15 Julho 2011

 

Os crimes de guerra que afectam as crianças da Somália, incluindo o recrutamento sistemático de crianças-soldado com menos de 15 anos por grupos armados islâmicos, foram denunciados num novo relatório da Amnistia Internacional.
 
Crianças da Somália debaixo de fogo” revela o impacto do conflito armado sobre as crianças. Na Somália, as crianças estão a ser recrutadas como soldados, negando-lhes acesso à educação e correndo o risco de serem mortas ou feridas em ataques indiscriminados realizados em áreas densamente povoadas.
 
“A Somália não é apenas uma crise humanitária: é uma crise de direitos humanos e de direitos das crianças,” disse Michelle Kagari, Subdirectora do Programa da Amnistia Internacional para a África.
 
“Ser criança na Somália, é enfrentar risco de morte constantemente: podem ser mortas, recrutadas e enviadas para a linha da frente, punidas pela Al-Shabab por ouvir música ou por vestir a roupa ‘errada’, são forçadas a defenderem-se a si próprias, porque perderam os pais, ou morrem, porque não têm acesso a cuidados médicos adequados.” 
 
“A crise humanitária que enfrentam as crianças na Somália resulta também do facto da Al-Shabab ter negado a entrada de ajuda humanitária nos últimos anos.”
 
O relatório analisa mais de 200 testemunhos de refugiados da Somália, crianças e adultos, no Quénia e no Djibouti. Muitos citam o recrutamento de crianças por grupos armados como uma das razões para fugir do sul e centro da Somália.
 
O Governo Federal de Transição da Somália está na “lista negra” da ONU, como um partido que recruta, usa, mata e mutila crianças em conflitos armados. Comprometeram-se a respeitar os direitos das crianças, mas ainda têm de adoptar medidas concretas para acabar com o uso de crianças por forças de combate.
 
Na Somália, os edifícios escolares foram destruídos ou danificados durante  ataques indiscriminados em áreas urbanas, dificultando a educação das crianças. Em Mogadíscio, muitas escolas fecharam, porque crianças e professores temem ser mortos e feridos no caminho para a escola. 
 
Al-Shabab, o principal grupo armado de oposição ao governo, impôs severas restrições ao direito à educação, proibindo algumas raparigas de frequentar a escola e que certos assuntos fossem lecionados e usando as escolas para ensinar e incentivar as crianças a participarem em combates.
 
Al-Shabab também usa ameaças como método de recrutamento, atrai crianças com a promessa de lhes dar telefones e dinheiro, sequestra-as em locais públicos ou realiza ataques a escolas.
 
Algumas crianças entrevistadas pela Amnistia Internacional testemunharam a morte dos seus professores durante ataques a escolas e relataram que algumas meninas foram mesmo forçadas a casar com rebeldes.
 
Uma menina de 13 anos, de Mogadíscio, disse à Amnistia Internacional:
 
“Al-Shabab veio numa manhã … Disseram aos professores que todas as crianças deviam sair da sala de aula. Havia um carro à espera lá fora e obrigaram as crianças a entrar. Um professor foi morto, porque se recusou a obedecer. Era corajoso e o único que defendeu os direitos das meninas.” 
 
As crianças têm sido vítimas de agressões e testemunham abusos dos direitos humanos, incluindo apedrejamentos, amputações e execuções realizados em público por grupos islâmicos armados. As crianças também vêem parentes e amigos serem mortos ou torturados.
 
Os refugiados da Somália, incluindo crianças, enfrentam grandes traumas como resultado dos abusos de direitos humanos que experienciaram ou testemunharam durante o conflito.
 
A comunidade internacional deve aumentar as medidas de protecção para evitar que as crianças da Somália sejam separadas das suas famílias, contando com programas de educação e mais apoio psicosocial.
 
“Este é um conflito sem fim, onde as crianças experenciam diariamente horrores inimagináveis,” afirmou Michelle Kagari. “Se o mundo continua a ignorar os crimes de guerra que afectam muitas das crianças, estas correm o risco de se tornarem uma geração perdida.”
 
Conheça os testemunhos de Crianças da Somália aqui.
 

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