31 Janeiro 2020

Dois anos e meio depois de terem sido forçadas a fugir de crimes contra a humanidade no Myanmar, as crianças Rohingya vão voltar à escola. O anúncio foi feito pelo governo de Bangladesh, esta semana, e segue-se às campanhas da Amnistia Internacional e de outras organizações de direitos humanos pela chamada “geração perdida”.

“Este é um compromisso importante e muito positivo do governo de Bangladesh, que permite que as crianças possam ter acesso ao ensino e a alcançarem os seus sonhos no futuro”

Saad Hammadi

Quase meio milhão de crianças Rohingya, que vivem em campos de refugiados no Bangladesh, não tinham direito à educação. “Este é um compromisso importante e muito positivo do governo de Bangladesh, que permite que as crianças possam ter acesso ao ensino e a alcançarem os seus sonhos no futuro. Até agora, já perderam dois anos letivos e não podem estar mais tempo fora das salas de aula”, afirma Saad Hammadi, da Amnistia Internacional.

“É importante que o acesso a educação adequada, reconhecida e de qualidade seja estendido a todas as crianças na área de Cox’s Bazar”, reforça Saad Hammadi, antes de acrescentar que “a comunidade internacional tem um papel fundamental a desempenhar para garantir que o governo de Bangladesh dispõe dos recursos necessários para alcançar este objetivo”.

Até agora, as autoridades do país tinham recusado todos apelos e as únicas oportunidades dadas às crianças estavam concentradas em centros de aprendizagem provisórios, que disponibilizavam espaços de recreio e conteúdos vocacionados para alunos do ensino primário, na zona de Cox’s Bazar. Os poucos jovens que conseguiram frequentar aulas em escolas locais acabaram expulsos, após ordem do governo. Contudo, a postura mudou e o secretário para os Negócios Estrangeiros do Bangladesh, Masud bin Momen, refere agora que existe “a necessidade de manter viva a esperança no futuro das crianças Rohingya”.

De acordo com os planos do governo, os programas curriculares – que serão os mesmos do Myanmar – vão abranger crianças e jovens até aos 14 anos de idade. Para os mais velhos, haverá formação. As escolas que integrem esta estratégia vão precisar de professores com competências próprias, até porque o ensino será feito em birmanês.

“Os benefícios em educar as crianças não podem ser subestimados, pois têm efeitos positivos que se repercutem nas comunidades e na sociedade em geral”

Saad Hammadi

Um projeto piloto liderado pela UNICEF e pelo governo de Bangladesh vai arrancar com dez mil crianças. Depois, os planos preveem que seja estendido a outras, incluindo da comunidade anfitriã que habita nos campos de refugiados. No entanto, estas vão estar em espaços separados a frequentar aulas que respondem ao currículo nacional de Bangladesh.

A Convenção sobre os Direitos da Criança, um tratado vinculativo que o Bangladesh ratificou, é claro: a educação pode e deve garantir o desenvolvimento da personalidade, dos talentos e das competências mentais e físicas das crianças, em todo o seu potencial, enquanto reforça o respeito pelos direitos humanos, preparando-as para uma vida responsável numa sociedade livre.

“Os benefícios em educar as crianças não podem ser subestimados, pois têm efeitos positivos que se repercutem nas comunidades e na sociedade em geral […] Os custos de negar isso podem ser severos, deixando-as, inclusivamente, vulneráveis ​​à pobreza e à exploração. Congratulamo-nos com este avanço significativo e esperamos que o governo cumpra os seus compromissos”, sublinha Saad Hammadi.

 

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