25 Novembro 2021

A comunidade internacional deve manter o seu compromisso de apoio aos direitos das mulheres no Afeganistão, referiu a Amnistia Internacional, antes de uma nova campanha que sublinha as conquistas de 16 mulheres afegãs notáveis.

Para marcar os 16 Dias de Ativismo contra a Violência com Base no Género – uma campanha internacional anual que celebra as mulheres que, em cada região do mundo, combatem a discriminação com base no género e defendem os seus direitos – a Amnistia Internacional partilha as histórias de 16 mulheres afegãs inovadoras, que ultrapassaram múltiplas barreiras referentes à participação na vida pública, ao longo das duas últimas décadas. Estas mulheres de diversas esferas públicas, como o direito, a política, o ensino e o jornalismo, contam os seus percursos profissionais, os seus sentimentos pelo regresso dos Talibãs, as suas esperanças, os receios, e as recomendações à comunidade internacional para que continue a apoiar os direitos das mulheres.

“Estas histórias relembram-nos, de forma poderosa e oportuna, do quão longe as mulheres afegãs chegaram nos últimos vinte anos, enfrentando obstáculos aparentemente insuperáveis. Oferecem também uma perceção objetiva da mudança na vida das mulheres e raparigas desde o retorno dos Talibãs”, menciona Samira Hamidi, responsável de campanhas da Amnistia Internacional para o Sul da Ásia.

“É assombroso que, num momento em que o país está a enfrentar uma crise económica e humanitária, estas mulheres estejam a ser banidas da vida pública. Exortamos os Talibãs a respeitar, proteger e cumprir os direitos das mulheres e raparigas. Apelamos à comunidade internacional para que se envolva diretamente com as mulheres afegãs para compreender a sua realidade, ouvir as suas recomendações pragmáticas, e trabalhar com elas para apoiar os seus direitos.”

“É assombroso que, num momento em que o país está a enfrentar uma crise económica e humanitária, estas mulheres estejam a ser banidas da vida pública.”

Samira Hamidi

Desde que assumiram o controlo de Cabul a 15 de agosto de 2021, os Talibãs impuseram sérias restrições às mulheres e raparigas. Com exceção das mulheres profissionais de saúde e outros exemplos isolados, foi dito às mulheres que não poderiam regressar para trabalhar, nem deslocar-se sem o acompanhamento de um Mahram (guardião masculino). A partir de 20 de setembro deste ano, as raparigas acima dos 12 anos de idade (a partir do 6º ano) ficaram impedidas de regressar à escola. Ao mesmo tempo, uma rígida segregação de género nas universidades restringiu fortemente o acesso das mulheres ao ensino superior.

Sediqa Mushtaq, empresária, partilhou à Amnistia Internacional: “Quando ouvi as notícias de que os Talibãs tinham entrado em Cabul, senti como se tivesse caído e partido em pedaços. Foi como passar da luz para uma escuridão sem qualquer luz ao fundo do túnel.”

O impedimento às mulheres de continuarem a trabalhar agravou os problemas económicos para muitas famílias que anteriormente tinham usufruído de rendimentos profissionais estáveis. De modo idêntico, a remoção das mulheres de postos governamentais afetou fortemente a capacidade do Estado para governar. Atualmente, as mulheres enfrentam ainda ameaças crescentes de violência com base no género e severas restrições aos seus direitos à liberdade de reunião e à liberdade de expressão, até mesmo sobre a sua escolha de vestuário.

Fawzia Amini, anteriormente uma magistrada sénior no Supremo Tribunal do Afeganistão, relatou: “Os Talibãs institucionalizaram a discriminação contra as mulheres; estão a negar os nossos direitos fundamentais e querem apagar as mulheres da face da sociedade, tornar-nos a todas prisioneiras nas nossas próprias casas.”

“[Os talibãs] querem apagar as mulheres da face da sociedade, tornar-nos a todas prisioneiras nas nossas próprias casas”

Fawzia Amini

Os direitos das mulheres tinham melhorado significativamente desde a queda do primeiro regime Talibã, em 2001, ainda que permanecesse trabalho a ser feito nesse sentido. Existiam 3.3 milhões de raparigas a ir à escola, e as mulheres participavam ativamente na vida política, económica e social do país. Apesar do conflito ainda presente, as mulheres afegãs tinham-se tornado advogadas, médicas, juízas, professoras, engenheiras, atletas, ativistas, políticas, jornalistas, burocratas, proprietárias de negócios, agentes da polícia e militares.

Zala Zazai, ex-agente policial afirmou: “A comunidade internacional deve pressionar os Talibãs para que garantam os direitos das mulheres, e deve fazer tudo para assegurar que as mulheres são parte do novo governo. Os Talibãs não podem eliminar metade da população do Afeganistão.”

 

Contexto

O relatório, “Elas são a Revolução: Mulheres afegãs lutando pelo seu futuro sob o domínio Talibã”, está disponível aqui.

Os 16 Dias de Ativismo Contra a Violência com Base no Género são uma campanha internacional anual, que tem início no Dia Internacional Para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, 25 de novembro, e decorre até ao Dia dos Direitos Humanos, 10 de dezembro. Oferece uma plataforma para indivíduos e organizações em todo o mundo instem à prevenção e eliminação da violência contra mulheres e raparigas.

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Pelos direitos das mulheres no Afeganistão (petição encerrada)

Pelos direitos das mulheres no Afeganistão (petição encerrada)

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