3 Setembro 2020

Uma nova investigação da Amnistia Internacional conclui que mais de 7000 profissionais de saúde morreram em todo o mundo devido à COVID-19. O México regista o número mais elevado, com pelo menos 1320 vítimas.

A organização também apurou números elevados nos Estados Unidos da América (1077) e no Brasil (634), onde existem altas taxas de infeção e mortalidade, bem como na África do Sul (240) e na Índia (573), que apresentam mais casos nos últimos meses.

“Todo o profissional de saúde tem o direito de estar seguro no trabalho e é um escândalo que tantos estejam a pagar o preço mais elevado”

Steve Cockburn, responsável de Justiça Económica e Social da Amnistia Internacional

“A morte de mais de sete mil pessoas enquanto tentavam salvar outras vidas é uma crise a uma escala impressionante. Todo o profissional de saúde tem o direito de estar seguro no trabalho e é um escândalo que tantos estejam a pagar o preço mais elevado”, defende o responsável de Justiça Económica e Social da Amnistia Internacional, Steve Cockburn.

“Tantos meses depois do início da pandemia, os trabalhadores da saúde continuam a morrer a níveis terríveis, em países como México, Brasil e EUA, enquanto a rápida disseminação das infeções na África do Sul e Índia mostra a necessidade de todos os Estados agirem”, alerta o mesmo responsável.

“Deve haver cooperação global para garantir que todos os profissionais de saúde recebem equipamentos de proteção adequados, para que possam continuar o seu trabalho vital sem arriscar as próprias vidas”, conclui Steve Cockburn.

No passado dia 13 de julho, a Amnistia Internacional divulgou um relatório que indicava que mais de 3000 trabalhadores de saúde tinham morrido devido à COVID-19. Os números mais recentes são impulsionados pelo aumento das taxas de infeção em vários locais, bem como pela disponibilidade de novas fontes de dados.

Os países com o maior número estimado de trabalhadores de saúde que morreram de COVID-19 incluem México (1320), EUA (1077), Reino Unido (649), Brasil (634), Rússia (631), Índia (573), África do Sul (240), Itália (188), Peru (183), Irão (164) e Egito (159).

Os dados nem sempre podem ser diretamente comparáveis ​​devido aos diferentes métodos de recolha usados e às definições dos profissionais de saúde usadas nos vários países. É também provável que estes números correspondam a uma estimativa significativamente mais baixa, graças à subnotificação dos casos pelas autoridades nacionais.

Greve na África do Sul

Hoje, o maior sindicato de trabalhadores do setor público sul-africano, o National Education, Health and Allied Workers’ Union (Nehawu), tem agendado um protesto junto ao parlamento do país. Nos planos está uma greve nacional, no dia 10 de setembro, se as suas exigências não forem atendidas.

Até ao momento, o governo não conseguiu responder a questões como o fornecimento adequado de equipamentos de proteção individual, envolvimento ativo dos trabalhadores em comissões de saúde e segurança ocupacional nos seus locais de trabalho, apoio psicossocial, transporte e subsídios de risco para quem está na linha de frente.

No início de agosto, sabia-se que pelo menos 240 profissionais de saúde tinham morrido na África do Sul devido à COVID-19. O país regista um aumento das vítimas mortais desde julho e, atualmente, há mais de meio milhão de óbitos confirmados.

Preocupações na Índia

A Índia regista um aumento do número de casos nos últimos meses, com mais de 3,6 milhões de positivos em todo o país e mais de 65 mil mortes. Dados do Ministério da Saúde, veiculados pela imprensa na semana passada, indicam que mais de 87 mil profissionais de saúde foram infetados e 573 morreram. Mais da metade dos óbitos (292) ocorreram no estado de Maharashtra.

“Pedimos a todos os governos que tomem medidas urgentes para proteger a vida dos profissionais de saúde. Além de aumentarem o fornecimento de equipamentos de proteção, devem ouvir os trabalhadores”

Steve Cockburn, responsável de Justiça Económica e Social da Amnistia Internacional

Os trabalhadores do setor têm levantado várias preocupações sobre a segurança. Em agosto, centenas de milhares de agentes comunitários de saúde (ASHA) fizeram uma greve para exigir equipamentos de proteção individual adequados, melhores salários e condições de trabalho justas e favoráveis.

O caso do México

Recentemente, o número de infeções por COVID-19 passou a fasquia dos sete milhões na América Latina. Paralelamente, a Amnistia Internacional registou números especialmente elevados de mortes entre os profissionais de saúde no México (1320), Brasil (634) e Peru (183).

Há relatos de que os trabalhadores de limpeza nos hospitais mexicanos se encontram numa situação particular de vulnerabilidade. Muitos são contratados por empresas, o que significa que têm menos proteção. Em maio, a Amnistia Internacional documentou o caso de Don Alejandro, de 70 anos, que trabalha em unidades de saúde públicas na Cidade do México. O homem disse que pediu para ser transferido para limpar apenas áreas administrativas, por pertencer a um grupo de risco. O empregador aceitou, mas cortou os seus rendimentos em cerca de 16 por cento.

A Amnistia Internacional destaca o facto de o governo mexicano ter mantido um registo detalhado das mortes de profissionais de saúde, com dados desagregados sobre idade, género e profissão. Esta transparência é essencial e todos os países devem disponibilizar estes números. Além disso, também pode explicar de alguma forma os números perturbadores do país em relação a outros.

No que respeita aos infetados, a 25 de agosto, o Ministério da Saúde do México confirmou a existência de 97.632 casos entre trabalhadores do setor.

Falta de proteção no Brasil

No Brasil, pelo menos 634 profissionais de saúde morreram de COVID-19. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), os trabalhadores queixaram-se da falta de equipamentos de proteção individual, de protocolos claros para lidar com as infeções, de apoios na área da saúde mental e de proteção social mínima para familiares. Outro problema é a existência de contratos precários entre aqueles que foram recrutados devido à situação de emergência.

“Os governos saudaram os profissionais de saúde como heróis, mas isso soa a nada quando tantos estão a morrer por falta de proteção básica”

Steve Cockburn, responsável de Justiça Económica e Social da Amnistia Internacional

“Pedimos a todos os governos que tomem medidas urgentes para proteger a vida dos profissionais de saúde. Além de aumentarem o fornecimento de equipamentos de proteção, devem ouvir os trabalhadores que falam sobre as suas condições de trabalho e respeitar os seus direitos de organização”, defende Steve Cockburn.

“Durante toda a pandemia, os governos saudaram os profissionais de saúde como heróis, mas isso soa a nada quando tantos estão a morrer por falta de proteção básica”, sublinha o responsável.

Metodologia

Através de data science, a Amnistia Internacional analisa regulamente e reúne dados relacionados com a morte de profissionais de saúde, a partir de várias fontes. Estas incluem números oficiais de governos, listas compiladas por associações médicas nacionais e obituários publicados na imprensa de todo o mundo.

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