8 Julho 2022

Os ataques aéreos das forças russas a um hotel resort e a um edifício civil na cidade costeira de Serhiivka, no Sul da Ucrânia, mataram 21 civis, anunciou a Amnistia Internacional na sequência de uma nova investigação.

Os ataques com mísseis antinavio atingiram a cidade da região de Odessa pouco antes da uma da manhã de 1 de julho, ferindo 35 pessoas, cinco das quais permanecem nos cuidados intensivos.

“Estas poderosas armas foram concebidas para destruir navios de guerra. Dispará-las sobre áreas residenciais é extremamente imprudente”, disse Donatella Rovera, conselheira sénior da equipa de resposta a crises da Amnistia Internacional, acrescentando que o ataque a Serhiivka representa “um total desrespeito dos militares russos pelos civis na Ucrânia”. “Todos os responsáveis por tais crimes de guerra devem enfrentar a justiça pelos seus atos”, evidenciou.

“Todos os responsáveis por tais crimes de guerra devem enfrentar a justiça pelos seus atos”.

Donatella Rivera

A Amnistia Internacional visitou os locais do ataque em Serhiivka e não encontrou provas da presença de soldados ucranianos, armas ou outros alvos militares nas proximidades, com os autarcas locais a revelarem à organização que o ataque foi perpetrado com dois mísseis Kh-22, que têm uma mira concebida para alvejar navios e uma ogiva que pesa mais de 900 kg.


A destruição provocada pelos ataques é evidente (Créditos: Amnistia Internacional)

 

Um especialista em armas da equipa de resposta a crises da Amnistia Internacional encontrou fragmentos dos mísseis no local do ataque, que foram identificados pelos rebites de estilo antigo, utilizados precisamente em mísseis com mais de 50 anos, como os Kh-22.

Um dos princípios fundamentais do Direito Internacional Humanitário (DIH) exige que, num conflito, as partes beligerantes façam a distinção entre civis e objetos civis, por um lado, e militares e objetos do corpo militar, por outro. Os alvos militares podem ser atacados, mas é ilegal atingir civis ou infraestruturas civis. Antes de qualquer ataque, os militares são obrigados a tomar medidas de prevenção para garantirem que não vão atacar civis e objetos de caráter civil.

 

O ataque ao Hotel Godji

Pouco depois da meia-noite do dia 1 de Julho, as forças russas lançaram dois mísseis sobre o Hotel Godji, um resort da cidade costeira de Serhiivka, 80 km a Sudoeste de Odessa. O primeiro míssil atingiu o hotel, matando seis civis. Pouco depois, um segundo míssil caiu sobre um edifício residencial de nove andares, na Rua Budzhaska, matando 15 civis.

Entre os mortos no Hotel Godji estavam Nadiya Rudnitskaya, a gerente do hotel, e o seu filho, Dmytro Rudnitsky, de 12 anos. Olha Ilyashevych, de 30 anos, e a sua mãe, Maria, que tinham fugido de Slovyansk, na região de Donbass, também foram mortas.

Outra das vítimas mortais foi Oleksander Shishkov, de 41 anos, um treinador que vivia em Odessa e que estava hospedado no hotel, por ter vindo acompanhar um jogo de futebol juvenil entre a equipa local e uma equipa da cidade vizinha de Bilhorod-Dnistrovsky, que tinha acontecido no dia anterior.

 

O ataque à zona residencial


Os socorristas evacuam o corpo de uma pessoa de um edifício destruído (Créditos: Oleksander Gimanov/AFP via Getty Images)

 

Entre os mortos no ataque à zona residencial da Rua Budzhaska estava Volodymyr Chulak, um professor de educação física, de 68 anos, a sua esposa Tetiana, uma cozinheira de 64 anos, e o seu filho Mykhaylo, de 35, que vivia em Odessa e estava de visita aos seus pais.

A irmã de Tetiana Chulak, Valentyna, contou à Amnistia Internacional que, após as explosões, se dirigiu ao edifício visado, onde encontrou a sua irmã Tetiana “na sua cama, morta, coberta de escombros”. “Encontrei também o seu marido, Volodymyr, morto na cozinha e o meu sobrinho, Mykhaylo, que estava no terraço e foi diretamente atingido pelo míssil”.

Também foram mortas Halyna Rumashuk, uma rececionista de 50 anos, e o seu marido Serhii, de 48 anos. Tinham sobrevivido ao ataque e conseguiram escapar do edifício, mas regressaram depois para procurar alguns dos seus pertences, quando um muro ruiu, matando os dois.

Roman, de 36 anos, residia no quarto andar do edifício e revelou à Amnistia Internacional que ele e a sua mãe apenas sobreviveram porque, na altura do ataque, se encontravam atrás de uma parede de betão na sua cozinha. Roman tentou salvar a sua vizinha, Proskovia Pavlenko, de 63 anos, que foi encontrada com vários ferimentos, mas acabou por morrer enquanto era ajudada por Roman a abandonar o edifício.


(Créditos: Amnistia Internacional)

 

Natalia Yankovska e o seu parceiro, Maksym Nedomov, morreram devido a ferimentos graves causados pela explosão. Os dois filhos jovens de Natalia, de dez e 14 anos, continuam no hospital, em estado grave.

Oleksander Sribny (47 anos), Tetiana Nesterenko (64), e Vira Maksymenko (71), são também vítimas mortais dos ataques das forças russas.

“Quantos mais civis terão de morrer até haver justiça e responsabilização por estes crimes? As forças russas responsáveis por estas graves violações do Direito Internacional Humanitária têm de ser responsabilizadas pelos seus atos, e as vítimas e as suas famílias devem receber reparações totais”, sublinha Donatella Rovera.

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