16 Março 2018

Graves violações no direito à saúde e dificuldades de acesso a alimentos e a outros bens e serviços essenciais estão a pôr a vida de milhares de pessoas em risco na Venezuela e a fomentar uma crise regional de migração forçada, sustenta a Amnistia Internacional com o lançamento de uma nova plataforma digital em que são documentados casos ao longo de todo o ano de 2018.

“As pessoas na Venezuela estão a fugir de uma situação agonizante que está a transformar condições de saúde tratáveis em casos de vida ou morte. Serviços de saúde essenciais colapsaram e encontrar medicamentos é uma luta constante, no que está a deixar milhares de pessoas sem outra escolha se não a de tentarem obter cuidados de saúde fora do país”, relata a diretora da Amnistia Internacional para as Américas, Erika Guevara-Rosas.

“As pessoas na Venezuela estão a fugir de uma situação agonizante que está a transformar condições de saúde tratáveis em casos de vida ou morte.”

Erika Guevara-Rosas, diretora da Amnistia Internacional para as Américas

A perita da organização de direitos humanos é perentória: “A inação não é uma opção. A comunidade internacional e o Estado venezuelano têm de começar a cooperar imediatamente para neutralizar esta crise explosiva”.

Organizações locais de direitos humanos reportam que a Venezuela está com uma carência de medicamentos e de outros artigos médicos na ordem dos 80% a 90%, que metade dos hospitais do país não estão a funcionar e que se regista uma queda de 50% no número de profissionais clínicos nos centros públicos de saúde que cobrem a prestação de 90% dos serviços de saúde nacionais.

Governo nega existência de crises alimentar e de saúde

O Governo venezuelano nega a existência de crises alimentares e de bens e cuidados de saúde no país e rejeitou repetidamente as ofertas de ajuda e de cooperação feitas pela comunidade internacional.

A Amnistia Internacional exorta o Estado venezuelano a trabalhar com a comunidade internacional, de forma a garantir os recursos financeiros e técnicos precisos para garantir o acesso em tempo oportuno a cuidados de saúde necessários e de qualidade para todos no país.

Ao longo de 2018, a Amnistia Internacional continuará a publicar – na plataforma digital Salida de Emergencia – histórias de pessoas da Venezuela que tentam obter proteção em outros países na região, incluindo grávidas e pessoas com doenças crónicas que saíram da Venezuela em busca de cuidados de saúde.

As autoridades de imigração na Colômbia estimam que o número de pessoas oriundas da Venezuela a entrarem no país subiu para 550 000 no ano passado.

Os serviços de saúde colombianos prestaram tratamentos urgentes a mais de 24 000 venezuelanos em 2017, de acordo com dados do Ministério da Saúde da Colômbia. Hospitais nas cidades colombianas de Maicao e de Cúcuta, junto à fronteira, assistiram em 2017 duas a três vezes mais pessoas da Venezuela do que no ano antecedente.

Centenas de grávidas estão entre a população que atravessa a fronteira para a Colômbia para aceder a cuidados de saúde maternal essenciais, atualmente em falta extrema na Venezuela. Entre 2015 e 2016, os últimos anos em que foi disponibilizada informação oficial pelo Governo, a mortalidade materna na Venezuela subiu em mais de 65% e a mortalidade infantil aumentou em mais de 30%.

“O Governo venezuelano não pode continuar a ignorar esta situação desesperada. Fazê-lo condenará a região a viver uma das mais graves crises de refugiados da sua história”, remata Erika Guevara-Rosas.

  • 842 milhões

    A subnutrição atinge 842 milhões de pessoas.
  • 889 milhões

    Estima-se que 889 milhões de pessoas vivam em bairros de lata até 2020.
  • 61 milhões

    61 milhões de crianças (principalmente meninas) não têm acesso à educação.
  • 8,1 milhões

    8,1 milhões de crianças morreram antes dos cinco anos de idade, na maioria devido a causas que se podiam prevenir e de doenças curáveis.

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