15 Setembro 2011

Um proeminente activista dos direitos humanos da Arábia Saudita levado a tribunal no segundo fim-de-semana de Setembro por ter apelado a uma monarquia constitucional, afirmou à Amnistia Internacional que não irá curvar-se perante a intimidação das autoridades.

Waleed Abu al-Khair, que tem estudado no Reino Unido mas que regressou ao seu país de origem para o Ramadão, foi intimado a apresentar-se num tribunal em Jeddah, no Domingo. Quando chegou ao tribunal, não havia nenhum juiz nem procurador na sala.

“O assistente do juiz trouxe o meu ficheiro e disse-me que eu tinha insultado o sistema judicial e encorajado pessoas na Arábia Saudita a contrariarem o governo. Aos olhos do sistema judicial saudita, qualquer pessoa que apele a uma monarquia constitucional é culpada”, afirmou Waleed, de 32 anos.

Deter activistas que apelam a reformas não é uma novidade na Arábia Saudita, mas os activistas têm demonstrado cada vez mais a sua consternação nos últimos meses. Os manifestantes que tomaram as ruas também foram alvo de repressão e detenções.

Desde o inicio do ano, têm havido inúmeras petições apelando a reformas. Waleed Abu al-Khair, que organizou também uma petição em Fevereiro, acredita que estes apelos para a mudança desencadearam a repressão dos dissidentes.

“Recentemente, a situação dos activistas dos direitos humanos agravou-se significativamente”, acrescentou.

Mubarak bin Said Bin Zu’air, um advogado de 45 anos, encontra-se detido desde Março sem acusações, depois de ter participado num protesto em Riyadh apelando à libertação dos prisioneiros políticos a cumprir longas penas de prisão. Mohammad al-Bajadi, activista e co-fundador de uma organização de direitos humanos saudita, foi detido no dia seguinte por ter participado num protesto. Foi acusado de “apoiar a revolução no Bahrein” e de “criar uma organização”. O seu julgamento começou no mês de Agosto.

A Amnistia Internacional condenou recentemente um projecto de lei anti-terrorista saudita, que a organização acredita poder ser usado para reprimir dissidentes pacíficos. Waleed Abu al-Khair e outros activistas na Arábia Saudita concordam com esta avaliação:

“As autoridades assistiram ao que aconteceu noutros países árabes. Não gostam do que aconteceu no Egipto, Tunísia, Bahrein e Iémen, onde os activistas dos direitos humanos lideraram os protestos. As autoridades irão parar as pessoas que tentem fazer qualquer coisa em solidariedade com os manifestantes noutros países árabes. Sabem que o problema vem dos activistas dos direitos humanos e estão a observar-nos cuidadosamente”, afirmou Waleed.

“As acusações contra Waleed Abu al-Khair parecem ter sido desencadeadas por motivos políticos e constituem mais um exemplo da completa intolerância das autoridades sauditas a quaisquer acções ou declarações sobre as autoridades e o seu sistema de governo que sejam tidas como críticas”, afirmou Philip Luther, Vice-Director da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África.

Não foi estabelecida data para a próxima audiência mas Waleed Abu al-Khair não tem intenção de abandonar o país até que o seu caso seja resolvido, leve o tempo que levar.

“Já aceitei o facto de que possa ser preso por isto. Outros activistas que fizeram campanha para uma monarquia constitucional, em 2005, foram presos, um deles durante nove anos. Querem assustar-me, esperando conseguir calar-me. Mas não pararei de dizer o que penso. O nosso país precisa de reforma, precisa de mudar. Como todas as outras pessoas, precisamos de liberdade. Estamos fartos do que está a acontecer na Arábia Saudita e não queremos ficar calados novamente. Os tempos são de mudança e os activistas estão a tornar-se muito corajosos”, concluiu.

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