11 Janeiro 2018

O Exército birmanês admitiu que as forças de segurança do país e grupos de aldeões mataram sumariamente dez pessoas rohingya e as enterraram numa vala comum nos arredores de Inn Din, uma aldeia de Maundaw, no estado de Rakhine. A Amnistia Internacional considera que esta assunção expõe com clareza a prática de execuções extrajudiciais contra a população rohingya em Myanmar (Birmânia).

“Esta macabra admissão feita [na terça-feira, 10 de janeiro] pelos militares birmaneses é uma mudança radical da política do Exército de negar em toda a linha quaisquer crimes. Porém, é apenas a ponta do icebergue e exige uma investigação séria e independente sobre que mais atrocidades foram cometidas durante a campanha de limpeza étnica que forçou mais de 655 mil rohingya a fugirem do estado de Rakhine desde agosto passado”, frisa o diretor regional da Amnistia Internacional para o Sul Asiático e Pacífico, James Gomez.

O perito avança que “é chocante que os soldados tenham tentado justificar execuções extrajudiciais dizendo que as suas unidades eram necessárias como reforço em outros locais e não sabiam o que fazer com os homens [rohingya] que tinham capturado”. “Este comportamento mostra um desrespeito pela vida humana que está para lá de toda a capacidade de compreensão”, sublinha.

“É chocante que os soldados tenham tentado justificar execuções extrajudiciais dizendo que as suas unidades eram necessárias como reforço em outros locais e não sabiam o que fazer com os homens [rohingya] que tinham capturado.”

James Gomez, diretor regional da Amnistia Internacional para o Sul Asiático e Pacífico

“A Amnistia Internacional e outras [organizações] têm vindo a documentar provas esmagadoras de que além de Inn Din, em aldeias e vilas por todo o Norte do estado de Rakhine, os militares mataram e violaram rohingya e incendiaram as suas povoações até nada mais ficar do que cinzas. Estes atos constituem crimes contra a humanidade e os responsáveis têm de ser julgados”, insta James Gomez.

O diretor regional da Amnistia Internacional para o Sul Asiático e Pacífico sustenta que “a verdadeira extensão das violações e crimes cometidos contra os rohingya e outras minorias étnicas não será conhecida até ser dado acesso sem restrições aos observadores independentes da Missão internacional de Apuramento de Factos [criada no início de 2017 e mandatada pelas Nações Unidas], assim como a outros observadores independentes, e em particular no estado de Rakhine”.

Regime de apartheid promovido pelo Estado

As forças armadas birmanesas tentaram anteriormente branquear o seu papel nos crimes contra a humanidade cometidos sobre a população rohingya no Norte do estado de Rakhine.

A investigação feita pela Amnistia Internacional demonstra que, desde os finais de agosto de 2017, as forças de segurança de Myanmar lançaram uma campanha de violência com alvo nos rohingya, incluindo através de mortes generalizadas de mulheres, homens e crianças, de violações e outra formas de violência sexual contra as mulheres e raparigas rohingya, dispondo minas terrestres e incendiando por completo aldeias e vilas rohingya. Esta campanha foi desenvolvida no contexto de um regime de apartheid promovido pelo Estado e existente de há longa data contra os rohingya.

“Estes atos constituem crimes contra a humanidade e os responsáveis têm de ser julgados.”

James Gomez, diretor regional da Amnistia Internacional para o Sul Asiático e Pacífico

Imagens de satélite de Inn Din analisadas pelos peritos da Amnistia Internacional mostram claramente como uma área de casas ronhigya foram deixadas em cinzas enquanto outras habitadas por não-rohingya aparecem ter sido deixadas incólumes.

O relatório “’My World Is Finished’: Rohingya Targeted in Crimes against Humanity in Myanmar” (“’O meu mundo acabou’: rohingya são alvo de crimes contra a humanidade em Myanmar”), publicado pela Amnistia Internacional em outubro de 2017, contém testemunhos de sete aldeões rohingya oriundos de Inn Din. Estas pessoas descrevem que os militares e vigilantes atacaram a aldeia durante vários dias no final de agosto passado, pilhando e incendiando as casas e disparando contra os habitantes conforme estes tentavam escapar-se. Explicaram ainda que os homens eram aparentemente um alvo privilegiado.

A Amnistia Internacional não pôde ainda determinar a escala das mortes ocorridas na aldeia de Inn Din.

  • 94 Estados

    94 Estados assinaram a Convenção Internacional sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento Forçado e 44 ratificaram-na.
  • 26 mil pessoas

    No México, entre 2006 e 2012, mais de 26 mil pessoas foram consideradas desaparecidas ou desapareceram.
  • 30 mil desaparecimentos

    No Sri Lanka, desde a década de 1980, foram denunciados à ONU 12 mil casos de desaparecimento forçado. O número real ultrapassa os 30 mil casos.

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