23 Agosto 2012

Os civis estão a sofrer níveis terríveis de violência no conflito entre as forças do governo sírio e as forças da oposição pelo controlo da cidade de Alepo – a maior cidade do país e capital comercial – afirma a Amnistia Internacional num novo documento sobre a Síria.

Este documento de 11 páginas (e imagens de vídeo que o acompanham) baseia-se em investigações no terreno em primeira mão realizadas pela Amnistia Internacional na primeira metade de Agosto.

Documenta o crescente uso de ataques de artilharia aérea por parte das forças armadas do governo sírio a zonas residenciais, resultando frequentemente em ataques indiscriminados que colocam em sério perigo a vida de civis.

“O uso de armas imprecisas, como bombas não guiadas, granadas de artilharia e morteiros por parte das forças do governo aumentou dramaticamente o perigo para os civis”, afirma Donatella Rovera, Consultora Sénior de Resposta a Crises da Amnistia Internacional, que regressou recentemente de Alepo.

Durante uma visita de dez dias à cidade, a Amnistia Internacional investigou cerca de 30 ataques nos quais vários civis não envolvidos em hostilidades, entre os quais crianças, foram mortos ou feridos nas suas casas, nas filas para o pão e mesmo em lugares onde os deslocados do conflito se abrigavam, como resultado de ataques indiscriminados contra bairros residenciais.

Os ataques frequentemente falharam em distinguir entre forças da oposição e civis residentes no local, e aparentam ter sido aleatoriamente dirigidos a bairros que estão sob controlo de facto de forças da oposição, e/ou onde as forças da oposição operam ou estão sediadas, em vez de objetivos militares específicos.

Entre as vítimas destes ataques, encontram-se dez membros da família Kayali, sete dos quais crianças, que foram mortos quando as suas casas foram reduzidas a escombros por dois ataques aéreos na tarde de 6 de agosto.

Algumas das vítimas faleceram nos locais onde tinham procurado abrigo, tendo sido forçados pelo conflito a fugir das suas casas. Entre elas encontra-se Amina Hindi, que foi assassinada  juntamente com o seu marido, mãe, e sobrinha de três meses. Ela e o marido tinham fugido de casa devido ao conflito e estavam a residir com o irmão dela, cuja casa foi bombardeada a 8 de agosto.

O documento relata também como civis foram mortos e feridos em filas para comprar pão – com a atual escassez de pão em Alepo, há longas filas fora de padarias, dia e noite. A 12 de agosto, às 3 da manhã, uma rapariga de 13 anos, Kifa’Samra, e o seu irmão de 11 anos, Zakarya, foram mortos juntamente com a sua vizinha, mãe de 11 filhos, enquanto esperavam numa fila para comprar o pão, perto de sua casa.

“Civis têm de enfrentar uma chuva de ataques de artilharia aérea por parte das forças do governo em diferentes partes da cidade. Para muitos, simplesmente não há lugar seguro e as famílias vivem em temor do próximo ataque”, afirma Donatella Rovera.

Os riscos inerentes ao conflito urbano são agravados por um claro desprezo pela segurança dos civis.

“Com o aumento das baixas de civis, é imperativo que todas as fações – forças do governo e forças de oposição – cumpram o direito internacional humanitário, que requer que tomem todas as precauções possíveis para poupar as vidas dos civis”, afirma Donatella Rovera.

“Os responsáveis por ataques indiscriminados a civis e outros crimes de guerra devem esperar ser responsabilizados”.

A esmagadora maioria das vítimas foi morta em ataques aéreos e de artilharia por forças do governo, enquanto nalguns casos a fonte do ataque não foi confirmada.

As forças da oposição, apesar de combaterem principalmente com armas ligeiras de curto alcance, recorreram por vezes a armas imprecisas ou de impacto indiscriminado (como morteiros e foguetes caseiros) que representam igualmente perigo para os civis.

Um outro desenvolvimento incrivelmente perturbador destacado no documento é o forte aumento de execuções extrajudiciais e sumárias de civis não envolvidos no conflito por parte de forças do governo. Corpos de, principalmente, homens novos, geralmente algemados e baleados na cabeça, foram frequentemente encontrados largados perto da sede dos serviços de inteligência da Força Aérea, que é completamente controlada pelas forças do governo.

Enquanto o conflito prossegue, há também crescentes preocupações com o aumento de violações de Direitos Humanos, incluindo homicídios e maus tratos a prisioneiros por parte das forças da oposição pertencentes a vários grupos armados, incluindo o Exército Livre Sírio (ELS), que opera na cidade.

A Amnistia Internacional apelou repetidamente aos líderes do ELS que agissem no sentido de pôr um fim imediato a estas violações e para assegurar que estes e outros homicídios de prisioneiros sejam investigados de forma imparcial.

“É uma vergonha que a comunidade internacional continue dividida relativamente à situação da Síria, ignorando o conjunto de provas da escala e da gravidade dos abusos dos Direitos Humanos cometidos na Síria e olhando efetivamente para o lado enquanto os civis têm que suportar as consequências”, afirma Donatella Rovera.

 

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