12 Agosto 2018

Desde a violência causada pelas armas à brutalidade policial e até à violência sexual e perseguição, os jovens – em toda a sua diversidade – vivem duras realidades por todo o mundo. E, mesmo assim, numa nova vaga de ativismo de direitos humanos, jovens pioneiros estão a revelar-se à altura dos desafios, agindo e exortando à mudança, enquanto prosseguem os estudos, terminam os cursos nas universidades e trabalham. Estes são alguns dos ativistas que lideram, já e agora, a luta pelos direitos humanos à volta do globo. Contam as suas histórias na primeira pessoa, marcando o Dia Internacional da Juventude, 12 de agosto.

 

EUROPA

“Podemos mudar a forma como alguém vê o mundo”, Mariana Rodrigues, 22 anos, Portugal

O meu pai é um pouco revolucionário. Ensinou-me a pensar fora da caixa, por isso, quando vejo algo que quero mudar, ajo nesse sentido. Todo o meu ativismo assenta nisso.

Quando fui para a universidade, fui abordada por um recrutador da Amnistia Internacional. O trabalho que a organização faz é tão inspirador que decidi tornar-me eu mesma recrutadora do projeto Face to Face após terminar a licenciatura.

Esta abordagem dá a oportunidade de mudar a forma como as pessoas pensam e de as consciencializar sobre o que se passa no mundo. Já falei com muitas pessoas que tinham opiniões diferentes sobre refugiados. Depois de conversarmos, perceberam a importância de os acolher em Portugal. Isto mostra bem como a maior parte dos problemas no mundo se devem a falta de informação. É possível vencer o ódio.

É possível mudar a forma como alguém olha para o mundo e para a Amnistia, tal como o meu projeto de roupa sustentável também constitui uma forma de o fazer. E é incrível fazer parte de uma rede de jovens que oferece a oportunidade de conhecer ativistas de todas as partes do mundo.

Inspiram-me… as pessoas que continuam a fazer-se ouvir em lugares onde é muito difícil fazê-lo.

 

AMÉRICAS

“A única forma de curar era agir”, Jaclyn Corin, 17 anos, Estados Unidos da América

Nunca imaginei que pudesse acontecer-me a mim. Parkland era tida como a comunidade mais segura em toda a Flórida, mas quando a tragédia nos atingiu e o tiroteio desenfreado aconteceu na escola, senti que a única forma de curar era agir.

Quando me juntei com os meus amigos, não tínhamos um plano. Começámos a trabalhar, literalmente, no chão da sala de estar. Sermos jovens funcionou a nosso favor. Não éramos adultos a tentar adivinhar o que faria sentido para jovens e não estávamos a pedir autorização a ninguém para o fazer. Outros jovens por todo o país viram o que estávamos a fazer e sentiram que também podiam fazê-lo.

Sobreviver a um tiroteio mortal numa escola fazia com que as pessoas nos ouvissem. Nós estávamos zangados e fizemo-nos ouvir bem alto. A reação àquilo que nos aconteceu permitiu construirmos o nosso movimento bastante mais depressa do que podíamos ter imaginado. É maravilhoso ver o impacto que estamos a ter, mas temos também algum sentimento de culpa porque tudo isto emergiu de algo profundamente horrível.

Criámos o movimento March For Our Lives porque os nossos amigos que foram mortos quereriam que agíssemos. É por eles que o fazemos.

Inspiram-me… os miúdos que estão a fazer algo para mudar as coisas: a rapariga que se candidata ao Conselho Escolar ou os que participam nas March For Our Lives. São as pessoas e o momento presente que me inspiram.

(Twitter: @JaclynCorin)

 

“A violência na minha comunidade tem de acabar”, Raull Santiago, 29 anos, Brasil

Há dois lados na vida da favela. Por um lado, existe um fortíssimo sentido de comunidade. Pelo outro existe violência policial, alimentada por desigualdades e racismo. Todos os dias, há pessoas que são violentamente mortas devido à cor da sua pele.

Já vi muita violência na minha vida, com muita gente jovem a ser presa ou assassinada. Outros veem-se obrigados a entrar no mundo do crime para conseguirem sobreviver. No Brasil há um discurso nacional sobre o problema das drogas e como as autoridades decidiram combatê-lo com violência. Na minha comunidade, foram assassinadas 12 pessoas nos últimos dois meses.

Não quero ficar de braços cruzados e em silêncio. Como ativista de direitos humanos, estou determinado a fazer campanha contra a ‘guerra às drogas’ e reivindicar pelo fim da violência na minha comunidade. Fazemos manifestações e teatro de rua para fazer passar a nossa mensagem. Acredito firmemente que estas pequenas ações vão fazer a nossa mensagem chegar à população em geral.

