- Julho de 2023 foi o mês mais quente de que há registo a nível mundial
- Entre janeiro e junho de 2023, são já 66.216 os hectares ardidos em Espanha
- Calor extremo associado a lesões renais agudas, acidentes vasculares cerebrais, efeitos adversos na gravidez, impacto na saúde mental e agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias
A Amnistia Internacional volta a alertar para o impacto das alterações climáticas sobre os direitos humanos que, por todo o mundo, tem ameaçado a subsistência, habitação e vida de demasiadas populações. Julho de 2023 foi o mês mais quente de que há registo a nível mundial, com uma média de mais de 1.5ºC acima da era pré-industrial.
Em Espanha, os últimos meses mostraram a evidência do impacto das alterações climáticas que, sobre a forma detemperaturas extremas, têm colocado em perigo a saúde e a vida de milhares de pessoas. A zona mediterrânica é a região que está a aquecer mais rapidamente.
De acordo com os dados do programa Copernicus da União Europeia, dedicado à monitorização ambiental, entre maio e outubro de 2022, algumas zonas de Espanha atingiram temperaturas até 8ºC acima da média. Durante a última vaga de calor deste verão, mais de 140 estações da Agência Meteorológica Espanhola registaram temperaturas superiores a 40ºC num único dia.
Durante a última vaga de calor deste verão, mais de 140 estações da Agência Meteorológica Espanhola registaram temperaturas superiores a 40ºC num único dia
Por sua vez, em território espanhol, mais de 300.000 hectares arderam em 493 incêndios em 2022, uma área três vezes superior à do ano 2021. Este ano, entre janeiro e junho de 2023, são já 66.216 os hectares ardidos, que correspondem a 324 incêndios.
“O recente recorde de 45.4ºC em Figueras (a temperatura mais alta jamais registada na Catalunha) e o aumento da capacidade destrutiva dos incêndios no Mediterrâneo devem servir de alerta para a gravidade da situação. O impacto das alterações climáticas é real e temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar a propagação deste processo de autodestruição”, refe Marta Mendiola, investigadora da Amnistia Internacional.
Uma ameaça mortal
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem vindo a acautelar que as alterações climáticas são a maior ameaça para a saúde que a humanidade enfrenta. Um relatório recente publicado na prestigiada revista The Lancet refere que o calor extremo está associado a lesões renais agudas, acidentes vasculares cerebrais, efeitos adversos na gravidez, impacto na saúde mental e agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias.
Em Espanha, o número de mortes em excesso devido a causas atribuíveis a temperaturas extremas foi de 4.813, entre junho e setembro de 2022. As Comunidades Autónomas com mais mortes registadas devido a este fator foram Madrid (1.301), Castela e Leão (579), Catalunha (578) e Andaluzia (439). Além disso, a Agência Europeia do Ambiente calcula que as mortes prematuras no país imputáveis à poluição por partículas finas, especificamente à exposição a partículas finas (PM2.5), ozono (O3) e dióxido de azoto (NO2), ultrapassem o valor de 30.000 por ano.
Em Espanha, o número de mortes em excesso devido a causas atribuíveis a temperaturas extremas foi de foi de 4.813, entre junho e setembro de 2022
A Amnistia Internacional salienta que o aumento das temperaturas é particularmente sentido pelos idosos, mulheres grávidas e pessoas que fazem trabalho físico ao ar livre, destacando com preocupação a situação das pessoas que vivem em habitações precárias ou que sofrem de pobreza energética. Em Espanha, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de 10% da população tem um consumo de energia muito inferior à média nacional. Uma em cada cinco pessoas vive em casas com problemas estruturais que as podem impedir de manter uma temperatura interior adequada.
Amnistia Internacional preocupada com a situação das pessoas que vivem em habitações precárias ou que sofrem de pobreza energética
Políticas de grande alcance
As alterações climáticas são a maior ameaça intergeracional aos direitos humanos da história, pelo que a Amnistia Internacional apela ao novo governo que se formará em Espanha para que estabeleça um objetivo de redução de 55% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 (em comparação com os atuais 23% e os 32% previstos no projeto de Plano Nacional Integrado de Energia e Clima). A organização sublinha ainda a necessidade de serem eliminados todos os subsídios aos combustíveis fósseis e introduzidas medidas que garantam a proteção da saúde dos grupos mais vulneráveis às ondas de calor.
“É alarmante ouvir declarações de responsáveis políticos que negam a gravidade do problema ou que adiam as medidas necessárias para o resolver. É tempo de adotar políticas de grande alcance por parte de todas as administrações públicas para que a Espanha faça parte da mudança de rumo global. Só assim será possível inverter a catástrofe”, esclarece Marta Mendiola.
“É alarmante ouvir declarações de responsáveis políticos que negam a gravidade do problema ou que adiam as medidas necessárias para o resolver”
Marta Mendiola
Por último, a Amnistia Internacional recorda que, face aos problemas de saúde causados pelas alterações climáticas e pela poluição, é necessário aumentar o investimento no sistema nacional de saúde, garantindo que 25% da despesa total com a saúde seja dedicada aos cuidados primários, que é onde 70% das necessidades de saúde da população são tratadas.