26 Janeiro 2011

Um jornalista iemenita, detido pelas suas supostas ligações à al-Qa’ida, parece ter sido visado pelo seu trabalho na divulgação de informações sobre a cumplicidade norte-americana nos ataques ocorridos no Iémen, afirmou a Amnistia Internacional.

No passado dia 19 de Janeiro, ‘Abdul Ilah Shayi’, que declarou que os Estados Unidos da América estavam envolvidos num ataque mortal a um suposto campo de treino da al-Qa’ida, foi condenado a cinco anos de prisão pelo Tribunal Criminal Especializado, na capital Sana’a.

Os seus advogados e activistas no Iémen afirmam que as acusações contra Shayi’ foram fabricadas como resultado do seu jornalismo de investigação.

“Há fortes indícios de que as acusações contra ‘Abdul Ilah Shayi’ são forjadas e que este foi detido apenas por ousar falar sobre a colaboração dos E.U.A num ataque com bombas de fragmentação, no Iémen”, afirmou Philip Luther, Sub-Director do Programa da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África.

“Se for este o caso, a Amnistia Internacional pode considerá-lo um prisioneiro de consciência, e apelar à sua libertação imediata e incondicional”.

Shayi’ foi condenado com base em várias acusações, incluindo a comunicação com “homens procurados”; juntar-se a um grupo de militares; e actuar como consultor para os media da al-Qa’ida. Depois de cumprir a sua sentença de cinco anos de prisão, ser-lhe-á proibido viajar durante mais dois anos. ‘Abdul Kareem al-Shami’, seu conhecido, esteve preso durante dois anos, por acusações semelhantes.

No entanto, os advogados de Shayi’ afirmam que a acção judicial não apresentou qualquer prova de que o jornalista havia apoiado ou trabalhado com a al-Qai’da, e que Shayi’ estaria a levar a cabo o seu trabalho jornalístico legítimo.

Shayi’ foi o primeiro jornalista iemenita a alegar o envolvimento norte-americano num ataque contra a comunidade de al-Ma’jalah, na área de Abyan, no Sul do Iémen, ocorrido a 17 de Dezembro de 2009.

Redigiu artigos e deu uma entrevista ao canal de notícias Al Jazeera e a jornais, pouco depois do ataque que vitimou 55 pessoas, incluindo 14 alegados membros da al-Qa’ida.

Shayi’ foi detido a 16 de Agosto de 2010, em sua casa em Sana’a, pelas forças de segurança iemenitas.

O jornalista não irá recorrer da sentença devido às suas reservas sobre a imparcialidade do seu julgamento no Tribunal Criminal Especializado, que também tem sido boicotado pelos seus advogados.

“As autoridades iemenitas devem pôr fim à perseguição de jornalistas e inverter o padrão de repressão dos dissidentes”, afirmou Philip Luther.

O governo iemenita afirmou que as suas forças levaram a cabo, sem ajuda, o ataque a al-Ma’jalah, local de um alegado campo de treino da al-Qa’ida no distrito de al-Mahfad, em Abyan.

Pouco depois do ataque, alguns meios de comunicação dos E.U.A apresentaram declarações de fontes não identificadas do governo norte-americano, segundo as quais afirmaram que os mísseis de cruzeiro, lançados sob ordem presidencial, tinham atingido dois supostos locais da al-Qa’ida no Iémen.

Em Junho de 2010, a Amnistia Internacional divulgou imagens de um míssil de cruzeiro fabricado pelos E.U.A., que transportava bombas de fragmentação, aparentemente captadas após o ataque a al-Ma’jalah.

Um documento diplomático divulgado pela organização Wikileaks, em Novembro de 2010, corroborou as imagens que tinham sido divulgadas pela Amnistia Internacional, bem como a conclusão da organização de que as forças norte-americanas realizaram o ataque.

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