17 Abril 2015

A irmã do blogger saudita Raif Badawi e mulher do advogado de direitos humanos Waleed Abu al-Khair, Samar Badawi, escreveu uma carta para a prisão na Arábia Saudita onde o marido está preso há já um ano. Foi ele quem defendeu de início o caso de Raif Badawi, condenado por nada mais do que ter pensado e escrito em liberdade. Aqui se reproduz a carta de Samar, que é uma carta de louvor a quem luta pela liberdade, e de esperança no legado dos defensores de direitos humanos.

 

 

 

“As palavras não são suficientes para que eu consiga expressar todo o orgulho que tenho no meu marido. Todo o orgulho que sinto no homem que acreditou em mim e na minha causa quando eu estive presa. Como meu advogado, defendeu-me e nunca me deixou sozinha a enfrentar aqueles que injustamente tentaram impor a sua autoridade patriarcal sobre mim, apenas porque sou uma mulher que ousou dizer o que pensa. Todos me viraram as costas com exceção do meu marido, que permaneceu ao meu lado contribuindo para a obtenção de justiça no meu caso.

Ele foi a minha rocha sempre que me senti fraquejar, foi a minha força e a fonte da minha motivação e inspiração.

Ensinou-me que uma pessoa nasce livre e que lhe cabe apenas a si próprio viver em liberdade ou morrer tentando fazê-lo. A escravidão não tem lugar na vida, com a exceção única no que toca à fé em Deus, o único. Hoje, o meu marido vive em liberdade apesar de estar atrás das grades com os seus colegas Abdullah al-Hamid, Mohammad al-Qahtani e muitos outros ativistas que estão presos apenas por exercerem o seu direito de liberdade de expressão.

A minha vida com ele pode ser descrita como um livro maravilhoso: perseverança no título, lutas e contendas enchem as páginas, e liberdade no epílogo.

E aqui estou eu, meu amado marido, a usar o que aprendi no livro da nossa vida – pois serei sempre perseverante, determinada, enquanto estás atrás das grades. Vou continuar a lutar enquanto o meu coração bater, e jamais desistirei até que estejas de novo em nossa casa. Vou acreditar sempre na nossa liberdade, que tu passaste toda a tua vida a defender.

Atenta, meu querido marido, que é a tirania e a opressão que te puseram atrás das grades.

Na Arábia Saudita aqueles que decidiram governar em nome do Islão e da sharia [lei islâmica] tratam a jurisprudência como nada mais do que tinta no papel. Aqueles que dizem usar a religião para me proteger são os mesmos que me tiraram a proteção e a segurança, pois dentro do reino aqueles que devem servir a justiça decidiram que a opressão deve ser algo a celebrar.

Por isso, uma palavra para eles…

A todos os governantes e juízes que injustamente aprisionaram os livres, e escravizaram o povo, acautelem-se com o julgamento que receberão dos céus. Ai de vós que aterrorizaram os ofendidos por orgulho.

E aos meus conterrâneos sauditas digo que o meu marido foi preso para que vocês possam viver livres. Ele enfrentou os tiranos para defender os vossos direitos; fez frente aos seus opressores dizendo-lhes que não toleraria a sua repressão. Lembrem-se que a história não esquece, que exaltará aqueles que lutaram pela liberdade e lançará no esquecimento os que sucumbiram a uma vida de humilhação e de servidão.

As minhas últimas palavras são para a minha filha bebé, Joud. Não fiques triste porque nasceste enquanto o teu pai estava atrás das grades. Fica antes orgulhosa e levanta a cabeça, porque o mundo inteiro te inveja pelo pai que tens – mesmo se a sua pátria se virou contra ele.

O futuro espera que continues a luta do teu pai e que, assim, o faças ainda mais orgulhoso de ti do que ele já é. Crescerás e serás um exemplo a seguir tu própria, em breve conhecida como Joud, a livre, Joud, a desafiadora, Joud, a perseverante: Joud Waleed Abu al-Khair.

A tua mulher,

Samar Badawi”

 

A Amnistia Internacional mantem ativa uma campanha em defesa da libertação de Raif Badawi, irmão de Samar, que foi condenado a dez anos de prisão e mil chicotadas pela sua atividade de fundador e gestor do fórum de discussão online “Liberais Sauditas”. Junte-se a este apelo, pedindo ao rei saudita para que Raif Badawi seja libertado: assine! Ajude também a dar força à campanha pela libertação de Raif Badawi, enviando tweets a quatro entidades sauditas, incluindo o rei Salman, e ao Governo português – todos os detalhes desta ação no Twitter, aqui.

 

Artigos Relacionados