13 Fevereiro 2016

Ali al-Nimr tinha apenas 17 anos quando foi detido a 14 de fevereiro de 2012, alguns meses depois de ter participado em manifestações contra o Governo na Arábia Saudita. Foi condenado à pena de morte, apesar de ser menor quando foi detido e na sequência de um julgamento profundamente injusto baseado em “confissões” que o jovem diz ter feito sob tortura. Aguarda agora a execução. A mãe de Al-Nimr, Nassra al-Ahmed, conta aqui a história do que têm vivido.

“Quando ouvi pela primeira vez a sentença de execução do meu menino, foi como se um raio me tivesse atingido na cabeça. Fiquei desolada e foi como se me arrancassem o que tenho de mais belo e que mais amo.

A ausência do meu filho deixou o meu coração exausto. Choro constantemente, ansiando por ele. Estou tomada por completo pelas saudades das suas feições angelicais. O seu sorriso está sempre presente no meu pensamento e as memórias fazem-me chorar sempre que vejo uma das fotografias dele.

Tudo o que era belo

Antes da detenção do Ali, a minha família tinha uma vida normal. Ele era uma criança bonita e agradável que ficava cada vez mais bonita ao crescer. A beleza dele era impulsionada pelo seu coração generoso, o amor pelos outros e valores morais lindos. Ele amava tudo o que é belo: Alá, as virtudes, a Natureza, o mar, o sol, as árvores e os animais.

Não há espaço no coração do Ali para o desespero. Ele foi sempre otimista, sempre com um sorriso. Gostava de ler e de fotografia, e passava a maior parte do tempo a tratar, limpar e alimentar os pássaros. Ele não gostava de os ter fechados nas gaiolas – deixava-os voar à vontade no quintal, onde ninguém os podia incomodar.

O pai costumava levá-lo nas viagens de negócios e depressa percebeu a paixão do filho por viajar e pelo conhecimento. Ele estava sempre a fazer perguntas sobre as origens das diferenças na comida e nos costumes entre os povos. Ele até se questionava sobre as diferenças entre as fés das pessoas. Costumava dizer: ‘Os cristãos adoram Deus, os muçulmanos adoram Alá, então porque é que são diferentes uns dos outros?’

O sabor amargo da prisão

Chorei e gemi quando o levaram, mas nunca esperei continuar a chorar e gemer durante quatro longos anos. Ele foi levado para longe do calor da nossa casa e enfiado no frio gelado de prisões escuras. Ficou longe de casa e dos entes queridos, a provar o sabor insípido e amargo da vida nas celas da prisão.

Nada foi mais doloroso para mim do que ver o meu filho na prisão. Eu ansiava por vê-lo, mas tive de virar a cara porque não o consegui reconhecer. Não era o corpo dele, nem a voz dele, porque tinha sido torturado.

Não foi preciso dizer-me o que acontecera pois a cara dele, as mãos, os pés, todo o corpo falou por ele. Eram perfeitamente visíveis os ferimentos e hematomas por todo o corpo. Ele estava fraco e desgastado e muito claramente amarelado e frágil. Tudo isso era o resultado de ter sido espancado e pontapeado.

Generosidade, paixão e um coração bondoso

Com o Ali ausente, tenho saudades de muitas coisas, e há muitas coisas na vida que também têm saudades dele. Que sentem a falta dele, a presença e a generosidade. Tudo em casa sente a falta do toque dele, da sua paixão e coração bondoso.

Sempre que choro, imagino o Ali a limpar as minhas lágrimas e a dar-me palmadinhas suaves na cabeça, a dizer-me: ‘Não chores mãezinha, não me ponhas o coração triste’. Eu costumava esperar pela luz do dia, à noite. Mas agora não distingo as noites dos dias; ambos colapsaram na escuridão. Tenho dores de cabeça todas as noites e as insónias controlam-me ao ponto de eu agora odiar o momento em que cai a noite.

O Ali é vida, e a vida não pode florescer sem ele; ele traz vida ao espaço e pulso ao tempo. Ele é a luz sem a qual a vida não é bela aos nossos olhos.

Esperança e liberdade

Rogo a todas as pessoas, a toda a humanidade, para que apelem às autoridades para que libertem o meu filho. Ele deveria estar livre para viver a vida a que aspira, como um jovem cheio de ambição e do desejo de dar. Pelo menos, devem dar-lhe um novo julgamento, que seja público e justo e que cumpra os padrões internacionais. Um julgamento sustentado em provas em vez de acusações falsas.

Estou totalmente convencida de que o meu filho é inocente. E continuo a ter uma esperança inamovível que não desvanece, apesar de todas as dificuldades e desafios. E esta esperança irá materializar-se; Ali reconquistará a liberdade e emergirá mais otimista e generoso do que nunca.

Apesar de tudo, o estado de espírito do Ali é bom, graças a Deus. Ele diz: ‘Sou um homem que vive de esperança. Se isso acontecer, serei grato a Alá. Se não acontecer, viverei feliz graças à esperança que mantenho’. Da mesma forma, eu, mãe dele, vivo da esperança, porque aquilo em que o meu filho acredita é a escolha certa, para que a vida possa continuar.”

 

Ajude a salvar Ali al-Nimr da execução: junte-se ao apelo da Amnistia Internacional dirigido ao rei Salman da Arábia Saudita para que anule a condenação e a sentença de morte proferida contra Ali al-Nimr, e dois outros jovens ativistas Abdullah al-Zaher and Dawood Marhoon – que também foram detidos quando eram menores e enfrentam a pena capital por terem participado nas mesmas manifestações. Com todas as instâncias de recurso esgotadas, os três jovens podem ser executados a qualquer momento. Assine a petição!

 

Artigos Relacionados