Novas evidências de crimes de guerra num conflito devastador

Uma nova investigação da Amnistia Internacional confirmou a morte de centenas de civis na cidade de Kharkiv e documentou as violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário cometidas durante a guerra na Ucrânia. O impacto da guerra é devastador e está refletido nas imagens e relatos recolhidos.

O Direito Internacional Humanitário proíbe os ataques indiscriminados e o uso de armas devastadoras. Assim, os ataques que resultem em morte ou ferimentos a civis, ou danos a bens civis, constituem crimes de guerra.

RELATÓRIO “QUALQUER UM PODE MORRER A QUALQUER MOMENTO: OS ATAQUES INDISCRIMINADOS PELAS FORÇAS RUSSAS EM KHARKIV, UCRÂNIA (EN, PDF)

 

Na região de Kharkiv

“O constante uso de bombas de fragmentação é chocante e mais uma indicação do total desrespeito pelas vidas humanas. As forças russas são responsáveis por esses ataques horríveis, devem ser responsabilizadas pelas suas ações, e as vítimas e as suas famílias devem receber uma indemnização”

Donatella Rovera, Perita de Resposta a Crises da Amnistia Internacional

 

 

O impacto das bombas de fragmentação

Mísseis não guiados – como Grads e Uragans, têm sido frequentemente usados ​pelas forças russas – são imprecisos, tornando-os aleatórios quando usados ​​em áreas povoadas.

Os projéteis de artilharia não guiados têm uma margem de erro de mais de 100 metros. Em zonas residenciais onde os edifícios não estão a mais de alguns metros de distância, tais imprecisões custam as vidas de civis e causam destruição e danos nas infraestruturas.

 

 

 

Oksana Litvynyenko

Num parque infantil daquela zona, Oksana Litvynyenko, de 41 anos, sofreu ferimentos quando várias bombas de fragmentação explodiram enquanto caminhava com o seu marido, Ivan, e a sua filha de quatro anos. O estilhaço atingiu-lhe as costas, o tórax e o abdomen, perfurando os pulmões e a coluna. O ataque ocorreu a meio da tarde, numa altura em que outras famílias estavam no parque infantil com os seus filhos.

Ivan disse à Amnistia Internacional: “De repente, vi um flash… agarrei a minha filha e abracei-a contra uma árvore, para que ela ficasse protegida. Havia muito fumo e eu não conseguia ver nada… quando o fumo ao nosso redor diminuiu, vi pessoas no chão… onde a minha esposa Oksana estava deitada. Quando a minha filha viu a mãe no chão, sobre uma poça de sangue, disse: ‘Vamos para casa: a mamã está morta e as pessoas estão mortas’. Estávamos em choque. Não sabia se a minha esposa ia recuperar; os médicos ainda não me conseguiam confirmar se ela ia voltar a falar e a caminhar. O nosso mundo ficou de pernas para o ar”.

Após mais de um mês em terapia intensiva, a condição de Oksana tinha melhorado mas, infelizmente, no passado dia 11 de junho não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Os investigadores da Amnistia Internacional encontraram no referido parque infantil várias bolas de metal e outros fragmentos das munições 9N210/9N235. As pequenas crateras no solo eram também visíveis, nitidamente provocados pela explosão das munições.

Veronica Cherevychko

Na tarde de 12 de março, Veronica Cherevychko, uma gerente de loja e mãe, de 30 anos, perdeu a perna direita quando um míssil Grad atingiu um parque infantil em frente à sua casa, no bairro de Saltivka.
“Estava sentada num banco quando a explosão aconteceu. Lembro-me de ouvir um assobio pouco antes da explosão. Depois acordei no hospital, sem uma perna; a minha perna foi-se. Agora a minha vida está dividida entre o que era antes de 12 de março e o que é depois desse dia. Vou habituar-me a isso, embora ainda não seja uma realidade; Muitas vezes tento tocar na minha perna, coçar o meu pé… não sei o que dizer das pessoas que me fizeram isto. Nunca vou entendê-los”.

