A Amnistia Internacional – Portugal realizou no Dia Internacional dos Defensores de Direitos Humanos, 9 de dezembro, uma vigília na Praça do Município, em Lisboa, de apoio a todas as pessoas que se manifestam pacificamente no Irão e que continuam a atuar em defesa da liberdade. A ação foi organizada em conjunto com a Kolbeh – Comunidade Iraniana Portuguesa e contou com a presença de cerca de uma centena de pessoas.
Além da contextualização da corrente situação que o país vive, houve espaço para a partilha de palavras de apoio e solidariedade, entoação de músicas iranianas e conhecimento de vários casos de iranianos e iranianas, alguns dos quais perderam a vida apenas por se expressarem e reunirem pacificamente. A praça iluminou-se com a luz das velas, e serenou-se num minuto de silêncio por todas as pessoas que permanecem sob repressão, assédio e que podem vir a ser condenadas à morte. Quem foi, pôde escutar as preocupações e os apelos da Amnistia Internacional e da Comunidade Iraniana portuguesa, nomeadamente, respeitantes à utilização da pena de morte como um instrumento de repressão política.
“A repressão violenta que se sente no Irão, sustentada pela impunidade da atuação das autoridades nacionais, tem culminado em milhares de detenções, mas também no uso da pena de morte como uma ferramenta de silenciamento. Com esta vigília, queremos aplaudir a coragem dos manifestantes que saem à rua no Irão, que arriscam a sua liberdade e a sua vida em prol de um futuro que respeite os direitos humanos, onde a liberdade de expressão e reunião pacífica possa também ser uma realidade. Queremos mostrar que nos mantemos atentos e que seguiremos juntos e comprometidos pela proteção dos direitos humanos no país”, relembra Pedro A. Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional – Portugal.
“A repressão violenta que se sente no Irão, sustentada pela impunidade da atuação das autoridades nacionais, tem culminado em milhares de detenções, mas também no uso da pena de morte como uma ferramenta de silenciamento”
Pedro A. Neto
Esta vigília ocorreu num momento crucial. No dia anterior à sua realização, Mohsen Shekari, um jovem manifestante iraniano, tinha sido executado por se juntar à revolta popular, que ainda se faz sentir por todo o país. A sua sentença de morte foi atribuída num julgamento fraudulento e injusto, o que sustenta a atuação violenta das autoridades e a celeridade que colocam nos procedimentos para a execução de manifestantes.
Autoridades iranianas encobrem mortes de crianças
Desde o início das manifestações, em setembro de 2022, as crianças representam 14% das mortes totais de manifestantes e observadores registadas pela Amnistia Internacional. Das mais de 300 mortes, pelo menos 44 crianças perderam a vida, vítimas de disparos ou espancadas até à morte pelas forças de segurança iranianas. Mais de 60% das crianças mortas eram provenientes das minorias oprimidas Baluchi e curdas do Irão, que há muito sofrem de discriminação e perseguição no país.
Mapa do Irão com as cidades onde foram mortas crianças
Mapa do Irão com as regiões onde foram mortas crianças
Das mais de 300 mortes, pelo menos 44 crianças perderam a vida, vítimas de disparos ou espancadas até à morte pelas forças de segurança iranianas
Das vítimas, 34 crianças morreram após disparos das autoridades no coração, cabeça ou outros órgãos vitais. Cinco (quatro raparigas e um rapaz) foram violentamente agredidos pela polícia e não resistiram aos ferimentos. Uma menina faleceu depois de ter sido atingida na cabeça com uma botija de gás lacrimogéneo.
Retratos das crianças mortas pelas autoridades no Irão
Em muitas situações, as autoridades ameaçam não devolver os corpos das crianças mortas para serem enterradas
Por outro lado, após estas mortes, os seus familiares têm enfrentado detenção arbitrária, intimidação e assédio pelas forças de segurança, numa tentativa de inconcebível crueldade para encobrir estes crimes. Em muitas situações, as autoridades ameaçam não devolver os corpos das crianças mortas para serem enterradas, a menos que as famílias se comprometessem, por escrito, a permanecer em silêncio e a realizar as cerimónias fúnebres cumprindo diversas restrições. Noutros casos, prepararam os corpos das vítimas, negando às famílias o seu direito a cuidar, uma última vez, dos seus entes queridos antes do enterro de acordo com as suas próprias tradições religiosas e culturais. Outras restrições são, por exemplo, obrigarem as famílias a realizar o funeral em aldeias remotas, proibir a palavra mártir e impedir a divulgação da imagem da vítima para os órgãos de comunicação social.