Esta é uma história complexa, cheia de intriga, nacional, internacional. Cheia de influência, de procura de poder e de vontade de poder. É uma história de gente agarrada ao poder, que não olha a meios para o atingir. É uma história com muitas histórias dentro. Com muitos protagonistas e muitos interesses económicos, políticos. Com negócios internacionais, gás e outros combustíveis fósseis. E heróis, pessoas inocentes que não escolheram esse heroísmo, mas que se viram no meio de uma tempestade caótica que hoje se chama Bielorrússia.
O rapaz chama-se Mikita Zalatarou. Tem 17 anos e, como quase todos os miúdos da sua idade, gosta de jogar computador – minecraft é a sua preferência – e adora andar de bicicleta.
A 10 de agosto de 2020 combinou encontrar-se com um amigo numa praça em Gomel, na sua Bielorrússia natal. Ao mesmo tempo, havia uma manifestação contra os recentes resultados eleitorais no país que mantiveram Lukashenko no poder e que quase ninguém, a nível internacional ou nacional, reconheceu como verdadeiros. Agarrado ao poder, Lukashenko mandou perseguir opositores e reprimir milhares de pessoas que se manifestaram, a imprensa livre e as ONG daquele país.
A repressão àquela manifestação aconteceu assim à força e ao jovem Mikita foi-lhe dito para que fugisse dali. O que ele fez, juntando-se à multidão. No dia seguinte, foi detido em casa, acusado de ter lançado um cocktail Molotov na direção de dois agentes.
Apesar da falta de provas, foi acusado de ter atacado a polícia e condenado a cinco anos de prisão por “desordem em massa” e “uso de explosivos ilegais” a 22 de fevereiro de 2021.
Mikita Zalatarou na prisão
A acusações contra ele não fazem sentido com os relatos dos meios de comunicação social, de que os protestos de 10 de agosto de 2020 foram maioritariamente pacíficos e não houve desordem de massas. Ainda assim, em tribunal, foi pedido a Mikita e ao seu pai que fornecessem nomes de outros “potenciais perpetradores” e prometido que, se os nomes fossem facultados, o jovem poderia sair em liberdade.
Após um período em que as visitas estiveram proibidas para Mikita, a 2 de outubro de 2021, a sua mãe dirigiu-se ao estabelecimento prisional juvenil para uma visita pré-agendada. Quando lá chegou, as autoridades informaram-na de que não poderia ver o filho, nem entregar a encomenda de alimentos que levava, uma vez que o jovem tinha sido transferido para a “cela do castigo”.
Mikita é um entre milhares que, na Bielorrússia, foram detidos porque Lukashenko tem medo de perder o poder.
Depois, as histórias de milhares de famílias de países terceiros que foram para a Bielorrússia com vistos e promessas do mesmo Lukashenko de que teriam passagem para a Europa, via Polónia, Letónia e Lituânia. Nestas fronteiras, não deixaram entrar as pessoas e as autoridades bielorrussas também não as deixavam voltar para as cidades daquele país. Com o frio, sem alimentos e cuidados de saúde, várias pessoas perderam a vida. Uma dessas vidas foi a de um bebé que nasceu na floresta e morreu na floresta.
Será que chegou a ter nome este bebé? De onde seriam os seus pais? O que estudaram? Que profissões teriam? Onde estarão os avós? Será que chegaram a pegar-lhe ao colo? Que sonhos tinha o pai para aquele filho? Que canções de embalar lhe cantou a sua mãe durante a sua curta, cândida e inocente vida?
Além de usar estas pessoas como resposta às sanções europeias, Lukashenko chegou a ameaçar fechar os gasodutos que fornecem gás à Europa. Só aí o seu protetor – Putin – refreou o assunto dizendo que não haveria interrupções no fornecimento. Os negócios falam mais alto que as vidas humanas. Precisamos de agir.
São tantas as histórias à volta de Mikita; e para lhes darmos corpo de esperança temos de começar por algum lado.
É por isso que lhe peço a si, nestes dias em que comemoramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que participe no nosso projeto “Maratona de Cartas” e assine a petição dirigida ao Procurador-geral da Bielorrússia, que pede que Mikita seja libertado e tenha a possibilidade de um julgamento justo.
Uma simples assinatura é um grande primeiro passo.
Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Público, pode consultar aqui.
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