As pessoas costumavam ficar caladas quando alguém era morto, mas isso já não é assim. Todos os dias, lutamos pelas nossas vidas. É uma realidade violenta. Tenho uma tatuagem que diz “Acredita”. E apesar de ser difícil ter fé, a minha tatuagem ajuda-me a lembrar que já chegámos muito longe.

Inspiram-me… as pessoas simples e práticas, como a minha mãe, o meu pai e os meus amigos. Eles vivem esta realidade, e continuam a lutar para tornar as coisas melhores. Apesar das dificuldades, eles sorriem. Isso é muito inspirador.

(Twitter: @raullsantiago)

ÁFRICA

“Ver as pessoas a agirem faz-nos sentir bem”, Haafizah Bhamjee, 22 anos, África do Sul

A pobreza na menstruação é uma realidade, especialmente nas universidades. Nem sequer se pode falar abertamente sobre o período, tanto menos sobre se temos o dinheiro necessário para comprar os produtos higiénicos – por isso, as raparigas sofrem em silêncio. É desumanizante.

Junto com amigas estamos a tentar mudar esta situação, com a campanha #WorthBleedingFor. A maior parte das pessoas pensa que a universidade é um luxo dos ricos, mas não é verdade. Pobres também vão para a universidade. Alguns estudantes dormem na biblioteca, outros fazem fila para receber pacotes de mercearias, e a dificuldade de arranjar pensos higiénicos é um problema muito real. Estamos a fazer pressão para que as universidades instalem máquinas distribuidoras de pensos higiénicos nas casas de banho, contactámos os governos locais para que forneçam pensos gratuitos às raparigas nas escolas e encorajamos as jovens a contarem as suas experiências.

Ver as pessoas a agirem faz-nos sentir bem. A mudança é gradual, mas entusiasmante. Recentemente, um grupo de jovens fez um vídeo sobre a campanha #WorthBleedingFor, mostrando o nosso trabalho. Saber que chegámos a elas e que tivemos este impacto é fantástico.

Inspira-me… Winnie Mandela. Ela era destemida, determinada e nunca deixou de fazer campanhas.

(Twitter: @FizzerBlack)

 

“O ativismo de direitos humanos salvou-me”, Sandra Mwarania, 28 anos, Quénia

Costumava pensar que o trabalho de defesa de direitos humanos era algo só para profissionais com fortíssimos conhecimentos jurídicos. Mas não é.

Nas universidades é ignorado o que os estudantes têm para dizer. Quando eu estava a estudar, defendi que os alunos tivessem uma voz ativa e poderosa sobre os assuntos que lhes importavam. Fazer campanha por direitos dos jovens foi divertido e inspirador. Como jovem, eu queria fazer campanha por mudanças positivas.

Nós vamos para a universidade para construirmos percursos de carreira bem-sucedidos. Porém, os estudantes são confrontados com a dura realidade do desemprego, da corrupção, da discriminação e uma panóplia de outras injustiças. Passei por isso mesmo quando sai da universidade e em vez de ceder ao desalento decidi ser voluntária em iniciativas de justiça social.

Tenho 28 anos e estou há um ano no meu primeiro emprego estável. Agora tenho um emprego e sinto que há que o agarrar bem e sinto-me grata por aquilo que faço complementar o meu trabalho de voluntariado. De certa forma, o ativismo de direitos humanos salvou-me.

Ver o impacto que o meu trabalho tem dá-me ânimo e encoraja-me a continuar. Se alguém tenta deitar-me abaixo, sorrio e ignoro. Sei a minha história e sei onde quero chegar.

Inspira-me… o diretor da Amnistia Internacional Quénia, Irũngũ Houghton. Desde que ele se juntou à equipa este ano, a minha ética de trabalho mudou. Ele está constantemente a ensinar-me a desafiar-me a mim mesma tanto como defensora de direitos humanos como líder jovem.

 (Twitter: @SMwarania)

ÁSIA

“Trabalhando juntos podemos inspirar-nos uns aos outros”, Kania Mamonto, 25 anos, Indonésia

Pelo menos meio milhão de pessoas foram massacradas na tragédia de 1965 na Indonésia e o meu trabalho é documentar as histórias de pessoas que sobreviveram. Organizo grupos comunitários de sobreviventes e colmato o fosso entre gerações. É muito importante que os jovens compreendam o passado do nosso país. Como ativista de direitos humanos, não quer ver injustiças. Quero trabalhar com outras pessoas, partilhar conhecimento e agir, mas ser ativista de direitos humanos na Indonésia não é fácil.

Em abril passado, estive envolvida num evento cultural junto com numerosos outros defensores de direitos humanos. Fui Mestre de Cerimónias. Um grupo violento barricou-nos e impediu-nos de sairmos do edifício durante oito horas. Foi aterrador. Mais de 200 pessoas ali cercadas, incluindo crianças.

