma

1. O óleo de palma é usado em metade dos produtos do dia-a-dia

O óleo de palma e outras substâncias derivadas da palmeira encontram-se em aproximadamente 50% dos produtos de venda em supermercado. O óleo de palma é muito procurado porque é barato e versátil. Os óleos produzidos a partir dos frutos da palmeira são transformados em óleos comestíveis usados para cozinhar e em alimentos processados como o chocolate, bolachas e biscoitos e cereais. Também pode ser transformado em ingredientes como a glicerina usada em detergentes para lavar roupa e em produtos de higiene e cosméticos como a pasta de dentes, sabonetes, cremes de duche e champôs.

2. A Indonésia é o maior produtor de óleo de palma no mundo

Com uma produção de 35 milhões de toneladas por ano, a Indonésia é responsável por 45% dos fornecimentos de óleo de palma mundiais. Cerca de três milhões de pessoas trabalham no sector naquele país, correspondendo a pelo menos um terço da força laboral global do óleo de palma. A Indonésia tem, em termos gerais, fortes leis de trabalho, mas uma muito fraca monitorização da aplicação da legislação tem resultado em empresas conseguirem escapar-se à responsabilização nos abusos sistémicos cometidos contra os trabalhadores nas plantações de óleo de palma.

3. O óleo de palma é mais procurado na Índia, na Europa e na China

A procura mundial por óleo de palma está a aumentar rapidamente, com cerca de 61 milhões de toneladas consumidas em 2015. Em 1990, o consumo era de menos de 15 milhões de toneladas. Os maiores importadores de óleo de palma são a Índia, a União Europeia e a China, que, juntos, importaram 20 milhões de toneladas de óleo de palma em 2016.

4. Maior produtor de óleo de palma ligado a abusos dos trabalhadores

A gigante da agroindústria Wilmar, empresa com sede em Singapura, controla mais de 43% do comércio global de óleo de palma. As receitas da Wilmar em 2015 foram de 38,78 mil milhões de dólares (cerca de 36,13 mil milhões de euros). Mas os trabalhadores das plantações da Wilmar e das suas subsidiárias e fornecedoras lutam para conseguirem ganhar o suficiente para sustentar as suas famílias, em casos extremos recebendo apenas 2,50 dólares (cerca de 2,36 euros) por dia. Dados oficiais da Wilmar indicam que a empresa tem cerca de 60 mil trabalhadores na Indonésia e na Malásia.

5. Algumas das maiores marcas do mundo lucram com os abusos

A Amnistia Internacional traçou o percurso do óleo de palma das plantações na Indonésia até nove grandes nomes de marca mundiais, as quais têm uma receita combinada de 325 mil milhões de dólares (cerca de 307,1 mil milhões de euros). Oito destas nove empresas integram a organização autorreguladora que foi criada para assegurar a produção “sustentável” de óleo de palma – aliás, mais de 2000 empresas fazem parte desta Roundtable on Sustainable Palm Oil, criada em 2004 para “limpar” o setor produtor de óleo de palma depois de uma série de escândalos ambientais. Porém, a investigação feita pela Amnistia Internacional demonstra que até produtos que contêm óleo de palma certificado pela Roundtable como “sustentável” podem estar manchados por abusos de direitos humanos.

O que as grandes marcas podem fazer de imediato para pôr fim aos abusos de direitos humanos nas plantações de óleo de palma:

  • Esclarecer os consumidores sobre quais os seus produtos em que é usado óleo de palma proveniente das operações da Wilmar na Indonésia

  • Instar a Wilmar a pôr fim aos abusos dos direitos dos trabalhadores e a melhorar as práticas e condições de trabalho nas plantações

O percurso do óleo de palma até nove grandes nomes de marca mundiais

A Amnistia Internacional investigou e documentou o percurso do óleo de palma produzido em sete plantações até nove marcas mundiais de produtos alimentares e de uso doméstico. Todas estas noves gigantes empresariais foram contactadas pela organização de direitos humanos com uma lista de produtos que contêm óleo de palma, tendo-lhes sido pedido que confirmassem se esses produtos são feitos com óleo de palma da Wilmar vindo da Indonésia.

Colgate-Palmolive

A Colgate usa derivados de palma nos produtos das gamas Oral Care, Personal Care e Home Care. A empresa confirmou ser fornecida por uma refinaria ligada às plantações que a Amnistia Internacional investigou, mas não forneceu informações sobre quais dos seus produtos contêm estes derivados.

A Colgate avançou ainda na sua resposta que a continuação de tais fornecimentos depende de a Wilmar abordar de forma sistemática as questões de direitos humanos detalhados no relatório público da empresa. A Colgate precisou ainda que tem “uma política de não exploração” que requer o compromisso de adesão a todos os seus fornecedores e em todos os níveis do processo de produção e distribuição.

