2 Junho 2011

 

Dezenas de pessoas desapareceram na área das Montanhas de Nafusa, na Líbia, ao que tudo indica pelas mãos de forças leais ao Coronel al-Kaddafi, afirmou no dia 27 de Maio a Amnistia Internacional durante o lançamento de um novo relatório sobre a deterioração das condições na região ocidental do país.
 
Libya: Disappearances in the besieged Nafusa Mountain as thousands seek safety in Tunisia, detalha um número de casos de pessoas que desapareceram e que alegadamente ter-se-ão deslocado das Montanhas de Nafusa para Tripoli, que tem estado cercada e sob fogo pelas forças pró-Kaddafi desde o inicio de Março.
 
“É inacreditável que as famílias destes homens não tenham conhecimento do que lhes aconteceu,” considera a Amnistia Internacional.
 
“Tendo em conta o que sabemos sobre o tratamento que as autoridades de Tripoli dão aos prisioneiros, temos todas as razões para temer pela sua segurança e bem estar.”
 
Os habitantes de Nafusa acreditam que os soldados colocaram sob alvo as pessoas que acreditam estarem envolvidas nos protestos apoiados pela oposição, ou que estavam a organizar abastecimentos à região cercada.
 
Membros das famílias disseram à Amnistia Internacional que parentes seus foram detidos pelas forças de al-Kaddafi quando foram comprar bens necessários básicos. Alguns apareceram posteriormente na televisão estatal da Líbia a “confessar” que sofriam pressão para agir contra os melhores interesses do país, mas a maioria simplesmente desapareceu.
 
Um pai de 37 anos, participante nos protestos pacíficos e que vivia na cidade de Nalut, desapareceu no inicio de Março depois de ter ido comprar peças de reposição para o seu carro com um familiar e um amigo.
 
A sua família telefonou-lhe insistentemente até finalmente atender, dizendo apressadamente: “Vou para Tripoli, tomem conta das crianças.” Desde então, o seu telefone tem estado desligado. A sua família crê que ele está detido na Prisão de Ain Zara, em Tripoli.
 
A organização alertou as autoridades de Tripoli para libertarem imediatamente todas as pessoas detidas exclusivamente por participarem em protestos pacíficos, assegurando que qualquer alegado ou reconhecido rebelde seja tratado humanamente e de acordo com o Direito Internacional.
 
Em Março, a Amnistia Internacional documentou uma campanha de desaparecimentos forçados levada a cabo contra os opositores do Coronel al-Kaddafi na Líbia oriental.
 
A Amnistia Internacional alerta também as autoridades de Tripoli para que cessem os bombardeamentos indiscriminados, quase diários, das forças pró-al-Kaddafi em áreas ocupadas por civis nas Montanhas de Nafusa, incluindo o uso de rockets Grad.
 
No início de Abril, as tropas de al-Kaddafi cercaram a cidade de al-Qalaa e dispararam rockets Grad. De acordo com relatórios, foi bombardeado o hospital e a mesquita, assim como várias casas, foram ainda destruídas quintas e foi morto gado.
 
A organização afirma haver uma necessidade urgente de todas as partes envolvidas no conflito garantirem o acesso seguro de organizações humanitárias à região, à medida que as condições de vida destas pessoas pioram dramaticamente.
 
Pessoas que fugiram para a Tunísia disseram à Amnistia Internacional que há uma redução no fornecimento de alimentos, especialmente de produtos frescos e leite para bebés.
 
Disseram também que a água escasseia, devido à destruição deliberada de alguns poços de água pelas forças de al-Kaddafi, e que os principais poços de água, em áreas controladas pelas forças de al-Kaddafi, foram danificados.
 
“As autoridades de Tripoli não podem esperar matar à fome os civis que se encontram nas Montanhas de Nafusa, obrigando-os à submissão,” afirmou a Amnistia Internacional.
 
“As autoridades devem levantar imediatamente as restrições de acesso à água, electricidade, combustível e outras necessidades básicas.”
 
O relatório é baseado maioritariamente numa visita realizada à Tunísia, entre 6 e 20 de Abril de 2011, com o objectivo de investigar e durante a qual a Amnistia Internacional conheceu pessoas que fugiram da região de Nafusa.

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