2 Agosto 2011

Enquanto vão surgindo relatos de que as forças de segurança sírias continuam a bombardear a cidade de Hama, onde dezenas de pessoas foram mortas, a Amnistia Internacional considera que o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve reagir urgentemente à repressão que tem sido levada a cabo no país, referindo a situação ao Tribunal Penal Internacional.
 
O Conselho de Segurança reuniu-se ontem para discutir a contínua violência na Síria, que vitimou pelo menos duas pessoas em Hama, no dia 1 de Agosto, e 52 pessoas, incluindo quatro crianças, no dia 31 de Julho.
 
Ontem, por toda a Síria, as pessoas saíram à rua para participarem em protestos contra os recentes homicídios.  
 
“As autoridades sírias desencadearam um ataque mortal, principalmente contra manifestantes pacíficos que apelam à reforma [do regime]”, afirmou Philip Luther, Subdirector do Programa da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África. 
 
“É claro que o Presidente Bashar al-Assad não está disposto a travar as suas forças de segurança, as Nações Unidas devem tomar medidas decisivas para parar esta violenta campanha de repressão.” 
 
“Deviam pelo menos ser realizados um embargo de armas, o congelamento dos activos do Presidente al-Assad e outros oficiais suspeitos de crimes contra a humanidade e deve ser referida a situação ao Procurador do Tribunal Penal Internacional”.
 
Há um mês que as topas sírias tinham retirado da cidade de Hama – um ponto central para os protestos pro-reforma dos últimos meses – mas regressaram em força recentemente.    
 
Tropas e tanques tentaram entrar na cidade no dia 31 de Julho de manhã, atacando áreas residenciais com bombas e metralhadoras. Dezenas morreram enquanto os habitantes tentavam impedir o avanço da tropas. Locais relatam que tiveram de enterrar os mortos nos seus bairros. 
 
Em outras partes da Síria, incluindo na cidade ocidental de Dayr al-Zor ocurreram intensos tiroteios no dia 31 de Julho, os confrontos com as forças de segurança resultaram em 11 mortos.
 
Um activista dos direitos humanos disse à Amnistia Internacional que alguns membros das forças de segurança tinham sido mortos ou raptados, tanto em Hama como em Dayr al-Zor. 
 
Um empregado de um dos quatro hospitais de Hama informou a Amnistia Internacional que receberam, desde 31 de Julho, 19 cadáveres, incluindo 18 civis e um polícia. Todos tinham sido alvejados na cabeça ou no peito.
 
O polícia, Mahmoud ‘Abboud, estaria, alegadamente, a trabalhar como mediador entre os manifestantes e a polícia quando foi alvejado na cabeça e levado ao hospital pelos manifestantes.
 
De acordo com a agência de notícias do governo, SANA, “grupos armados”, em Hama e Dayr al-Zor, mataram seis membros do exército e das forças de segurança e atacaram propriedade pública e privada. A agência noticiosa também relatou que o Presidente al-Assad elogiou as tropas por “perturbarem os inimigos da Síria” nas operações do fim-de-semana, que coincidiram com o início do Ramadão. 
 
A Amnistia Internacional recebeu uma lista de 1500 nomes de pessoas que se acredita terem sido mortas desde o início dos protestos pro-reforma, em meados de Março. Muitos são manifestantes e habitantes locais alvejados pelas forças de segurança e pelo exército.
 
Milhares foram presos durante os protestos, muitos mantidos em regime de incomunicabilidade, torturados e vítimas de maus tratos sob custódia, o que em alguns casos resultou na sua morte. Baseada na sua investigação, a Amnistia Internacional concluiu que os crimes cometidos são considerados crimes contra a humanidade, uma vez que parecem fazer parte de ataques generalizados e sistemáticos contra a população.
 
A Amnistia Internacional tem apelado repetidamente ao Conselho de Segurança da ONU para que este faça referência da situação ao Tribunal Penal Internacional, como fez com a Líbia em Junho, após a violenta repressão dos protestos que teve lugar naquele país.
 
“Já passou tempo mais do que suficiente para que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tome medidas concretas para acabar com a repressão sangrenta na Síria, que continua a levar à perda de inúmeras vidas entre manifestantes pacíficos”, Philip Luther.

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