Dia 21 de março: Dia Internacional contra a Discriminação Racial e Dia Mundial da Poesia. A Amnistia Internacional Portugal assinala ambas as datas publicando as palavras, emblemáticas, de alguns poetas portugueses.
Lágrima de preta Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) E cloreto de sódio.
António Gedeão |
URGENTEMENTE É urgente o amor
É urgente destruir certas palavras,
É urgente inventar alegria,
Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer.
Eugénio de Andrade
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Abelha e vespa Matei a vespa Poupei a abelha. Com que direito as julgo?
Teresa Rita Lopes
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Acontecido ao ler o pungente artigo do médico Pedro Afonso, no “Público” de 21.6.2010.
Isto não veio nos jornais: A mão estende-se não para pedir ou dar esmola mas para exibir um papel já muito segurado da Segurança Social. A mão é tosca apalpada por uma vida de trabalho. A mão está desempregada. O seu corpo também. Erra de cadeira em cadeira de banco de jardim em banco de jardim. É uma mão desempregada nomeada estatisticamente entre um milhão de mãos desempregadas. É uma mão envergonhada do seu ócio. Algumas passam uma corda à volta do pescoço. Outras batem nos mais fracos. Outras roubam ou empunham facas. Há mãos que enlouquecem e apertam gatilhos. Outras desistem sobre as pernas sentadas inertes como aves mortas. Que tremenda revoada se todas essas asas levantassem voo! E aí sim, viriam com certeza nos jornais.
Teresa Rita Lopes |