2 Fevereiro 2012

A Amnistia Internacional defende que as autoridades paquistanesas devem reunir mais esforços para proteger a comunidade Ahmaddiya, uma minoria no país, depois de grupos religiosos terem ameaçado impedir os Ahmadis de entrarem na sexta-feira no seu local de culto em Rawalpindi.

Segundo um porta-voz Ahmadi, alguns grupos religiosos locais terão avisado que não iriam permitir os Ahmadis de prosseguirem com as suas actividades religiosas na sexta-feira.
A ameaça chega uma semana depois de 5 mil pessoas se terem manifestado a favor da demolição de Ewan-e-Tauheed, um dos maiores locais de culto dos Ahmadi na cidade de Rawalpindi.

“Um verdadeiro teste ao compromisso das autoridades em defenderem os direitos humanos é perceber se os Ahmadis e outras minorias religiosas podem praticar livremente a sua religião. As autoridades devem assegurar que os Ahmadis, assim como todos os paquistaneses, não sejam impedidos de exercer o seu direito de expressarem livremente a sua religião”, afirma Sam Zarifi, diretor da Amnistia Internacional para a Ásia e Pacífico.

“A polícia destacou alguma proteção para o Ewan-e-Tauheed no encontro da última sexta-feira. Esta é uma medida importante, mas o governo paquistanês tem de fazer mais para combater esta campanha sistemática e disseminada contra as minorias religiosas no Paquistão”, acrescenta.

Em 2010, as autoridades ignoraram os avisos constantes e não conseguiram prevenir os ataques em dois locais de culto dos Ahmadi em Lahore, o que acabou por resultar na morte de 93 pessoas.

Dezenas de sepulturas Ahmadi foram alvo de vandalismo em Dezembro, situação que se repetiu no mês passado em Quetta, na província do Balochistão.

O encontro da passada sexta-feira, organizado por sindicatos e grupos religiosos, incluindo Jamaatud Dawa, Jamaat-i-Islami e Ahle Sunnat Wal Jamaawas, contou também com a presença de Zia Ullah Shah, membro da Assembleia do Punjab, que faz parte da Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz, o partido político que governa a província.

“Com as eleições a acontecerem este ano, os partidos têm de resistir à tentação de procurarem o voto fácil, apoiando a hostilidade contra os Ahmadis ou outras minorias religiosas”, conclui Sam Zarifi.

A comunidade Ahmaddyia é um grupo religioso que acredita fazer parte do Islão, apesar de muitos grupos muçulmanos defenderem que estes não adotam o mesmo sistema de crença.

Em 1974, o parlamento paquistanês aprovou uma lei que definia os Ahmadis como não muçulmanos e em 1984 foram legalmente impedidos de se identificarem e auto-proclamarem como tal. Ao longo do tempo, dezenas de Ahmadis têm sido acusados de ofensas religiosas, tais como fazerem a chamada para a oração, pregarem a sua fé e de intitularem “mesquita” ao seu local de culto.

Os ataques a minorias religiosas têm piorado com a aprovação das leis de sacrilégio pelo governo paquistanês, o que tem favorecido um clima de perseguição religiosa e de violência. Estas acusações acabam por levar muitas vezes à morte tanto de muçulmanos como de membros de outras minorias.

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