2 Março 2011

A Amnistia Internacional instou as autoridades na Costa do Marfim a protegerem a população numa altura em que dezenas de milhar de pessoas foram obrigadas a fugir de um conflito armado que se intensifica em todo o país.

Os confrontos entre os comandos armados e membros das forças de segurança leais ao Presidente cessante Laurent Gbagbo persistiram durante vários dias na cidade de Abidjan, resultando num grande número de mortos.

“A crise humanitária na Costa do Marfim está a ser exacerbada pelas dezenas de milhar de pessoas que fogem de Abidjan e que precisam de protecção imediata e de assistência”, afirmou Véronique Aubert, Sub-Directora do Programa da Amnistia Internacional para África. 

“Muitos daqueles que foram deslocados pelo confronto, incluindo mulheres e crianças, estão a ter dificuldades em encontrar um abrigo, e alguns estão a dormir ao ar livre”.

Grande parte do confronto em Abidjan tem sido verificado entre as forças de segurança e um grupo armado que se auto-denomina “Comando Invisível” (Invisible Commandos), e que declara estar a lutar de forma independente.

Os residentes do bairro de Abobo, na cidade de Abidjan, relataram à Amnistia Internacional que os confrontos acabaram por deixá-los sem água ou electricidade.

A violência escalou recentemente na Costa do Marfim, após as eleições presidenciais contestadas em Novembro de 2010. O candidato da oposição Alassane Ouattara foi o vencedor internacionalmente reconhecido das eleições, no entanto, o Presidente cessante Gbagbo recusou-se a abandonar o cargo.

Várias pessoas foram também assassinadas por grupos pró-Gbagbo, conhecidos como “Os Jovens Patriotas” (The Young Patriots). No passado Domingo, alguns membros deste grupo queimaram um homem ainda vivo, o qual suspeitavam ser um rebelde, no bairro de Yopougon.

Uma testemunha ocular relatou à Amnistia Internacional que: “Um desconhecido que estava a pedir direcções foi detido por alguns Jovens Patriotas. Não sabia falar Francês e não estava a conseguir fazer-se entender. Eles levaram-no para um pequeno beco, colocaram um pneu à volta do seu pescoço e pegaram-lhe fogo.”

Um outro residente afirmou: “Mal vêem uma pessoa não é conhecida no bairro, os Jovens Patriotas consideram-na de imediato um rebelde.”

“Estes incidentes demonstram que a população foi deixada sem qualquer protecção efectiva – qualquer um pode ser alvo de ambos os lados”, afirmou Véronique Aubert.

Os residentes de Abobo declararam à Amnistia Internacional que esta situação extrema forçou-os a abandonar o bairro.

“Estamos a fugir porque todas as noites ouvimos trocas de tiros, e porque há dois dias que não houve água ou electricidade no nosso bairro – as lojas estão encerradas, não há nada para comer”, afirmou um morador.

Um outro residente forçado a fugir à Amnistia Internacional: “Os corpos das pessoas assassinadas continuam caídos no chão. Ninguém os recolhe e receamos a propagação de doenças devido à decomposição dos corpos.”

Charles Blé Goudé, o Ministro da Juventude nomeado por Laurent Gbagbo e líder dos Jovens Patriotas, apelou à população na semana passada para que bloqueassem a acção das forças de Manutenção da Paz (peacekeepers) das Nações Unidas de circularem pelo país, aumentando a probabilidade de confrontos entre civis e tropas das Nações Unidas.

A missão das Nações Unidas tem sido alvo de ataques e afirmou que três peacekeepers foram feridos mortalmente no passado Domingo, dia 27 Fevereiro, ao serem alvejados enquanto patrulhavam o bairro de Abobo, acusando os apoiantes de Gbagbo de levar a cabo uma emboscada.

Na passada Terça-feira, dia 1 de Março, as Nações Unidas anunciaram que dois funcionários da organização foram raptados e mantidos reféns durante várias horas por Jovens Patriotas, em Abidjan.

Na passada semana, o conflito estendeu-se a outras regiões do país.

A Oeste, os confrontos entre as Novas Forças – que controlam o Norte e parte da região Oeste do país – e as forças pró-Gbagbo obrigaram milhares de pessoas a fugir das suas casas, algumas das quais para a Libéria, país vizinho.

Yamoussoukro, a capital política, foi também atingida pelos confrontos entre as forças de segurança leais a Gbagbo e a juventude pró-Ouattara.

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