3 Junho 2011

 

As autoridades egípcias devem levar à justiça todos os responsáveis por ordenar ou realizar ‘testes de virgindade’ à força, afirmou a Amnistia Internacional no dia 31 de Maio, após a declaração anónima de uma figura militar sénior que confirma que o exército sujeita as mulheres manifestantes a estes testes.
 
Um general egípcio sénior disse à CNN que as mulheres detidas a 9 de Março, na Praça de Tahrir, no Cairo, foram forçadas a submeterem-se a ‘testes de virgindade’, uma prática que tinha sido previamente negada pelo governo.
 
O general, que falou em condição de anonimato, justificou o abuso dizendo que as mulheres “não eram como a sua filha ou a minha, estas jovens tinham acampado em tendas com manifestantes masculinos.”
 
“Esta confissão é uma justificação totalmente perversa de uma forma de abuso degradante,” afirmou a Amnistia Internacional. “As mulheres foram sujeitas a nada menos do que tortura.”
 
“As autoridades egípcias devem condenar estas atitudes discriminatórias, abusivas e insultantes, que foram utilizadas para justificar a tortura de mulheres manifestantes e que estão claramente presentes ao mais alto nível.”
 
A Amnistia Internacional recolheu testemunhos de mulheres manifestantes que foram sujeitas a ‘testes de virgindade’ em Março e escreveu ao Conselho Supremo para as Forças Armadas do Egipto, solicitando uma investigação. Contudo, não foi recebida qualquer resposta.
 
O general disse também à CNN que a razão para a realização dos testes devia-se a “não querermos que dissessem que as agredimos sexualmente ou que as violámos, queríamos provar que já não eram virgens.”
 
“A insinuação deste general de que apenas as mulheres virgens são vítimas de violação é uma atitude sexista há muito desacreditada e uma insensatez jurídica. Quando se determina um caso de violação é irrelevante se a vítima é virgem ou não.”
 
“O exército deve deixar claro às forças de segurança e soldados que estes ‘testes’ estão proibidos.”
 
Quando os oficiais do exército desobstruíram violentamente a Praça de Tahrir no dia 9 de Março – o dia seguinte ao Dia Internacional da Mulher – 18 mulheres foram detidas, agredidas, alvo de choques eléctricos, das quais 17 foram posteriormente sujeitas a revistas sem roupa, forçadas a submeterem-se a ‘testes de virgindade’ e ameaçadas de serem acusadas de prostituição.
 
As mulheres foram levadas a um tribunal militar a 11 de Março e libertadas a 13 de Março. Várias mulheres receberam sentenças de pena suspensa de um ano por acusações como conduta desordeira, destruição de propriedade, obstrução do tráfego e posse de armas.
 
A Amnistia Internacional teme que as atitudes discriminatórias e patriarcais relativamente às mulheres no Egipto estejam a impedir a participação total das mulheres no processo de reforma.
 
Apesar das mulheres estarem na linha da frente dos protestos nacionais que conduziram à demissão do Presidente Hosni Mubarak, nenhuma mulher foi escolhida para fazer parte do comité de reforma constitucional e receberam uma pequena representação no novo governo.
 
“O governo do Egipto necessita de defender os direitos de todas as mulheres que trabalham para a liberdade do país, especialmente aquelas que lutam pela igualdade de género e pelos direitos das mulheres,” afirmou a Amnistia Internacional.

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