[Os atacantes] lançaram pedras para partir os vidros, houve disparos contra nós e vimo-nos em risco de sofrer agressões físicas. Depois de finalmente nos deixarem sair livremente, a minha cara estava por todo o lado nas notícias.

Este incidente foi profundamente traumatizante. Trabalho afincadamente para que a mudança seja uma realidade, mas não é assim que isto é visto. Tive de aprender a lidar com o que aconteceu e quero educar as pessoas sobre o meu trabalho. E se as pessoas tiverem problemas com isso, quero que falem comigo e que tenhamos uma conversa aberta. Defender aquilo em que acreditamos não faz de nós uma má pessoa. O que queremos é justiça e igualdade.

Através da Amnistia Internacional, conheci e trabalhei com outros defensores de direitos humanos de toda a Ásia e é bom sentirmo-nos parte de uma rede global. É uma oportunidade de partilhar o trabalho que fazemos assim como os problemas com que somos confrontados e aquilo que aprendemos com eles. Trabalhando juntos podemos inspirar-nos uns aos outros.

Inspira-me… o ativista indonésio Munir [Said Thalib]. Ele é muito inspirador, corajoso e dizia sempre a verdade. Ele estava do lado das pessoas.

(Twitter: @Kanimonster)

 

“Quando falo, sinto que tenho poder”, Manu Gaspar, 23 anos, Filipinas

Quando falo, sinto que tenho poder. Fazer-me ouvir foi algo com que me debati ao crescer- Disse aos meus pais que sou homossexual aos 19 anos. Comparando com alguns amigos que se assumiram, tenho sorte pois ainda me é possível viver na minha casa.

Nem sempre é fácil, porém. Os meus pais não aprovam a minha sexualidade e é difícil chegarmos a entendimento. A maior parte das vezes quando chego a casa nem falo com ninguém.

Encontrei esperança no ativismo de direitos humanos. Quando falo de assuntos que me apaixonam sinto-me valorizado, como estando a fazer a diferença.

O ativismo jovem de direitos humanos desempenha um papel enorme na minha vida. A par do que faço no Fundo de População das Nações Unidas, integro também o Coletivo Jovem da Amnistia Internacional. Há tantos jovens que enfrentam as mesmas dificuldades e esta é uma oportunidade de partilhar a minha história com outros e dizer-lhes que as coisas melhoram – e que assim que isso acontece, é nossa responsabilidade garantir que outros homossexuais, em todos os lugares, gozam a liberdade tal como nós.

O processo de nos conhecermos a nós mesmos é demorado, mas ajuda quando encontramos pessoas com as quais queremos falar; tornam-se na nossa família escolhida. Quando encontramos esse grupo começamos a ver as coisas de uma perspetiva diferente e sentimo-nos muito mais valorizados.

Inspira-me… a comunidade LGBTI. Há muitas pessoas que passaram por situações muito mais difíceis e eu não poderia de ser eu mesmo se não fossem elas.

(Twitter: @mnugaspar)

 

MÉDIO ORIENTE E NORTE DE ÁFRICA

“As pessoas deviam ser tolerantes e ter a cabeça aberta”, Amal Agourram, 21 anos, Marrocos

Os direitos das mulheres são violados todos os dias em Marrocos. Conheço pessoas que foram perseguidas e atacadas, pessoas cujo direito de liberdade de expressão foi violado e também quem enfrente julgamentos injustos. É isto que me faz querer lutar pelos direitos humanos.

Após me ter licenciado, comecei a trabalhar na Amnistia Internacional a nível local nas campanhas globais BRAVE e Eu Acolho.

O meu objetivo é criar um ambiente em que as pessoas sejam tolerantes, tenham a cabeça aberta e onde se entenda o que são direitos humanos. Com a campanha Eu Acolho, encorajo as pessoas a verem para lá do rótulo de refugiado e a ouvirem as histórias que estão por trás.

Trabalho sobretudo com outros jovens nestas campanhas. É uma oportunidade de conhecer pessoas que tiveram experiências semelhantes. Os jovens dizem-me que, ao envolverem-se, se sentem muito menos sós, que sentem fazer parte de algo importante. Muitos de nós também usamos as capacidades que adquirimos para ensinar dentro das nossas próprias casas, sobre assuntos como os direitos das mulheres.

Estou sempre a pensar em formas com as quais possa fazer as coisas mudarem e ter impacto. Para mim, é uma ocupação dos meus tempos livres. Mesmo quando os meus pais me dizem para abrandar e descansar, explico-lhes que promover a importância dos direitos humanos me faz bem, me faz sentir bem!

Inspira-me… Nelson Mandela. Inspira-nos a todos. E também procuro inspiração nas pessoas da minha cidade. Elas motivam-me a fazer a diferença.

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BRAVE – A nossa coragem por todos os defensores de direitos humanos! (Petição encerrada)

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