9 Outubro 2014

O governo turco tem de agir para pôr fim à espiral de violência que continua a abalar o sudeste predominantemente curdo da Turquia, apela a Amnistia Internacional. Foram já registados 19 mortos e muitos feridos nos protestos que eclodiram com o avanço do grupo armado que se autointitula Estado Islâmico (EI) em direção à fronteira da Síria com a Turquia.

“É fundamental que as autoridades turcas atuem agora para acalmar as tensões, com um policiamento firme mas respeitador dos direitos humanos, e que assumam o compromisso de investigar convenientemente as mais de 19 mortes e dezenas de feridos registados entre os manifestantes”, reitera o investigador da Amnistia Internacional para a Turquia, Andrew Gardner. “O uso da força pelas autoridades só deve ocorrer em respeito pelos padrões internacionais de direitos humanos, particularmente os princípios de necessidade e proporcionalidade”, acrescenta.

As manifestações foram desencadeadas pelo ataque do grupo armado EI à cidade de Kobani/Ayn Al-Arab, na Síria, que está sob o comando das Unidades de Defesa do Povo curdo (conhecidas pela sigla YPG). A YPG está na cidade desde julho de 2012. Desde julho de 2013 que o Estado Islâmico tem montado cerco à cidade e desde setembro de 2014 que o ataque tem sido mais sustentado.

Mais de 18 pessoas terão sido baleadas ou espancadas até à morte nos confrontos violentos que eclodiram na região entre manifestantes aliados às YPG e grupos islâmicos que se dizem simpatizantes do EI. Os manifestantes aliados às YPG acusam o governo turco de não estar a fazer nada para prevenir a morte de curdos em Kobani ou para travar o avanço do EI.

Na cidade turca de Varto, na província oriental de Muþ, um jovem foi morto depois da polícia usar balas reais contra os manifestantes que atiravam pedras. As autoridades tentaram restaurar a ordem na região juntando a polícia ao exército e à polícia militar e decretando o recolher obrigatório. Confrontos com a polícia foram também registados nas três maiores cidades da Turquia: a capital, Ancara, Istambul e Ýzmir.

No último mês, com a chegada do EI perto da cidade de Kobani, mais de 200.000 refugiados curdos da região fugiram para a Turquia. Acredita-se que mais de 5.000 civis continuem na região de Kobani, onde confrontos armados decorrem entre o EI e as YPG.

Alguns refugiados, que a 25 de setembro chegaram à fronteira turca provenientes de Kobani e das aldeias circundantes, contaram aos investigadores da Amnistia Internacional sobre assassinatos em larga escala de civis curdos e outros abusos cometidos à medida que as forças do EI avançam.

“É fundamental que nesta situação volátil – e face a relatos que dão conta de que o EI está a tentar cortar as rotas de saída para a Turquia através de Kobani – que a fronteira turca continue aberta para os refugiados vindos da Síria”, conclui o investigador da Amnistia Internacional.

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