Chow Hang-tung foi uma estudante brilhante na universidade e poderia ter escolhido seguir qualquer percurso profissional que quisesse. Optou por dedicar a sua vida a proteger os direitos de cada um e a exercer profissionalmente enquanto advogada de direitos humanos e dos direitos laborais na China. Foi também vice-presidente da Aliança de Hong Kong de Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos da China (a Aliança de Hong Kong), a organização responsável, desde 1990, pela vigília anual que relembra o massacre de Tiananmen de 1989 (no dia 4 de junho de 1989, centenas, possivelmente milhares, de pessoas foram mortas nas ruas em redor da Praça de Tiananmen, em Pequim, quando as forças chinesas dispararam contra os manifestantes pacíficos que exigiam reformas socioeconómicas).
Em 2020 e 2021, as autoridades de Hong Kong proibiram a vigília, alegando razões de proteção da saúde pública, no âmbito da pandemia da COVID-19. Nesse sentido, no dia 4 de junho de 2021, Chow incentivou as pessoas a juntarem-se nas redes sociais para assinalarem a data do massacre, acendendo velas. Foi detida nesse mesmo dia por “promover ou publicitar uma reunião não autorizada”.
A 13 de dezembro de 2021 foi condenada a 12 meses de prisão pela participação na vigília que foi organizada em 2020 para assinalar a repressão de Tiananmen. E a 4 de janeiro de 2022, foi condenada a 15 meses de prisão numa segunda condenação sob a acusação de “incitar outros a participar numa reunião não autorizada”.Mas, mesmo perante tudo isto, a coragem de Chow prevalece: “dizer que não tenho medo seria uma mentira, mas o que tenho não me impede de agir”.
Assine em defesa de Chow Hang-tun e apele à sua libertação imediata ao secretário da Justiça em Hong Kong.
Todas as assinaturas serão enviadas pela Amnistia Internacional.
ALGUMAS NOTAS:
O MASSACRE DE TIANANMEN
Em abril de 1989, vários estudantes universitários de Pequim reuniram-se pacificamente para lamentar a morte do antigo dirigente do Partido Comunista Hu Yaobang, exigindo também o fim da corrupção por parte dos funcionários do partido e várias reformas políticas e económicas. Estas reivindicações rapidamente atraíram apoio público, desencadeando manifestações pacíficas por toda a China, nomeadamente a ocupação pacífica da Praça da Paz Celestial (ou de Tiananmen). Ao longo dos dias seguintes autoridades não conseguiram persuadir os manifestantes a voltar para casa e, a 20 de maio de 1989, instauraram a lei marcial.
Na noite de 3 de junho de 1989, tropas fortemente armadas e centenas de veículos blindados entram na Praça da Paz Celestial com o objetivo de a “limpar” destes manifestantes. Muita gente, incluindo crianças e idosos, foi morta a tiro pelas tropas ou esmagada por veículos blindados nas estradas que conduzem à praça.
Um relatório oficial emitido pelas autoridades chinesas no final de junho de 1989 afirma que “mais de 3.000 civis tinham sido feridos e mais de 200, incluindo 36 estudantes universitários, morreram durante o motim”. Porém, os números serão, provavelmente, muito mais elevados.
Imediatamente após esta repressão militar ter tido lugar, as autoridades chinesas procuraram outros envolvidos nestes protestos. Milhares foram detidos, torturados ou presos, após julgamentos injustos e acusados de crimes “contra- revolucionários”, chegando a ser condenados a longas penas de prisão. Outros chegaram mesmo a ser executados
O QUE ESTÁ A ACONTECER AGORA NA CHINA?
Apesar das mais de três decadas que passaram desde o massacre da Praça de Tiananmen, o governo chinês ainda não reconheceu que os protestos de 1989 tenham sido legítimos, continuando a alegar que foram um “motim contra – revolucionário”.
Durante muitos anos os familiares das vítimas esconderam a sua condição para evitar as perseguições de que eram alvo. Contudo, um grupo de mães (e pais) das vítimas constituíram um grupo designado por “Mães de Tiananmen”, chefiado por Ding Zilin e pelo marido Jian Peikun, cujo jovem filho Jian Jielian, foi baleado no coração durante a noite de 3 de junho de 1989. O grupo foi alvo de perseguições várias apenas por exigir justiça para as vítimas do massacre. Jian Peikun morreu em 2015, sem que fosse feita justiça, o mesmo tendo acontecido a vários elementos deste grupo.
Ao longo dos anos, muitos ativistas na China continuaram a ser presos por tentarem homenagear as vítimas de Tiananmen e ainda não foi feita justiça para com as famílias das vítimas. Mais, vários ativistas em Hong Kong também estão a ser detidos e julgados por atividades pacíficas de comemoração. Uma destas ativistas é Chow Hang-tung, advogada de direitos humanos que organizava, desde 1990, a vigília anual para relembrar o massacre de Tiananmen.
A detenção de manifestantes pacíficos como Chow Hang-tung é uma tática utilizada por vários governos que receiam o poder da ação coletiva da população e que visa silenciar e provocar o medo, com vista a dissuadir a participação em manifestações futuras.
Texto da carta a enviar
Caro Secretário da Justiça,
Apelo a que liberte imediata e incondicionalmente a advogada de direitos humanos Chow Hang-tung, e que sejam retiradas todas as acusações contra ela. Chow foi presa apenas por ter pacificamente exercido os seus direitos à liberdade de expressão e reunião pacífica.
Neste momento, Chow está a cumprir pena de prisão por, pacificamente, ter relembrado as vítimas do massacre na Praça de Tiananmen, em 1989. Arrisca-se a mais condenações e a ter de cumprir mais anos atrás das grades por, alegadamente, colocar em perigo a segurança nacional do país através das suas ações pacíficas.
Atentamente,
Letter content
Dear Secretary
I call on you to immediately and unconditionally release human rights lawyer Chow Hang-tung and drop all charges against her, as she has been charged solely for peacefully exercising her rights to freedom of expression and peaceful assembly.
Chow is in jail for peacefully remembering the victims of the Tiananmen Square crackdown in 1989. She is also facing further wrongful imprisonment for allegedly endangering national security through her entirely peaceful actions.
Yours sincerely,