17 Julho 2019

Quatro mulheres, uma ONG e a luta pela defesa da Amazónia são os ingredientes da série “Aruanas”, apresentada esta quarta-feira, em Lisboa, numa sessão que contou com a presença do diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro A. Neto. Inspirado em fatos reais, este thriller – coproduzido pela Globo e pela produtora Maria Farinha – acompanha a história de um grupo de ativistas que luta contra a operação ilegal de uma empresa de minérios, cuja atividade está a contaminar os rios da região e a afetar a saúde das populações ribeirinhas.

Mas o alerta não fica por aqui. A série pretende humanizar o trabalho dos ativistas e homenagear aqueles que são alvo de perseguição, violência e até morte.

“Esta série é muito pertinente, muito real. Já estive na Amazónia, há mais de dez anos. Os casos da irmã Dorothy [religiosa assassinada em 2005] e de tantos outros ativistas estava bem presente”

Pedro A. Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal

O Brasil, que serve de pano de fundo a “Aruanas”, apresenta números preocupantes neste capítulo. Só em 2017, foram assassinados 57 ativistas, a maioria defensores da natureza e do ambiente.

“Esta série é muito pertinente, muito real. Já estive na Amazónia, há mais de dez anos. Os casos da irmã Dorothy [religiosa assassinada em 2005] e de tantos outros ativistas estava bem presente. Eu era um jovem e participei no Grito dos Excluídos, em Belém. Hoje, também temos visto isso no mundo. Jovens a marchar e a pedir ação pelo ambiente e pelos direitos humanos”, apontou Pedro A. Neto.

“Há poucas políticas rumo ao ‘carbono zero’, poucos incentivos fiscais para que o consumidor compre produtos amigos do ambiente. Ainda lidamos com as questões do plástico e das embalagens que temos consumir. Depois, temos os carros elétricos que são uma solução melhor do que os movidos a combustível fóssil, mas devemos apostar na reciclagem das baterias”

Pedro A. Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal

Como a secretária-geral do Ministério do Ambiente e da Transição Energética, Alexandra Carvalho, estava na sala, o diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal fez um pedido: “É hora de passar das declarações aos atos porque o mundo vive numa altura especial. Digo-o com o sentido preocupação”.

Em Portugal, existem vários problemas, desde os incêndios florestais até ao cumprimento da meta de descarbonizar a economia. “Muito pouco foi reflorestado, mas dizemos que temos feito esse trabalho. Há poucas políticas rumo ao ‘carbono zero’, poucos incentivos fiscais para que o consumidor compre produtos amigos do ambiente. Ainda lidamos com as questões do plástico e das embalagens que temos consumir. Depois, temos os carros elétricos que são uma solução melhor do que os movidos a combustível fóssil, mas devemos apostar na reciclagem das baterias”, enumerou Pedro A. Neto.

Do Brasil para o mundo

“Aruanas” teve a colaboração técnica da Greenpeace e o apoio de várias organizações de defesa do ambiente e dos direitos humanos, entre as quais a Amnistia Internacional. Mas não só: WWF, Global Witness, Nações Unidas, Instituto Betty & Jacob Lafer, Rainforest Foundation, Avaaz, 350.org, Instituto Socioambiental, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Fundação SOS Mata Atlântica, IMAZON, Conectas, Justiça Global, ISER e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Da colaboração resultou um trabalho que não esqueceu as comunidades indígenas, até porque continuam em risco na Amazónia, conforme a Amnistia Internacional tem documentado.

“O artista e o ativista encontram-se na vontade de mudar o mundo. Tenho uma companhia de teatro e tento tocar as pessoas com temas que acho que devem ser abordados”

Débora Falabella, atriz

Toda esta envolvência da série foi destacada por Débora Falabella, que dá vida à jornalista e defensora do ambiente Natalie. “O artista e o ativista encontram-se na vontade de mudar o mundo. Tenho uma companhia de teatro e tento tocar as pessoas com temas que acho que devem ser abordados. Falar e trabalhar nas coisas em que acredito é um privilégio”, partilhou.

Outra das presenças em Lisboa foi a do guionista Marcos Nisti que considera que o tema central de “Aruanas” “já merecia ser falado, visto e comentado à mesa de jantar”. A ideia de criar a série remonta a 2012, mas só ganhou asas em 2017. Agora, já está em perspetiva uma segunda temporada.

“Aruanas”, que estreou no passado dia 2 de julho, está disponível em mais de 150 países com legendas em 11 línguas: inglês, espanhol, francês, italiano, alemão, holandês, russo, árabe, hindi, turco e coreano. A par de Londres, Nova Iorque e São Paulo, Lisboa foi escolhida para acolher uma sessão especial de lançamento.

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