12 Agosto 2020

A COVID-19 afetou os mais novos, com limitações no acesso à educação ou incertezas ao nível do emprego. Mas os jovens também têm sido dos mais ativos a encontrar respostas à pandemia e a defender os direitos humanos. Sete ativistas de diversos países partilharam histórias com a Amnistia Internacional sobre as iniciativas incríveis que criaram ou ajudaram a desenvolver para apoiar as suas comunidades.

 

Máscaras solidárias

No Senegal, Mamadou Diagne entregou mil máscaras a algumas das pessoas mais expostas à COVID-19, como os comerciantes. Estes devem usar os dispositivos de proteção individual e desinfetante para as mãos de acordo com as regras estabelecidas pelas autoridades locais. As máscaras doadas por este jovem de 25 anos e os seus colegas voluntários foram enviadas por um antigo ativista da Amnistia Internacional que agora vive nos Países Baixos.

“As pessoas ficam felizes ao receber estas máscaras porque nem todos têm possibilidade de ter uma. Os comerciantes estão em contacto com pessoas todo o dia, portanto, estão mais expostos. Se forem infetados, podem espalhar o vírus rapidamente. Também queremos distribuir máscaras a mendigos e crianças talibé (forçadas a mendigar por professores do Alcorão). São pessoas vulneráveis ​​porque, como os comerciantes, estão em contacto com outras numa base diária. Combater esta pandemia não é fácil. As pessoas têm medo do coronavírus. Se ouvirem um boato de que esta ou aquela pessoa tem COVID-19, são estigmatizados e a pessoa infetada é humilhada”, conta Mamadou Diagne.

 

Luta contra a xenofobia

Heidy Quah, fundadora da organização não-governamental (ONG) Refuge for the Refugees da Malásia, tem ajudado algumas das pessoas mais marginalizadas da sociedade. A ONG oferece educação para crianças refugiadas, mas durante a pandemia teve de se adaptar para responder às necessidades destas famílias, distribuindo produtos essenciais, como arroz, ovos e leite em pó, a quem foi afetado pelas ordens de restrição de movimento, introduzidas para impedir a disseminação da COVID-19. Além disso, tem colocado na agenda o tratamento dado pelo governo da Malásia aos refugiados durante a atual crise.

Com o pretexto de lutar contra a pandemia, as autoridades detiveram milhares de migrantes sem documentos, incluindo crianças, colocando-os em centros de detenção. As entradas de Heidy Quah no Facebook a denunciar as condições deploráveis ​​nesses locais resultaram em ameaças de morte, assédio online e interrogatórios da polícia. No entanto, ela está determinada em fazer ouvir a sua voz. O direito à liberdade de expressão, desta jovem e de todos os outros ativistas, foi defendido pela Amnistia Internacional.

“As detenções em massa levaram à sobrelotação dos centros de detenção. Por essa razão, observámos um aumento do número de casos de COVID-19 que, por causa do ambiente restrito, se propaga como um incêndio. Ouvimos histórias de bebés que nasceram em centros de detenção e são logo testados como positivos. Agora, a situação é terrível”, explica a jovem de 26 anos.

 

Livros para crianças

Mohib Faizy, que estuda Tecnologias da Informação na Universidade Americana do Afeganistão, tem oferecido a possibilidade a centenas de crianças de conhecerem livros. Aos 19 anos e através de uma ferramenta de gravação de vídeo, o jovem fez filmes de si mesmo a ler histórias infantis que contêm mensagens poderosas sobre a humanidade. Os vídeos são postados na página do Facebook da LEARN, uma ONG que se dedica a fornecer educação de qualidade a crianças afegãs, e enviados em pen drives para professores e crianças de todo o país.

“O meu amigo Pashtana Durrani, que é ativista da Amnistia Internacional, partilhou comigo um site que contém muitos livros em pashto e dari para crianças. Escolhi apenas aqueles que eram realmente úteis e tinham uma ótima mensagem para os mais novos. Antes de gravar os vídeos, leio sempre o livro. Em muitos distritos, as crianças não têm acesso a educação. Estamos a criar escolas para eles. O nosso plano é distribuir tablets que já tenham guardados esses livros para ajudar alunos com mais necessidades, mas que mostraram o desejo de aprender e ter acesso a educação. Sempre quis melhorar a minha sociedade, por isso é uma grande oportunidade para servir o meu povo”, afirma Mohib Faizy.

