A tecnologia digital liga as pessoas de forma mais rápida e eficaz, mas quando se tratar do uso da inteligência artificial tem potenciais efeitos adversos sobre os direitos humanos. A aposta da Amnistia Internacional é a de desafiar os intervenientes nas discussões sobre este tema para que centrem a abordagem com base nos padrões de direitos humanos, de forma que trabalhem para reduzir as desigualdades, com respeito pelo direito à vida e ao desenvolvimento sustentável. Em maio de 2018, A Amnistia Internacional, a organização Access Now e um conjunto de organizações parceiras lançaram a Declaração de Toronto sobre a aplicação dos princípios de direitos humanos aos sistemas de inteligência artificial.
Pretendendo marcar a agenda de forma positiva nesta matéria, a Amnistia desenvolveu alguns projetos online que têm o objetivo de fazer de cada pessoa um elemento importante na defesa dos direitos humanos. Pode conhecê-los de seguida.
Amnesty Decoders
É uma plataforma inovadora e onde trabalhamos com voluntários que, utilizando os seus computadores ou telemóveis, ajudam a Amnistia Internacional e os seus investigadores a verificar dados para reforçar a nossa informação.
Alguma da investigação apoiada por estas ações foi fundamental para confirmar abusos de direitos humanos em várias partes do mundo.
Foi o primeiro projeto que contou com a colaboração dos voluntários decoders e nele pedimos a análise de imagens de satélite que ajudassem a provar os ataques e a destruição causados nas aldeias pelas forças governamentais e o uso de determinado tipo de armamento químico contra a população civil da região de Jebel Marra, no Darfur. A plataforma digital interativa usada para esta investigação permitiu visualizar e analisar dados geoespaciais, imagens de satélite, depoimentos de testemunhas e fotografias, tudo num único interface. A ferramenta proporcionou a recolha de informação relativa a violações de direitos humanos que até à altura não tinham sido documentadas. Da investigação resultou um relatório, com o qual a Amnistia instou o Conselho de Segurança da ONU a pressionar o Governo do Sudão para garantir o acesso à ajuda humanitária e a investigação urgente ao uso de armas químicas.
Ler mais
Seguiu-se a análise aos ataques na Faixa de Gaza, em Rafah. Em parceria com a Forensic Architecture, uma unidade de investigação da Universidade de Londres, e com a ajuda dos voluntários decoders foram analisadas fotografias e vídeos de várias fontes e obtidos a partir de várias localizações no terreno, e de novas imagens de satélite de alta resolução. Uma equipa de investigadores da Forensic Architecture usou técnicas sofisticadas de análise das provas. Foram examinados indicadores de tempo contidos nas imagens – como os ângulos de sombras projetadas nas imagens e o tamanho das colunas de fumo, que funcionam como “relógios físicos” – para determinar a hora e o local dos ataques: processo que é conhecido como geo sincronização. Desta investigação resultou um relatório onde se demonstrava que as forças militares de Israel cometeram crimes de guerra em retaliação pela captura de um soldado israelita.
Ler mais
Um dos países onde se tem provado essencial este projeto é o Myanmar. Por ser um dos países onde a Amnistia não está autorizada a entrar, os decodersconseguiram, pela análise de imagens de satélite, comprovar a destruição provocada pela ofensiva das forças de segurança de Myanmar contra a população rohingya do Norte do estado de Rakine.
Ler mais Ler também Ver relatório(em inglês)
Outro tipo de violação de direitos humanos exposta graças a este projeto foram os derrames de petróleo provocados pelas operações da gigante petrolífera Shell na Nigéria, em território Ogoni e culminaram com a condenação da petrolífera a pagar indeminização à comunidade do povo Ogoni pelas consequências dos derrames que provocou no Delta do Níger. Seis anos depois dos dois derrames de petróleo terem destruído os meios de subsistência na região de Bodo, a Shell foi condenada a pagar uma indemnização a ser dividida por 15.600 pessoas e ainda uma compensação atribuída em conjunto a toda a comunidade.
Conheça o resultado das investigações (em inglês)
Já este ano, a Amnistia Internacional mobilizou centenas de pessoas em Portugal para ajudar a investigar num novo projeto de recolha de dados de investigação sobre Raqqa – chamado “Striker Tracker” – junto de mais de 170 entidades, organizações e instituições portuguesas, encorajando à participação pública no mapeamento da destruição provocada pelos bombardeamentos da coligação militar liderada pelos Estados Unidos da América sobre aquela cidade da Síria, a partir da análise de perícia de imagens de satélite.