Na tarde de 15 de abril, as forças russas dispararam munições de fragmentação na rua Myru, no bairro Industrialni. Pelo menos nove civis foram mortos e mais de 35 sofreram ferimentos, incluindo várias crianças. Médicos do “Hospital Clínico 25”, em Kharkiv, apresentaram à Amnistia Internacional os fragmentos de metal removidos dos corpos dos pacientes, incluindo as hastes de aço presentes nas bombas de fragmentação 9N210/9N235.

Pelo menos seis pessoas morreram e 15 ficaram feridas na manhã de 24 de março, quando bombas de fragmentação atingiram um estacionamento junto à estação de metro Akademika Pavlova, onde centenas de pessoas faziam fila para receber ajuda humanitária.

Os investigadores da Amnistia encontraram ainda partes de um míssil Uragan, de 220 mm, que carrega 30 submunições, em crateras provocadas pelas explosões. Na zona envolvente, também encontraram barbatanas e fragmentos das munições 9N210/9N235 presentes em várias crateras.

Duas outras bombas de fragmentação também atingiram o telhado da Igreja da Santíssima Trindade, a aproximadamente 500 metros de onde o míssil caiu. A igreja serve como um centro de acolhimento humanitário, onde voluntários preparam alimentos e cabazes para serem distribuídos a pessoas que tentam chegar a pontos de assistência humanitária, como idosos e pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. O padre Petro Loboiko e o padre Serhii Andreiivich apresentaram estilhaços de duas munições de fragmentação que atravessaram as paredes e as portas da igreja depois de explodirem no telhado.

 

 

 

 

Pessoas foram mortas nas suas casas e nas ruas, em recreios e cemitérios, enquanto faziam fila para receber ajuda humanitária ou compravam comida e medicamentos

Donatella Rovera, Perita de Resposta a Crises da Amnistia Internacional

Pessoas foram mortas nas suas casas e nas ruas, em recreios e cemitérios, enquanto faziam fila para receber ajuda humanitária ou compravam comida e medicamentos

Donatella Rovera, Perita de Resposta a Crises da Amnistia Internacional

Metodologia de Investigação

A equipa de investigação da Amnistia Internacional esteve em Kharkiv durante 14 dias em abril e maio de 2022.

A metodologia aplicada consistiu em:

  • Analisar 41 ataques (que mataram pelo menos 62 pessoas e feriram pelo menos 196)
  • Entrevistar 160 pessoas
  • Recolher e analisar provas materiais no terreno, nomeadamente fragmentos de munições, bem como uma série de materiais digitais.

 

 

 

 

 

 

O QUE PODE FAZER: COMO AJUDAR

 

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O trabalho passado

Temos acompanhado a situação de direitos humanos na Ucrânia, sobretudo desde 2014, no momento em que se verificou a ocupação e anexação ilegal da Crimeia e se iniciou o período de maior tensão na região de Donbass.

Desde então, e até hoje, estes episódios destruíram comunidades e vidas, num total desrespeito pelos direitos humanos de milhares de civis.

Vamos continuar a agir até que a total proteção de direitos humanos seja uma realidade e continuaremos a divulgar informação, a expor a realidade no terreno e a apelar ao total respeito pelos direitos humanos.

Em baixo, encontra todas as ações que estamos a desenvolver nesse sentido, mas há muito que já foi feito anteriormente.

Toda a informação sobre o nosso trabalho, até 2022.

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A Amnistia Internacional tem como missão garantir que todas as pessoas, em todo o mundo, podem usufruir os seus direitos humanos em pleno. Para isso, investigamos e expomos abusos e violações de Direitos Humanos, fazemos recomendações e propomos soluções.

Com o nosso trabalho queremos que os direitos humanos sejam uma realidade universal e assim construir um mundo melhor para toda a humanidade.

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