15 Julho 2019

Há uma nova campanha contra as defensoras dos direitos das mulheres no Irão. Quem ousa questionar o uso do véu (hijab) está a ser detida e confinada ao isolamento na prisão, ao mesmo tempo que a família é ameaçada. Depois, os serviços de informação e segurança do país produzem vídeos de propaganda onde colocam as “arrependidas” que afirmam ter sido incitadas por forças estrangeiras.

“Estas mulheres nem deveriam ter sido detidas. É escandaloso que, agora, estejam a sofrer tortura ou outros maus-tratos para serem obrigadas a participar em vídeos de propaganda do Estado em que ‘confessam’ a sua ‘culpa’”

Philip Luther, diretor de Investigação e Advocacia para a região do Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional

“As autoridades iranianas estão a usar táticas cruéis para desacreditar as ativistas que fazem campanha contra o uso forçado do véu, dissuadir outras de se unirem ao movimento e incutir medo na sociedade”, afirma o diretor de Investigação e Advocacia para a região do Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional, Philip Luther.

Desde abril, a Amnistia Internacional identificou, pelo menos, seis casos que correspondem a este padrão. Além de terem de mostrar arrependimento, as defensoras dos direitos das mulheres visadas são obrigadas a denunciar a campanha White Wednesdays e a admitir que foram incitadas por “agentes contrarrevolucionários” instalados fora do Irão.

“Em primeiro lugar, estas mulheres nem deveriam ter sido detidas. É escandaloso que, agora, estejam a sofrer tortura ou outros maus-tratos para serem obrigadas a participar em vídeos de propaganda do Estado em que ‘confessam’ a sua ‘culpa’ e renunciam à campanha contra o uso forçado do véu. As autoridades devem libertá-las, imediatamente e de forma incondicional, suspender todas as acusações e deixar de transmitir as confissões forçadas nos meios de comunicação estatais”, complementa o mesmo responsável.

O caso mais recente documentado é o de Saba Kordafshari. A jovem, de 22 anos, foi detida a 1 de junho e, de acordo com a sua mãe, esteve em regime de solitária durante 11 dias, na prisão de Vozara, em Teerão. Depois, foi transferida para Shahr-e Ray.

Durante o período em que não teve qualquer contacto humano, recebeu constantes pedidos, sob a forma de coação, para denunciar a campanha White Wednesdaysi, através de uma gravação em vídeo. No dia 10 de julho, a mãe, Raheleh Ahmadi, acabou por ser detida.

“As autoridades não conseguem dissimular a verdade de que as mulheres no Irão defendem, progressivamente, o seu direito de escolher usar ou não um véu na cabeça”

Philip Luther, diretor de Investigação e Advocacia para a região do Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional

Outro caso envolveu Yasaman Aryani, de 24 anos, que foi detida pelas forças de segurança no dia 10 de abril. A mãe, Monireh Arabshahi, teve o mesmo destino, já que questionou as autoridades sobre o paradeiro da filha, encarcerada em Vozara.

A Amnistia Internacional sabe que Yasaman Aryani foi ameaçada com a prisão do seu irmão mais novo, caso não colaborasse com a gravação de um vídeo em que mostrasse arrependimento. Aos abusos durante a detenção seguiram-se insultos.

O drama de Yasaman Aryani e Monireh Arabshahi não ficou por aqui. No dia 18 de abril, foram retiradas de Vozara, colocadas numa carrinha e levadas para um local não identificado em Teerão, sem receberem qualquer explicação. Aí, foram confrontadas com uma equipa de filmagem que realizou um vídeo.

Em março de 2019, foi a vez de Zarrin Badpa ser interrogada pelas autoridades iranianas. A mãe da jornalista e fundadora da campanha White Wednesdays, Masih Alinejad, esteve a ser ouvida e filmada sobre as atividades da filha durante duas horas. A Amnistia Internacional está preocupada com o facto de as declarações, proferidas sob coação, poderem ser usadas como propaganda.

“Ao recorrer a táticas grosseiras, as autoridades não conseguem dissimular a verdade de que as mulheres no Irão defendem, progressivamente, o seu direito de escolher usar ou não um véu na cabeça em público”, enfatiza Philip Luther.

O que são as White Wednesdays

A campanha White Wednesdays é uma plataforma online em que as mulheres partilham vídeos onde aparecem sem véu e expressam oposição à sua utilização. Se forem identificadas, a legislação do Irão prevê penas de prisão, chicoteamentos ou o pagamento de multas.

Atualmente, temos conhecimento da detenção ou prisão de oito mulheres relacionadas com as White Wednesdays: Yasaman Aryani e a mãe, Monireh Arabshahi; Saba Kordafshari e a mãe, Raheleh Ahmadi; Mojgan Keshavarz; Fereshteh Didani; e outras duas que a Amnistia Internacional ainda não conseguiu identificar os nomes.

Sobre elas recaem acusações de “incitar e facilitar a corrupção e a prostituição”, “disseminar propaganda contra o sistema” e “conspirar para cometer crimes contra a segurança nacional”.

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