Ler maisOutros projetos
Citizen Evidence Lab
É composto por advogados e investigadores de direitos humanos que trabalham em conjunto, para validar todas as imagens e vídeos que recebem a relatar violações de direitos humanos. Desde atrocidades a derrames de petróleo, qualquer coisa que possa envolver tipos de informação não tradicionais, incluindo imagens de satélite ou vídeos colocados no youtube por ativistas. Estas técnicas de verificação são ferramentas para quem se dedica à investigação na área dos direitos humanos. Na página online do projeto é explicado todo o procedimento e os motivos pelos quais é fundamental comprovar e validar todas as imagens e vídeos enviados. Isto porque este “laboratório” apenas analisa o que é enviado por pessoas comuns, que não estejam ligadas à AI.
Digital Verification Corps
Nos últimos anos Amnistia Internacional tem recorrido a tecnologias onlinede código de fonte aberta para investigar violações de direitos humanos. Tal como os decoders, o Digital Verification Corps é uma rede de mais de uma centena de voluntários em seis universidades internacionais a quem a Amnistia deu formação em verificação de dados e a quem recorre quando tem uma grande quantidade de filmagens e imagens que precisam de ser analisadas e que precisam de uma avaliação mais técnica.
Conheça alguns exemplos (em inglês)Combater as “Fake News”
As “fake news” são, nos dias de hoje, um problema. E consciente desse problema crescente, a Amnistia Internacional criou uma parceria com a Truly Media que tem como objetivo combater as “fake news”. Esta plataforma online foi desenvolvida para apoiar jornalistas e quem trabalhe na área dos direitos humanos para verificar conteúdos digitais, como por exemplo, material que se encontre nas redes sociais.
Conheça o projeto (em inglês)Ameaças à liberdade de expressão online
Numa era em que as redes sociais são parte importante no dia-a-dia das pessoas do mundo, é preocupante que seja utilizada para perseguir e assediar. Em novembro de 2017, a Amnistia internacional revelava o resultado de um estudo segundo o qual confirmava o impacto alarmante de abusos online contra as mulheres. Os abusos e assédio nas redes sociais sobre as mulheres, acontecem em todo o mundo e causam ansiedade, stress e ataques de pânico provocados por estas experiências online danosas.
Depois da revelação do estudo sobre os abusos online, o Twitter emitiu uma declaração segundo a qual estava solidário com as mulheres em todo o mundo. A Amnistia instou a empresa a fazer mais para proteger as mulheres dos abusos online. E voltou a publicar nova investigação sobre as experiências das mulheres na plataforma.
Recentemente a Amnistia Internacional em parceria com a Element AI divulgaram o maior estudo de sempre sobre o abuso online contra mulheres. Numa amostra analisada por peritos da Amnistia Internacional, concluiu que o conteúdo de cada dez tweets mencionando mulheres negras políticas e jornalistas era abusivo ou problemático. Mais de 6 500 voluntários de 150 países participaram na Troll Patrol (Patrulha de Trolls), um projeto único de colaboração pública, desenhado para processar dados em larga escala sobre o abuso na Internet. Os voluntários classificaram 228,000 tweets enviados a 778 mulheres políticas e jornalistas no Reino Unido e nos Estados Unidos da América em 2017.
Ler maisCaso Edward Snowden
Ou o dia em que mudámos a nossa visão do mundo online
O dia 5 de junho de 2013, marcou uma nova era na forma como nos relacinamos com o universo online. Neste dia Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA e consultor subcontratado da NSA, divulgou a vários meios de comunicação uma série de documentos que revelavam que as agências de serviços secretos norte-americanas e britânicas estavam a monitorizar os telefonemas e as atividades na internet de milhões de pessoas do mundo inteiro. Cerca de cinco mil milhões de registos de localização de telemóveis por dia, e 42 mil milhões de dados de Internet – incluindo endereços de email e históricos de navegação – por mês, e tudo isto em nome da segurança.
Dois anos após as revelações de Snowden, os governos resistiam ainda aos apelos para acabar com a vigilância em larga escala. As implicações na vida das pessoas e nos seus direitos humanos, levaram a Amnistia Internacional a publicar um relatório sobre a extensão do que tinha acontecido. Ao mesmo tempo lançava um movimento que pedia que parassem a vigilância online – #UnfollowMe.
Ler mais
Por ter denunciado este esquema de espionagem em grande escala, com implicações nos direitos humanos de todos, Snowden teve que sair dos Estados Unidos, teve que abandonar a sua família. Em entrevista à Amnistia Internacional falou do que o moveu e porque era importante que fosse revelado.
Ler mais