28 Novembro 2014

 

Milhares de manifestantes pró-democracia são esperados de novo nas ruas de Hong Kong este fim de semana e é urgente que o chefe da polícia da região administrativa deixe já claro que não é permitido qualquer uso arbitrário e excessivo de força por parte dos agentes encarregues do policiamento dos protestos, insta a Amnistia Internacional.

Nos últimos dois dias assistiu-se a fortes operações policiais para dispersar os protestos da zona de Mong Kok, distrito comercial extremamente ativo de Hong Kong, que ficaram marcadas por incidentes de recurso injustificável à força contra manifestantes, transeuntes e jornalistas.

“A abordagem de mão pesada pela polícia viola os direitos dos cidadãos de liberdade de expressão e de reunião pacífica, e ameaça exacerbar uma situação que já está tensa”, frisa a diretora da Amnistia Internacional Hong Kong, Mabel Au. “O comissário de polícia Andy Tsang não pode ignorar o uso de força excessiva pelos agentes que tutela. É imperativo que seja emitida uma mensagem inequívoca do topo da hierarquia de que qualquer polícia que viole os direitos humanos será responsabilizado”, prossegue.

A polícia deteve pelo menos 159 pessoas desde terça-feira, 25 de novembro, por alegadas ofensas cometidas, incluindo reunião não autorizada, obstrução à ação da polícia e desacato aos tribunais.

Os líderes estudantis Joshua Wong e Lester Shum declararam terem sido espancados durante as suas detenções em Mong Kok na quarta-feira, às quais nenhum deles resistiu. Ambos foram libertados sob fiança no dia seguinte.

Os observadores da Amnistia Internacional no terreno testemunharam vários incidentes de agressões da polícia com bastões a transeuntes na quarta-feira à noite e às primeiras horas de quinta-feira. Imagens de vídeo mostradas nos sites de jornais locais, como o Apple Daily e o Mingpao também mostram incidentes similares. Um polícia filmado num daqueles vídeos a agredir um transeunte foi entretanto afastado das operações de dispersão das manifestações.

Imagens transmitidas pelas televisões locais e postadas nas redes sociais mostram manifestantes a serem arrastados para lá das linhas policiais ao serem detidos, rodeados por agentes de tal forma que ninguém consegue ver o que lhes acontece e, em alguns casos, a reemergirem depois com sinais visíveis de agressão.

Polícias escondem números de identificação

Num vídeo postado no Facebook vê-se um polícia a tirar o número de identificação do uniforme de outro agente durante as operações de dispersão das ruas. Os padrões internacionais de conduta policial exigem que todos funcionários das forças de segurança tenham sempre identificações individuais visíveis quando se encontram em serviço. AOs polícias têm também vindo a impedir os jornalistas de reportarem as detenções de manifestantes, foi já confirmado pela Associação de Jornalistas de Hong Kong, como, aliás, é visível em muitas das gravações feitas pelas estações de televisão locais como a NOW TV e a do grupo Apple Daily.

Na noite de quinta-feira, 27 de novembro, Wong Chun-lung, fotógrafo do Apple Daily foi detido sob suspeita de agressão a um polícia e resistência à detenção. Foi libertado na manhã seguinte, declarando então que estava a filmar os protestos quando o detiveram.

“A polícia não só tem de agir em conformidade com a lei mas também tem de ser claramente reconhecida enquanto o está a fazer. A aparente remoção de números de identificação dos agentes e a obstrução a que os jornalistas façam o seu trabalho fazem pensar se a polícia não estará a tentar evitar averiguações à sua conduta”, avança Mabel Au.

No início desta semana, a chefia da polícia em Hong Kong anunciou que sete agentes tinham sido detidos sob suspeitas de agressão ao ativista pró-democracia Ken Tsang, em 15 de outubro, num incidente que foi filmado por um canal de notícias local.

“É encorajante que a polícia de Hong Kong tenha investigado e agido face às provas existentes no caso de Ken Tsang. Infelizmente, em vez de abraçar uma conduta mais transparente, a lição que alguns agentes parecem ter tirado daqui é a de taparem os seus números de identificação e impedirem os jornalistas de reportarem o que se passa nas ruas”, remata a diretora da Amnistia Internacional Hong Kong.

A organização de direitos humanos insta as forças de segurança de Hong Kong a mostrarem contenção nas operações de policiamento das manifestações pró-democracia ao longo destes próximos dias em que são esperados protestos com significativa mobilização.

 

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