O apagão é inegável: 83 por cento das luzes na Síria apagaram-se desde o início do conflito no país há quatro anos (completos no domingo, 15 de março), é revelado por uma coligação global de organizações humanitárias e de direitos humanos, que a Amnistia Internacional integra, com base na avaliação de imagens satélite do território captadas entre 2011 e 2015.
“Continuam a ser cometidos na Síria grosseiros abusos de direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade pelas forças governamentais e por alguns grupos armados, incluindo o Estado Islâmico. Muitíssimos ativistas pacíficos e opositores permanecem em centro de detenção e prisões onde a tortura é praticada a uma escala industrial, enquanto outros foram ilegalmente mortos”, frisa o diretor da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Philip Luther. “A comunidade internacional não está a conseguir unir-se para resolver esta crise, que é uma das crises de direitos humanos mais definidoras dos nossos tempos – esta falha envia um sinal de que a comunidade internacional está perversamente indiferente ao impacto devastador que o conflito está a ter para os civis na Síria. E esta indiferença tem de acabar”, insta o perito da organização de direitos humanos.
A análise destas imagens, por cientistas da Universidade Wuhan, na China, junto com a coligação #withSyria – que reúne 130 organizações não governamentais –, demonstra que o número de luzes vísiveis na Síria à noite caiu em 83 por cento desde março de 2011, quando ocorreram as primeiras manifestações de revolta no país, na cidade de Deera.
As imagens satélite agora divulgadas “são a mais objetiva fonte de dados que mostram a devastação na Síria a uma escala nacional”, frisa o investigador que chefiou este projeto na Universidade de Wuhan, Xi Li. “Captadas a 500 milhas de distância da Terra, estas imagens ajudam-nos a compreender o sofrimento e o medo em que os sírios vivem todos os dias, conforme o país é destruído à volta deles. Nas zonas mais afetadas, como Alepo, uns assombrosos 97 por cento das luzes extinguiram-se. As exceções são as províncias de Damasco e de Quneitra, perto da fronteira com Israel, onde o declínio na luz foi de 35 por cento e 47 por cento, respetivamente”, explica o perito.
“Quatro anos desde o início desta crise, o povo sírio foi mergulhado na escuridão: vive na indigência, aterrorizado e de luto pelos amigos que perdeu e pelo país que antes conhecia”, descreve o presidente e diretor executivo da organização não-governamental humanitária International Rescue Comittee, David Miliband. “Quatro anos desde o início desta crise, há atualmente muito pouca luz neste túnel. Mais de 200.000 pessoas foram mortas e uns aterradores 11 milhões foram forçadas a fugir das suas casas. Os sírios merecem muito mais da comunidade internacional – já passou da hora de lhes mostrarmos que não desistimos e que trabalharemos com eles para voltar a acender as luzes”, insta.
A coligação de ONG #withSyria lança agora também, com o aproximar do quarto aniversário da guerra na Síria, a 15 de março, um contundente filme e uma petição global que insta os líderes na comunidade internacional a “reacenderem as luzes na Síria”, exigindo-lhes:
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que deem prioridade a uma solução política com os direitos humanos no seu cerne;
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que reforcem a resposta humanitária tanto para aqueles que permanecem na Síria como para os refugiados, incluindo um aumento das vagas de reinstalação;
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que persistam em levar todas as partes a porem fim aos ataques contra os civis e a pararem de bloquear a ajuda humanitária.
O presidente da Sociedade Médica Sírio-Americana, Zaher Sahoul, frisa que “o aumento da movimentação de grupos terroristas através das fronteiras espalhou o medo e chamou a atenção do mundo para a Síria – mas distraiu a atenção dos governos do sofrimento pelo qual estão a passar os cidadãos sírios e dos abusos cometidos por todos os lados envolvidos neste conflito”. “Todos os dias, médicos, trabalhadores das agências humanitárias e professores sírios correm riscos enormes para ajudar o seus vizinhos e entes queridos, enquanto a comunidade internacional continua a não encontrar uma solução política e um fim para toda esta violência e sofrimento”, denuncia.
Em 2014, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou três resoluções que exigem ação para garantir a proteção e a prestação de assistência aos civis da Síria. Desde então milhares de sírios foram mortos, e muitos mais foram forçados a abandonar as suas casas ou encontram-se em necessidade urgente de ajuda, e agora mais do que nunca.
Um novo relatório lançado esta semana por um grupo de organizações e agências humanitárias – intitulado “Failing Syria” (Falhar à Síria) – aponta culpas às partes em confronto e também aos Estados com poder no palco internacional por estarem a falhar na concretização daquilo que aquelas resoluções das Nações Unidas visam alcançar.
O secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados e antigo secretário-geral-adjunto das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, Jan Egeland, sublinha que “2014 foi o ano mais negro nesta guerra horrível”. “Os civis não estão a ser protegidos como o Conselho de Segurança prometeu que seriam. O seu acesso a ajuda não melhorou e o financiamento humanitário está a diminuir em comparação com o que é necessário. É uma vergonha a forma como estamos a falhar aos sírios”, remata.
Assine a petição e fortaleça este pedido junto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que façam todos os esforços para acender de novo as luzes na Síria!