19 Agosto 2013

É urgente uma investigação completa, imparcial e eficaz à chocante quantidade de vidas perdidas nas últimas semanas no Egito, com responsabilização de todos os que cometeram ou ordenaram a repressão letal injustificável, afirmam os líderes da Amnistia Internacional de todo o mundo, reunidos em Berlim desde esta segunda-feira, 19 de agosto.

O número de mortos no Egito é já superior a 800 desde o dia 14 de agosto, quando começou a repressão violenta sobre os apoiantes do presidente deposto Mohamed Morsi. Comparando, nos 18 dias da ‘Primavera Árabe’ morreram 846 pessoas. Os investigadores da Amnistia Internacional têm estado no terreno a recolher depoimentos e factos, compilados num briefing.

Uma estudante de medicina descreveu como o hospital onde se encontrava teve de ser evacuado: “as forças de segurança estavam a atacar o hospital. Os médicos disseram-nos para fecharmos as cortinas e janelas para evitar que entrasse gás lacrimogéneo [que estava a ser disparado]. Outro médico disse que as forças de segurança tinham entrado no edifício. Um segurança bateu-me com o cano da arma nas costas e empurrou-me para as escadas. (…) Disseram-nos para levarmos os corpos e os pacientes. O primeiro andar estava a arder”.

Salil Shetty, secretário-geral da Amnistia, conclui: “O governo interino egípcio já manchou o registo em termos de direitos humanos – primeiro ao quebrar a promessa de usar apenas armas não letais para dispersar os manifestantes pacíficos pró-Morsi e a promessa de criar saídas seguras para todos os feridos, depois ao vir justificar as suas ações apesar da trágica perda de vidas”.

E continua: “Mesmo que alguns manifestantes pró-Morsi tenham usado de violência, tal não poderia nunca justificar uma resposta tão desproporcional. Tal facto também não deveria ser usado como pretexto para reprimir todos os apoiantes da Irmandade Muçulmana, sem distinguir os que usam e incitam à violência, dos que simplesmente expressam a sua opinião”.

 

Reunião bienal da Amnistia Internacional

As declarações de Salil Shetty foram proferidas em nome dos líderes da Amnistia Internacional de todo o mundo, esta semana juntos em Berlim para a bienal Reunião do Conselho Internacional, órgão magno do movimento. A secção portuguesa está também representada.

Uma das primeiras ações dos participantes foi pedir ao governo egípcio que ponha fim ao uso excessivo e desnecessário da força e que comecem a ser realizadas investigações independentes e imparciais aos acontecimentos.

“Como as autoridades egípcias têm um registo fraco no que diz respeito a responsabilizar membros das forças de segurança”, a Amnistia Internacional está a apelar aos “peritos das Nações Unidas – particularmente ao Relator Especial sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias –, que investiguem as circunstâncias da violência e o padrão de uso excessivo e injustificado da força letal”, diz Salil Shetty.

A Amnistia Internacional tem ainda registado, particularmente nos últimos dias, o aumento da violência por parte dos manifestantes pró-Morsi, deposto a 3 de julho. Tal inclui o uso de armas de fogo e ataques a edifícios governamentais, esquadras da polícia e a seguranças. Elementos das forças de segurança têm sido capturados e mal tratados e há relatos de um polícia que foi decapitado a 14 de agosto.

Os manifestantes também confessaram à Amnistia Internacional o uso de pedras e de cocktails molotov, bem como carros da polícia incendiados. Alguns manifestantes dispararam munições reais contra residentes, incluindo crianças, e sobre pessoas suspeitas de serem oponentes de Morsi. Todos os que usaram de violência devem ser responsabilizados criminalmente.

A Amnistia Internacional pede ainda às autoridades egípcias que protejam as minorias, pois tem havido um aumento alarmante e sem precedentes da violência sectária contra os cristãos coptas, por todo o país, presumivelmente como forma de retaliação ao seu alegado apoio à destituição de Morsi. As forças de segurança têm falhado em proteger estas pessoas (ver notícia).

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