19 Abril 2019

Já começou a tão esperada oitava temporada de Guerra dos Tronos. A série choca os espetadores e gera polémica com violência explícita, principalmente contra as mulheres. No entanto, muitos aspetos da vida real, hoje, são piores do que o mítico mundo de Westeros.

 

[SPOILER ALERT: revela partes da trama até à segunda temporada]

 

1. EXECUÇÕES

A Guerra dos Tronos começa com Ned Stark, Lorde de Winterfell e Guardião do Norte, a executar um desertor. Como ninguém está a salvo, também ele acaba decapitado pelo déspota Rei Joffrey, sete episódios depois.

© Ned Stark prepare-se para uma execução. A decapitação continua a ser usada na Arábia Saudita. © HBO / Sky Atlantic

Apesar de ser palco de várias atrocidades, Westeros não é nada em comparação com as 690 execuções que a Amnistia Internacional reportou, em todo o mundo, em 2018. O número exclui os milhares de execuções que se estima terem sido realizadas na China.

Os métodos de morte incluem injeção letal e enforcamento. Na Arábia Saudita, ainda é utilizada a decapitação.

Leia o relatório da Amnistia Internacional sobre a situação da pena de morte em 2018 aqui.

 

2. TORTURA

Os exemplos de práticas cruéis, desumanas ou degradantes da Guerra dos Tronos poderiam ter sido inspirados pela vida real. Em 2019, a Amnistia Internacional documentou várias práticas de tortura que nos lembram as cenas de Theon Greyjoy durante a segunda temporada: agressão e violação sexual (Líbia), adolescentes forçados a cânticos (Venezuela) ou choques elétricos nos órgãos sexuais de crianças (Egito). Este mês, entraram em vigor punições cruéis e desumanas, como a morte por apedrejamento por atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo e amputação por roubo, no Brunei.

Esfolar os inimigos ainda vivos é uma prática dos Bolton. Na Arábia Saudita, o blogger Raif Badawi foi condenado a uma pena de prisão e a levar mil chicotadas. © HBO / Sky Atlantic

A Amnistia Internacional tem reportado casos de tortura e outros maus-tratos em todo o mundo, desde espancamentos e violações sexuais até ao uso de cães para intimidar as vítimas.

Saiba mais sobre a campanha que visa pôr fim à Tortura.

 

3. CASAMENTOS FORÇADOS e outras formas de VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

A Guerra dos Tronos tem recebido críticas pela representação que faz das mulheres.  Na série, são violadas, forçadas à escravidão sexual ou submetidas a outros tipos de violência de género. Algumas das protagonistas foram vendidas ou forçadas a casar. No primeiro episódio, o irmão de Daenerys Targaryen obriga-a a um casamento para promover as suas ambições.

As mulheres na série Guerra dos Tronos raramente podem escolher com quem casar, uma situação demasiado comum para muitas outras no mundo real. © HBO / Sky Atlantic

Atualmente, os direitos das mulheres até podem ficar melhor na fotografia, mas os abusos continuam. Um relatório Amnistia Internacional sobre a República Dominicana, revelado em março, indica que a política nacional recorre à violação sexual e comete outras formas de tortura para punir as mulheres profissionais do sexo. No Irão, vigilantes pró-governo atacaram mulheres por se afirmarem contra as leis que obrigam a utilização do hijab.

Não sabemos a verdadeira escala dos casamentos forçados, mas a organização GirlsNotBrides indica que 650 milhões de mulheres, ainda hoje vivas, casaram-se antes de fazer 18 anos.

O Burkina Faso é um dos países onde o casamento forçado continua a ser uma realidade. Em outubro de 2018, a Amnistia Internacional revelou que mais de metade das jovens do país casaram-se quando ainda eram menores. No relatório produzido constava ainda que, em apenas um mês, 48 meninas sofreram complicações médicas após terem sido alvo de práticas de mutilação genital feminina.

Mas as mulheres e meninas de Westeros e de todo o mundo estão a reagir. O movimento #MeToo provocou ondas que foram além de Los Angeles. Em fevereiro, a Amnistia Internacional mostrou a história de três mulheres nepalesas que assumiram uma voz contra a violência sexual no país.

 

4. VIGILÂNCIA

Ninguém está a salvo quando abre a boca em King’s Landing. Espiões a soldo dos mestres da manipulação “Littlefinger” ou Varys contam-lhes tudo sobre a vida na capital.

Com personagens como “Littlefinger” e os seus informadores por toda a parte, não há muitos segredos na Guerra dos Tronos. © HBO / Sky Atlantic

Hoje, já não existem estes “passarinhos” porque os Estados podem ter programas de vigilância em massa das comunicações online e móveis.

O plano projetado pela Google para apoiar a censura na China – designado com o nome de código “Dragonfly” – permitiria que o governo de Pequim espionasse os utilizadores da plataforma. A empresa recuou publicamente em dezembro de 2018, mas o projeto ainda não foi de todo descartado.

Um relatório da Amnistia Internacional sobre os métodos de vigilância dos defensores dos direitos humanos no Paquistão revelou que a sociedade civil está a ser atacada por uma campanha digital maliciosa. Os ativistas foram alvo de mensagens personalizadas que, assim que fossem abertas, poderiam infetar dispositivos com malware ou direcioná-los para páginas falsas criadas para roubar senhas de plataformas como o Facebook.

 

5. ARMAS QUÍMICAS E OUTROS CRIMES DE GUERRA

O mundo medieval da Guerra dos Tronos é uma zona de guerra brutal com ataques a civis, armas químicas, como o “fogo vivo”, e exércitos de escravos compostos por crianças raptadas. Já para não falar dos dragões!

Com personagens como “Greyworm, líder do exército de crianças chamado de “Unsullied”. © HBO / Sky Atlantic

A Amnistia Internacional não tem conhecimento do uso de dragões, mas documentou crimes de guerra. No ano passado, foi possível constatar o uso de armas químicas pelo governo sírio, através de um ataque com gás de cloro, na cidade de Saraqeb. Onze pessoas necessitaram de tratamentos médicos de urgência, de acordo com depoimentos recolhidos pela Amnistia Internacional.

 

Não deixe que a realidade entre em competição com a série Guerra dos Tronos pelas piores razões, como a violência e a crueldade. Envolva-se e defenda os direitos humanos em todo o mundo!

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