4 Novembro 2025

 

  • Amnistia Internacional condena “veementemente o massacre” e insta a investigação rápida, independente e imparcial, com supervisão internacional, após operação policial mais letal da história do estado do Rio de Janeiro
  • “O governo de Cláudio Castro no Rio de Janeiro transformou a política de segurança numa política de morte, que deve cessar imediatamente” – Ana Piquer
  • Apesar das advertências da ONU e da CIDH sobre carácter discriminatório da “guerra contra as drogas”, Estado brasileiro continua a implementar operações policiais que violam padrões internacionais sobre uso da força

 

 

A Amnistia Internacional condena veementemente o massacre ocorrido durante a chamada“Operação Contenção”, realizada a 28 de outubro no complexo de favelas Alemão e Penha, no Rio de Janeiro. Foi a operação mais letal da história do estado e deixou, pelo menos, 121 mortos, incluindo quatro polícias, e múltiplas denúncias de execuções extrajudiciais às mãos da polícia civil e militar.

“O que aconteceu no Rio de Janeiro não foi uma operação de segurança, foi um massacre. Mais de uma centena de pessoas, quase todas negras e vivendo em situação de pobreza, foram assassinadas, numa ação planeada e executada pelo próprio Estado. É urgente que as autoridades realizem uma investigação rápida, independente e imparcial e solicitem supervisão internacional para garantir a sua eficácia”, afirmou Ana Piquer, diretora para as Américas da Amnistia Internacional.

“O governo de Cláudio Castro no Rio de Janeiro transformou a política de segurança numa política de morte, que deve cessar imediatamente”, acrescentou.

 

Execuções extrajudiciais e repressão

De acordo com organizações locais e testemunhos de residentes, a operação, na qual participaram mais de 2.500 agentes da Polícia Civil e Militar, terá incluído tiros disparados de helicópteros, incursões sem mandado judicial e impedimento de socorro de pessoas feridas. Testemunhos e relatórios locais indicam que vários corpos foram encontrados com sinais que poderão indiciar execuções extrajudiciais, incluindo tiros nas costas, na nuca e mãos amarradas.

“O que aconteceu no Rio de Janeiro não é uma operação de segurança, é um massacre. Mais de uma centena de pessoas, quase todas negras e vivendo em situação de pobreza, foram assassinadas, numa ação planeada e executada pelo próprio Estado.”

Ana Piquer

De acordo com o direito internacional humanitário, a força letal só pode ser utilizada quando estritamente necessária para proteger a vida ou prevenir ferimentos graves perante uma ameaça iminente.

No entanto, as declarações públicas do governador do Rio de Janeiro tentaram legitimar o uso ilegal da força policial, ao afirmar que “apenas os polícias foram vítimas” e ao justificar que o Estado pode “exceder as suas competências” na chamada “guerra contra o crime”. Este discurso pretende legitimar uma política letal e falhada para garantir a impunidade das violações dos direitos humanos cometidas pelas forças de segurança e, com isso, perpetuá-las.

Declarações públicas do governador do Rio de Janeiro tentaram legitimar o uso ilegal da força policial, ao afirmar que “apenas os polícias foram vítimas” e ao justificar que o Estado pode “exceder as suas competências” na chamada “guerra contra o crime”.

“A população das favelas vive em estado de alerta e ameaça permanente. As operações policiais no Brasil tornaram-se sinónimo de terror, racismo e total desproteção”, afirmou Jurema Werneck, diretora executiva da Amnistia Internacional Brasil. “Não há justificação possível para esse uso de força letal. A segurança pública deve proteger vidas, não destruí-las”.

 

Racismo estrutural e impunidade

O padrão de violência policial no Rio de Janeiro reflete uma política racista enraizada na política de drogas e segurança pública brasileira. O governo de Cláudio Castro foi responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do estado, incluindo as de Jacarezinho (2021) e Vila Cruzeiro (2022).

Apesar das repetidas advertências da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o carácter discriminatório da chamada “guerra contra as drogas”, o Estado brasileiro continua a implementar sistematicamente operações policiais que violam flagrantemente os padrões internacionais sobre o uso da força.

“A população das favelas vive em estado de alerta e ameaça permanente. As operações policiais no Brasil tornaram-se sinónimo de terror, racismo e total desproteção.”

Jurema Werneck

A Amnistia Internacional alerta que as autoridades do Rio de Janeiro têm procurado criminalizar familiares e vizinhos que, na ausência do Estado, resgataram os corpos das vítimas para garantir a sua identificação e um enterro digno.

