Será possível deportar um menor de idade, juntamente com os seus dois jovens irmãos, para o Afeganistão? O país é considerado o mais perigoso do mundo, mas nem isso demoveu o governo da Noruega de dar essa ordem, este fim-de-semana.
AÇÃO URGENTE“Desenraizar estes três jovens irmãos das comunidades onde vivem há mais de sete anos e deportá-los, sozinhos, para uma zona de guerra é um abuso de poder inconcebível”
Massimo Moratti, diretor-adjunto para a Europa da Amnistia Internacional
Eshan Abbasi (16 anos), a irmã Taibeh (20 anos) e o irmão Yasin (22 anos) foram encaminhados para Istambul, na Turquia, no passado sábado. O destino final será Cabul, onde correm o risco de sofrer violações graves dos direitos humanos, nota a Amnistia Internacional. A mãe dos jovens também foi deportada, mas voltará à Noruega por razões de saúde.
“Desenraizar estes três jovens irmãos das comunidades onde vivem há mais de sete anos e deportá-los, sozinhos, para uma zona de guerra é um abuso de poder inconcebível”, afirma o diretor-adjunto para a Europa da Amnistia Internacional, Massimo Moratti.
“O Afeganistão não é um país seguro para regressarem e, se essa deportação cruel e desnecessária for concluída, a família será dividida, ficando em risco a vida destes três jovens”, prossegue o mesmo responsável.
Taibeh Abbasi tem sido a porta-voz da família e uma acérrima defensora dos direitos humanos. Nascida no Irão, no seio de uma família afegã – que fugiu do país natal em 1998 durante o regime dos talibãs porque o seu grupo étnico, os hazara, é alvo de perseguição – chegou à Noruega em 2012, com a mãe e os irmãos. Desde então, têm sido apoiados pela comunidade local de Trondheim.
“As autoridades norueguesas e turcas devem garantir que a família possa comunicar com o mundo exterior e receber informações, aconselhamento legal e apoio de organizações”
Massimo Moratti, diretor-adjunto para a Europa da Amnistia Internacional
O governo norueguês justificou a deportação alegando que o Afeganistão é seguro. No entanto, a afirmação é desmentida pelos níveis recorde de violência documentados no país. No início deste mês, o Instituto para a Economia e Paz descreveu-o como o “menos pacífico” do mundo.
O paradeiro dos jovens Abbasi em Istambul é desconhecido, mas acredita-se que não têm acesso a qualquer informação ou contato com o exterior desde que saíram da Noruega. Massimo Moratti explica que “esta deportação é representativa das políticas cruéis e desumanas de muitos governos europeus, que estão a fechar os olhos à realidade da vida no Afeganistão para aumentar o número de retornos”.
“As autoridades norueguesas e turcas devem garantir que a família possa comunicar com o mundo exterior e receber informações, aconselhamento legal e apoio de organizações”, nota o diretor-adjunto para a Europa da Amnistia Internacional.
Os capítulos de uma história que não pode ter este fim
De acordo com as informações disponíveis, dez polícias dos serviços de migração da Noruega estão em Istambul a acompanhar os três irmãos. O país tem deportado mais afegãos do que qualquer outro Estado europeu, não apenas em proporção, mas também em termos absolutos. As autoridades afegãs dão conta de que, nos primeiros quatro meses de 2017, 32 por cento dos retornos forçados da Europa tiveram origem na Noruega (97 de 304).
No ano passado, a Amnistia Internacional Portugal reuniu 8766 assinaturas para impedir a deportação de Taibeh Abbasi. A sua história também foi incluída numa campanha contra a retorno forçado de afegãos, que juntou mais de 280 mil pessoas em todo o mundo. As petições foram encaminhadas para as autoridades norueguesas.
Os últimos dados das Nações Unidas dão conta de que, em 2018, o Afeganistão registou um recorde de quase 11 mil vítimas em contexto de conflito: 804 mortos e 7189 feridos.
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