19 Julho 2019

O principal candidato da oposição nas históricas eleições da Zambézia (15 de outubro), no centro de Moçambique, está a ser alvo de ameaças de morte e intimidação, alerta a Amnistia Internacional. Manuel de Araújo, atual autarca de Quelimane e membro do partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), concorre ao cargo de governador da província que, pela primeira vez, não será ocupado por nomeação presidencial.

“Temos testemunhado este padrão sombrio, de tempos a tempos, à medida que os líderes políticos são perseguidos e até mesmo mortos pela sua visão crítica”

Deprose Muchena, diretor regional da Amnistia Internacional para a África Austral

“Estas táticas pré-eleitorais lembram-nos de algo terrível que acontece durante as eleições em Moçambique: ameaças de morte e intimidação. Temos testemunhado este padrão sombrio, de tempos a tempos, à medida que os líderes políticos são perseguidos e até mesmo mortos pela sua visão crítica”, afirma o diretor regional da Amnistia Internacional para a África Austral, Deprose Muchena.

Manuel de Araújo recebeu a última carta anónima no dia 10 de julho. O mesmo conteúdo foi também reproduzido em mercados e nas redes sociais.

“As eleições nunca devem ser mortais, porque, afinal de contas, são uma luta de ideias”

Deprose Muchena, diretor regional da Amnistia Internacional para a África Austral

Antes das eleições autárquicas de outubro de 2018, nas quais conquistou Quelimane, Manuel de Araújo já tinha recebido várias mensagens intimidatórias devido à sua voz ativa contra a corrupção a nível provincial e nacional.

“As eleições nunca devem ser mortais, porque, afinal de contas, são uma luta de ideias. A violência não tem lugar”, sublinha Deprose Muchena.

Outro episódio de ameaças teve lugar no dia 27 de setembro de 2016. Na assembleia municipal de Quelimane, um membro do partido Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) afirmou que Manuel de Araújo “merecia uma bala na cabeça”.

O perigoso jogo político moçambicano

Em maio deste ano, outro autarca eleito pela RENAMO, Paulo Vahanle, também recebeu uma mensagem que sugeria que se demitisse da presidência de Nampula. Se não o fizesse, morreria porque a função que desempenha já tinha um “dono”.

Curiosamente, Paulo Vahanle foi eleito em janeiro de 2018, após o homicídio do antigo autarca Mahamudo Amurane, membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). O caso remonta a outubro de 2017. Para trás, ficou a luta de um homem que teve como bandeiras o combate da corrupção e a revitalização das infraestruturas públicas.

“As autoridades moçambicanas devem lançar uma investigação independente e séria sobre estas alegações de ameaças de morte e intimidação”

Deprose Muchena, diretor regional da Amnistia Internacional para a África Austral

Outro caso de violência contra políticos ocorreu a 8 de outubro de 2016. Jeremias Pondeca, quadro experiente da RENAMO envolvido em várias negociações para acabar com a violência entre membros do seu partido e do governo, foi abatido em Maputo. As suspeitas sobre os autores do crime recaem em alguns agentes de segurança.

Em janeiro do mesmo ano, Manuel Bissopo, então secretário-geral da RENAMO, foi ferido durante uma viagem de carro, na Beira. O guarda-costas morreu na sequência do ataque que aconteceu após uma conferência de imprensa que denunciou o rapto e morte de membros do seu partido.

“As autoridades moçambicanas devem lançar uma investigação independente e séria sobre estas alegações de ameaças de morte e intimidação”, defende Deprose Muchena.

A Amnistia Internacional teme que a violência e impunidade existentes limitem a participação dos moçambicanos na vida política nacional. Por isso, apela à defesa e promoção dos direitos à liberdade de reunião e expressão, antes das próximas eleições de Moçambique.

Artigos Relacionados