A criminalização de familiares, vizinhos e defensores dos direitos humanos constitui uma prática institucional que reflete a violência policial estrutural no Brasil, caracterizada pelo racismo e pela impunidade.

Diante desse cenário, as autoridades têm o dever de investigar, julgar e reparar, de forma rápida e eficaz, as execuções extrajudiciais e outras violações de direitos humanos ocorridas no âmbito da Operação Contenção, bem como prestar apoio e acompanhamento constante aos familiares das vítimas e permitir que participem, de forma formal e eficaz, na investigação, seguindo os protocolos internacionais, como o Protocolo de Minnesota.

A Amnistia Internacional alerta que as autoridades do Rio de Janeiro têm procurado criminalizar familiares e vizinhos que, na ausência do Estado, resgataram os corpos das vítimas para garantir a sua identificação e um enterro digno.

Além disso, as autoridades devem facilitar a criação de uma comissão de verificação integrada por especialistas internacionais para supervisionar as perícias e investigações relacionadas com as violações dos direitos humanos ocorridas nesta operação policial.

“O silêncio e a impunidade são cúmplices da violência. Enquanto o Estado não assumir a sua responsabilidade e garantir os direitos à verdade, à justiça e à reparação, perpetuar-se-á um ciclo de abusos que afeta, de forma desproporcional, as comunidades negras, mestiças e periféricas do Brasil”, declarou Ana Piquer.

 

Perguntas Relacionadas

O que aconteceu durante a "Operação Contenção" no Rio de Janeiro em outubro de 2025?

Durante a "Operação Contenção", realizada a 28 de outubro no complexo de favelas Alemão e Penha, no Rio de Janeiro, ocorreu o massacre mais letal da história do estado, com pelo menos 121 mortos, incluindo quatro polícias. Há denúncias de execuções extrajudiciais por parte das forças policiais, com relatos de tiros de helicópteros, incursões sem mandado judicial e impedimento de socorro a feridos. Muitos corpos apresentavam sinais de execução, como tiros nas costas ou na nuca.

Por que é que a Amnistia Internacional classifica este evento como um "massacre" e não uma operação de segurança?

A Amnistia Internacional considera-o um massacre porque a operação resultou na morte planeada e executada pelo Estado de mais de uma centena de pessoas, maioritariamente negras e em situação de pobreza, com indícios de uso desproporcional e ilegal da força. A organização sublinha que a ação violou padrões internacionais, não se tratando de uma medida de segurança legítima, mas sim de uma política de violência institucionalizada.

Quais são as principais críticas da Amnistia Internacional à atuação do governador Cláudio Castro no Rio de Janeiro?

A Amnistia Internacional critica o governador Cláudio Castro por transformar a política de segurança numa "política de morte", responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do estado. A organização denuncia que as suas declarações públicas tentam justificar o uso ilegal da força, legitimando violações dos direitos humanos e perpetuando a impunidade, em vez de proteger a população.

Que práticas ilegais foram reportadas durante a operação policial no complexo Alemão e Penha?

Testemunhos e relatórios locais indicam práticas como tiros disparados de helicópteros, incursões sem mandado judicial, impedimento de socorro a feridos e sinais de execuções extrajudiciais (tiros nas costas, na nuca e mãos amarradas). Além disso, houve tentativas de criminalizar familiares e vizinhos que resgataram corpos para garantir identificação e enterro digno, na ausência de ação estatal.

Qual é a posição da ONU e da CIDH sobre as operações policiais no Rio de Janeiro?

Tanto a Organização das Nações Unidas (ONU) como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já advertiram repetidamente sobre o carácter discriminatório da "guerra contra as drogas" no Brasil, que sistematicamente viola padrões internacionais sobre o uso da força. Apesar destes alertas, o Estado brasileiro continua a realizar operações letais, ignorando as recomendações para evitar violações dos direitos humanos.

Que medidas exige a Amnistia Internacional para investigar este massacre?

A Amnistia Internacional exige uma investigação rápida, independente e imparcial, com supervisão internacional, seguindo protocolos como o Protocolo de Minnesota. Pede ainda a criação de uma comissão de verificação com especialistas internacionais para supervisionar perícias, além de apoio constante aos familiares das vítimas, garantindo a sua participação formal nas investigações. A organização sublinha que sem justiça e reparação, o ciclo de violência contra comunidades negras e periféricas persistirá.

⚠️ Este painel de questões relacionadas foi criado com IA mas revisto por um humano.

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