16 Agosto 2022

A Amnistia Internacional considerou esta terça-feira que Angola tem enfrentado uma repressão dos direitos humanos sem precedentes no período que antecede as eleições de 24 de agosto, expondo, através de um briefing, a atuação das autoridades angolanas, que culminou em assassinatos e detenções arbitrárias.

No documento publicado pela organização, intitulado “Por um voto que conte para a observância dos direitos humanos: Manifesto de direitos humanos para Angola alusivo às eleições gerais de 2022”, são apresentados detalhes de como as autoridades angolanas aumentaram a sua repressão dos direitos humanos num país em que a situação humanitária se encontra em deterioração, sobretudo pelo agravamento da fome, uma consequência da seca na região Sul de Angola.

“À medida que o país se dirige às urnas, as autoridades devem delinear um plano para respeitar os direitos humanos, assegurar a responsabilização por inúmeras violações dos direitos humanos, e o acesso à justiça e a vias de recurso eficazes para as vítimas”

Deprose Muchena

Segundo Deprose Muchena, diretor da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, “Angola tem verificado um aumento brutal da repressão dos direitos humanos nos últimos anos, incluindo a repressão de qualquer forma de dissidência. Os manifestantes, incluindo os jovens que exigem responsabilização e os seus direitos socioeconómicos, não foram poupados”, acrescentando que, “à medida que o país se dirige às urnas, as autoridades devem delinear um plano para respeitar os direitos humanos, assegurar a responsabilização por inúmeras violações dos direitos humanos, e o acesso à justiça e a vias de recurso eficazes para as vítimas”.

 

Assassinatos, detenções arbitrárias e fome

No auge da pandemia da COVID-19, em 2020, as forças de segurança responsáveis pela implementação de restrições mataram, pelo menos, sete jovens, utilizando força excessiva e letal.

Em janeiro de 2021, a polícia disparou sobre manifestantes e matou dezenas de ativistas que protestavam pacificamente contra o elevado custo de vida na cidade de Cafunfo, na província de Lunda Norte. As forças de segurança também perseguiram os manifestantes nos bairros e florestas circundantes. Embora o número exato de mortos e feridos continue desconhecido, foram encontrados corpos no rio Cuango, nas proximidades de Lunda Norte.

Noutro incidente, após a repressão violenta de um protesto pacífico, a 8 de fevereiro de 2021, o Serviço de Investigação Criminal do país prendeu José Mateus Zecamutchima, do Movimento Protetorado de Lunda Tchokwe, que defende a autonomia da metade oriental de Angola. Acusado de “associação com malfeitores e rebelião armada” e de “levar a rebelião a derrubar o governo”, José Mateus foi sujeito a um julgamento e à prisão, em ambos os casos de formas injusta. Tem-lhe sido frequentemente negado o contacto com o seu advogado e com a família.

A 30 de maio de 2021, a polícia de Cabinda prendeu e deteve vários manifestantes, colocando um fim aos seus protestos com violência e confiscando os seus bens pessoais. A manifestação fez parte de um protesto de cinco províncias contra a fome induzida pela seca, o desemprego e o custo de vida insustentável.

 

A Amnistia Internacional apela aos candidatos das próximas eleições para que se comprometam publicamente, se eleitos, a tomarem as seguintes medidas:

– Conduzir investigações rápidas, exaustivas, imparciais, independentes, transparentes e eficazes sobre todos os assassinatos e responsabilizar os suspeitos em julgamentos justos;

– Assegurar o acesso à justiça e a vias de recurso eficazes para as vítimas e suas famílias;

– Levar à justiça em julgamentos justos todos os membros das forças de segurança acusados de utilizarem força excessiva e letal contra manifestantes pacíficos, e proporcionar o acesso à justiça e vias de recurso eficazes às vítimas e suas famílias;

– Trabalhar com a comunidade internacional para permitir rapidamente a ajuda humanitária às vítimas da seca e da fome na região Sul de Angola.

 

Contexto

As apropriações de pastagens comunitárias pelas explorações pecuárias comerciais minaram progressivamente a resiliência económica e social das comunidades pastoralistas desde o fim da guerra civil em 2002 e milhões de pessoas no sul de Angola enfrentam agora mais ameaças, com a continuação da seca associada às alterações climáticas. Os alimentos e água estão a escassear cada vez mais, forçando milhares de pessoas a fugir de suas casas e a procurar refúgio na vizinha Namíbia.

A 24 de agosto de 2022, Angola irá realizar as suas quintas eleições gerais desde o fim da guerra civil. Este escrutínio permitirá aos angolanos eleger o seu presidente e representantes parlamentares.

Agir Agora

Recursos

Manifesto de direitos humanos para Angola (Petição encerrada)

Manifesto de direitos humanos para Angola (Petição encerrada)

No dia 24 de agosto de 2022, os Angolanos terão a quinta eleição geral desde 1992. É, por isso, perante este contexto que apelamos à ação conjunta de todos, nomeadamente à assinatura do manifesto de direitos humanos que encontra de seguida, e que visa incentivar todos os partidos políticos angolanos e os seus candidatos a informar o eleitorado sobre o que pretendem fazer, e como, para responder às seguintes preocupações de direitos humanos após as eleições.

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