31 Agosto 2011

 

Pessoas suspeitas de terem lutado pelo Coronel Mu’ammar al-Kadhafi, em particular líbios negros e africanos subsaarianos, correm risco de abuso por parte das forças anti-Kadhafi, afirmou a Amnistia Internacional no dia 30 de Agosto, depois de ter testemunhado líbios negros a serem considerados um alvo em Tripoli, no dia 29 de Agosto.
 
Uma delegação da Amnistia Internacional, que visitou o Hospital Central de Tripoli, testemunhou três revolucionários thuwwar, nome pelo qual os combatentes da oposição são comummente conhecidos, a arrastarem um paciente negro da cidade ocidental de Tawargha da sua cama, detendo-o. Os homens estavam vestidos à paisana. Os thuwwar disseram que o homem seria levado para Misratah para interrogatório, argumentando que os interrogadores em Tripoli “deixam os assassinos em liberdade”.
 
Dois outros líbios negros que recebiam tratamento no hospital por ferimentos de balas foram avisados pelas forças anti-Kadhafi que a “sua vez estava a chegar”.
A delegação também testemunhou um grupo de thuwwar a agredir um homem fora do hospital. O homem gritava com aflição “não sou um quinto colunista”, como as pessoas leais a al-Kadhafi são conhecidas.
 
“No espaço de uma hora, a Amnistia Internacional testemunhou um homem a ser agredido e outro a ser arrastado da sua cama de hospital para um destino desconhecido”, afirmou Claudio Cordone, Director sénior da Amnistia Internacional. “Temos de temer pelo que poderá estar a acontecer aos detidos fora da vista dos observadores independentes”, acrescentou.
 
Em Maio, o Conselho Nacional de Transição emitiu orientações para as suas forças agirem de acordo com o direito e padrões internacionais. Numa outra decisão, o Conselho Nacional de Transição enviou uma mensagem nos últimos dias aos utilizadores de telemóveis líbios instando os seus apoiantes a tratar os prisioneiros com dignidade e evitar ataques por vingança.
 
“Congratulamos estas iniciativas do Conselho Nacional de Transição. Mas o Conselho deve fazer mais para assegurar que os seus combatentes não abusam dos detidos, especialmente dos mais vulneráveis como os líbios negros e os africanos subsaarianos”, afirmou Claudio Cordone.
 
“Os combatentes envolvidos em abusos devem ser imediatamente afastados do serviço activo, aguardando investigação”.
 
“Todos os crimes, independentemente de quem os cometeu, devem ser investigados e os responsáveis levados à justiça”, acrescentou.
Os combatentes thuwwar disseram à Amnistia Internacional que iriam retirar o paciente de Tawargha do hospital porque não estavam satisfeitos com o facto da equipa do hospital estar prestes a libertar um homem que acreditavam ser leal ao Coronel Mu’ammar al-Kadhafi.
 
Tawargha é a cidade de muitos líbios negros. Na convicção dos moradores de Misratah, a cidade está associada às piores violações cometidas tanto durante o cerco a Misratah que durou um mês como no incessante bombardeamento no início do ano.
 
Apesar dos protestos da Amnistia Internacional, o médico de serviço autorizou a “detenção” e o paciente foi levado.
 
Os africanos subsaarianos são particularmente vulneráveis a abusos. Muitos correm o risco de sofrer represálias devido ao alegado uso de “mercenários africanos” por parte das forças de al-Kadhafi em violações generalizadas durante o conflito.
 
Em visitas recentes a centros de detenção em al-Zawiya e a Tripoli, a Amnistia Internacional tomou conhecimento de que, entre um terço e metade das pessoas detidas eram provenientes da África Subsariana.
 
A 29 de Agosto, a Amnistia Internacional examinou o corpo de um homem negro não identificado na morgue do Centro Médico de Tripoli. O homem tinha sido levado para a morgue nesse dia por um indivíduo desconhecido. Os seus pés e o seu torso estavam amarrados. Não tinha qualquer ferimento visível, mas tinha sangue à volta da sua boca. O estado do seu corpo apontava para uma morte recente. Não foi disponibilizado um relatório da autópsia e não foram encontrados documentos de identificação.
 
A 28 de Agosto, a Amnistia Internacional visitou um grupo de eritreus que se escondiam em casa num bairro pobre de Tripoli. Disseram à organização que se mantinham nas suas casas por receio de serem vítimas de ataques violentos. A sua situação era particularmente preocupante dada a falta de electricidade e água corrente.

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