Nestlé

A Nestlé confirmou que usa óleo de palma nos chocolates KitKat e Lion, nos caldos Knorr, nos cereais Cheerios e em vários outros produtos. Mas não explicou à Amnistia Internacional quais dos seus produtos de distribuição mundial têm óleo de palma oriundo das seis refinarias da Wilmar na Indonésia que a fornecem.

Unilever

A Unilever usa óleo de palma ou outros ingredientes com base em palma em produtos como o desodorizante AXE (comercializado também sob o nome de marca Lynx em alguns mercados), em artigos alimentares das marcas Ben and Jerry’s, Bertolli, Birds Eye, Cup a Soup e Knorr, e em artigos de higiene e cosméticos Dove e Vaseline.

A Unilever confirmou que a operação da Wilmar na Indonésia é uma das suas principais fornecedoras de óleo de palma. O ingrediente fornecido pela Wilmar entra na composição de produtos da Unilever desde a gama alimentar aos cuidados da casa e artigos de higiene pessoal. A Unilever não revelou quais das suas marcas usam óleo de palma proveniente das operações da Wilmar na Indonésia.

Procter & Gamble (P&G)

A Procter & Gamble usa óleo de palma em produtos da marca Ariel, Head & Shoulders, Pantene Pro-V, Lenor e Covergirl Bombshell Shineshadow. A P&G confirmou receber óleo de palma da Wilmar e oriundo da Indonésia, mas sustentou que lhe é fornecida apenas uma pequena quantidade de derivados de palma pela Wilmar. A marca não confirmou quais dos seus produtos usam ingredientes com base de palma das operações da Wilmar na Indonésia.

Kellogg’s

A Kellogg’s usa óleo de palma em produtos como os cereais CrunchyNut e nas barritas Pop Tarts e Nutri-Grain. Porém, a marca negou que o óleo de palma contido nestes produtos provenha da Wilmar.

A Kellogg’s confirmou que as batatas fritas Pringles que são vendidas na China são feitas com óleo de palma fornecido pela Wilmar e oriundo de uma refinaria ligada às plantações investigadas pela Amnistia Internacional na Indonésia. As Pringles na China são produzidas pelo consórcio Kellogg’s-Wilmar.

Reckitt Benckiser

A Reckitt Benckiser usa óleo de palma nos produtos Clearasil, Veet e Woolite. A empresa confirmou que a Wilmar é uma das suas cinco principais fornecedoras de óleo de palma e que recebe ingredientes de base de palma oriundos de uma refinaria ligada às plantações investigadas pela Amnistia Internacional.

A Reckitt Benckiser usa óleo de palma fornecido pela Wilmar para produzir sabão em barra, que é vendido por todo o mundo, e uma pequena parte é direcionado para óleos alimentares comercializados nos Estados Unidos. A empresa informou que o sabão que produz é fabricado na Indonésia, na China, nos Emirados Árabes Unidos, no Egito, na África do Sul, na Nigéria, no Sri Lanka, no Bangladesh e na Índia.

AFAMSA

A AFAMSA usa derivados de palma para fabricar rações animais, velas, sabonetes e detergentes. A empresa confirmou que a Wilmar é um dos seus fornecedores de óleo de palma não processado e também de vários derivados. A Amnistia Internacional traçou o percurso do óleo de palma de uma refinaria ligada às plantações investigadas até à AFAMSA.

Archer Daniels Midland Company (ADM)

A ADM usa óleo de palma numa série de óleos comestíveis que são usados na produção de óleos para cozinhar, de margarinas e de outros produtos alimentares.

A empresa confirmou que recebe fornecimentos de óleo de palma pela Wilmar, o qual usa em produções industriais e alimentares. A ADM recebe óleo de palma de moinhos que são abastecidos pelas plantações investigadas pela Amnistia Internacional. A ADM e a Wilmar têm um consórcio chamado Olenex através do qual comercializam óleos e gorduras vegetais refinados para o Espaço Económico Europeu mais a Suíça. A ADM é detentora minoritária (23% do capital) da Wilmar. A empresa não forneceu informação sobre quais os produtos específicos em que é usado o óleo de palma proveniente da Wilmar.

Elevance

A Elevance Renewable Sciences confirmou que tem um consórcio com a Wilmar, cujo equipamento de processamento do óleo de palma está localizado em Gresik, na Indonésia, numa das maiores fábricas da Wilmar, e cujos fornecimentos de óleo de palma são feitos pela Wilmar.

A Amnistia Internacional apurou ainda que são feitas exportações de ingredientes que têm na sua base óleo de palma por este consórcio; o mesmo acontece com uma outra empresa da Wilmar na Indonésia que exporta para a Elevance nos Estados Unidos. A Elevance não prestou informações sobre quais dos seus produtos usam estes ingredientes à base de óleo de palma.

Artigos Relacionados