25 Outubro 2012

Um clima de medo assola a Guiné-Bissau desde terça-feira após dois críticos do governo terem sido gravemente agredidos e os soldados terem iniciado rusgas procurando suspeitos de envolvimento num ataque a um quartel militar que teve lugar no domingo.

O governo alega que o ataque ao quartel de uma unidade militar de elite nos subúrbios da capital, Bissau, foi uma tentativa de golpe de Estado por parte dos apoiantes do anterior Primeiro-Ministro Carlos Gomez Júnior, também destituído após um golpe de Estado em abril.

“É inaceitável que os civis estejam a ser aterrorizados pelo facto de viverem numa área onde o exército suspeita que se escondem os apoiantes do antigo governo”, disse Noel Kututwa, Diretor da Amnistia Internacional do Sul de África.

“É imperativo que as autoridades defendam o Estado de direito e investiguem este ataque em vez de perseguir os políticos da oposição”.

Na terça-feira, 23 de outubro, dois proeminentes críticos do governo de transição foram violentamente agredidos por soldados, alguns dos quais vestidos à civil.

Iancuba Indjai, líder do Partido da Solidariedade e Trabalho, foi agredido, metido num carro e largado a 40km da cidade. Foi reconhecido por habitantes locais e mais tarde a família foi buscá-lo. Encontra-se de momento numa embaixada a receber tratamento médico.

IIancuba Indjai também é porta-voz da Frente Nacional Anti Golpe – FRENAGOLPE, (uma plataforma de partidos políticos e da Sociedade Civil criada para contestar o golpe de Abril)

Após o golpe em abril, Iancuba Indjai teve de se esconder, visto que o exército o procurava para o prender.

Mais tarde na terça-feira, Silvestre Alves, advogado e presidente do Movimento Democrático Guineense, foi levado do seu escritório e também gravemente agredido e largado a norte de Bissau. Encontra-se atualmente hospitalizado numa unidade de cuidados intensivos, tem ferimentos graves na cabeça e duas pernas partidas.

As autoridades acusaram agora o antigo secretário de Estado das pescas, Tomas Barbosa, de conspiração no ataque de domingo, e estão à sua procura. De acordo com informação recebida pela Amnistia Internacional, encontrou refúgio numa embaixada.

Outros membros do governo deposto em abril refugiaram-se também em embaixadas. Alguns deles viveram já escondidos durante meses no seguimento do golpe de Estado em abril.

“Estes atos selvagens servem apenas para deteriorar a situação de Direitos Humanos no país e aumentar o clima de medo”, disse Noel Kututwa.

“Esta caça às bruxas devem terminar e os autores destes ataques perversos devem ser levados à justiça, ou o ciclo de violência que afeta a Guiné-Bissau há décadas nunca terá fim”.

O golpe de Estado em abril aumentou a instabilidade política e fragilidade da Guiné-Bissau e acentuou a tensão entre as autoridades militares e civis, representando um retrocesso nos ténues avanços de Direitos Humanos dos anos recentes.

Durante anos, a segurança e estabilidade da Guiné-Bissau têm sido ameaçadas devido à ela impunidade nas violações de Direitos Humanos por parte das forças armadas, incluindo investigações a homicídios de figuras políticas e militares interrompidas desde 2009, a necessidade urgente de reformar as forças de segurança, incluindo os militares que há muito interferem na política, e suspeitas que vários oficiais militares e outros funcionários do Estado estão envolvidos em tráfico internacional de droga.

Os golpes de Estado e revoltas militares têm acontecido desde a independência em 1974, e tornaram-se mais frequentes a partir de 2000.

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