 

Arte pela inclusão

Na Austrália, a jovem Fin Spalding, de 21 anos, faz parte de um grupo de jovens ativistas da Amnistia Internacional que está a desenvolver uma campanha online de “Artivism”, combinando arte e ativismo em apoio das pessoas LGBTI. A iniciativa não é apenas uma forma de expressão individual dos participantes, mas também pretende destacar a situação difícil pela qual alguns passam simplesmente por serem quem são.

“É um facto bem conhecido que a comunidade queer usou a arte para se expressar e nós, como comunidade, expandimos os limites do que é a arte. Esta campanha é sobre visibilidade na pandemia de COVID-19 e quisemos trazer alguma luz para as pessoas queer na sociedade australiana. Embora aborde a discriminação que enfrentam, também vai funcionar para mostrar o talento artístico que existe”, nota Fin Spalding.

 

Quarentena em segurança

Farkhad Musazov presta apoio a jovens LGBTI que cumprem a quarentena em espaços inseguros, incluindo as casas das suas famílias, no Quirguistão. A organização deste ativista de 24 anos, a Kyrgyz Indigo, facilita o acesso a psicólogos ou advogados, disponibilizando todos os contactos necessários e online. Além disso, fornece ajuda humanitária e segurança em cinco abrigos temporários para pessoas LGBTI, incluindo ativistas. Com a colaboração de outra organização, a Labrys, distribui alimentos, produtos de higiene pessoal e equipamentos de proteção, como luvas e máscaras, a centenas de pessoas LGBTI no país.

“Muitas pessoas LGBT+, que perderam empregos e rendimentos durante a pandemia, foram forçadas a voltar para as suas famílias. Mas estão a ter dificuldade em se expressarem. As famílias querem controlar o que fazem e o que dizem. Além disso, a geração mais velha é, na maioria, muito conservadora e religiosa, o que significa que as pessoas LGBT+ podem enfrentar muita tensão e hostilidade em casa. Muitas sofrem violência doméstica e não têm a quem recorrer”, alerta Farkhad Musazov.

 

Cabazes para refugiados

Hasan Al-Akraa, um estudante de origem síria de 20 anos, conhece bem as dificuldades que os refugiados enfrentam. Mesmo em tempos normais, pode ser um desafio terem comida em cima da mesa ou um abrigo. Com a COVID-19, a vida destas pessoas tornou-se ainda mais precária.

Recentemente, Hasan Al-Akraa juntou-se à Amnistia Internacional para partilhar a sua experiência e apoiar migrantes e refugiados. Através da Al-Hasan Volunteer Network, também fornece cabazes a famílias de refugiados na Malásia, onde está a viver, e tem organizado campanhas de crowdfunding para pagar taxas hospitalares e rendas de casa a quem se encontra em dificuldades, em particular mães solteiras, órfãos, doentes e famílias com seis ou sete bocas para alimentar.

“Durante a ordem de controlo de movimento, todos estavam a lutar, não apenas os refugiados. Malaios também. Mas precisamos de perceber que, para aqueles que já estavam em dificuldades, a luta é dupla. Não podemos simplesmente esquecê-los. Isso inclui refugiados, famílias com baixos rendimentos e necessidades de habitação. Não queremos ver famílias nas ruas. Não queremos ver crianças a viver nas ruas. Não queremos alguém à espera de dar à luz num hospital, sem ser aceite numa enfermaria. Não queremos ver alguém a morrer ou a ficar pior sem a nossa intervenção. Não queremos ver ninguém a ir para a cama com fome”, enumera Hasan Al-Akraa.

 

Ativismo online

Na Polónia, Sandra Grzelaszyk, de 20 anos, tem feito campanha pelos direitos das mulheres, em particular pelo direito de acesso ao aborto. O país tem algumas das legislações mais rígidas da Europa e, no início deste ano, um projeto de lei foi apresentado ao parlamento para proibir o aborto em casos de deficiências fetais graves e fatais. Incapaz de protestar nas ruas por causa do confinamento, Sandra e outras pessoas apostaram no ativismo online. Com fotos e vídeos, convidaram todos a fazer parte do protesto, assinando a petição da Amnistia Internacional da Polónia para impedir que o projeto de lei fosse aprovado. Até agora, a iniciativa juntou mais de 80 mil subscritores.

“Os líderes estão a usar a pandemia para alargar poderes ou mudar leis. Ficámos bastante indignados porque o governo fez algo deste género durante um período muito difícil para todos, sem que houvesse a oportunidade de protestar contra isto. A escolha de fazer um aborto é sempre uma escolha individual. Somente a própria mulher pode saber qual decisão é a melhor para si”, defende Sandra Grzelaszyk.

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