27 Março 2018

O apelo não pode ser mais claro: é preciso impedir a deportação da jovem Taibeh Abbasi da Noruega para o Afeganistão – e a Amnistia Internacional levou esse pedido, subscrito já por 7 381 pessoas só em Portugal, a uma reunião na embaixada norueguesa em Lisboa esta sexta-feira, 23 de março.

Nesta entrega, a coordenadora de Investigação e Advocacy da Amnistia Internacional Portugal, Catarina Prata, e a coordenadora de Campanhas, Ana Farias Fonseca, transmitiram à primeira-secretária da missão diplomática da Noruega em Lisboa, Hanna Olsen Bodsberg, a urgência deste pedido: a deportação de Taibeh Abbasi e da sua família para o Afeganistão acarreta consequências devastadoras num país onde existe discriminação e perseguição, graves violações de direitos humanos e o nível de violência faz com que as pessoas enfrentem constantes riscos de tortura, de rapto e morte.

“Em Cabul não existe futuro para mim nem para os meus irmãos. Ficaremos expostos a discriminação e sentiremos na pele o que é ser uma minoria vulnerável. E eu, como rapariga, estarei particularmente vulnerável”, é sublinhado pela própria adolescente, na petição/carta dirigida à primeira-ministra da Noruega, Ema Solberg, para que não seja levada a cabo a anunciada deportação.

“Em Cabul não existe futuro para mim nem para os meus irmãos.”

Taibeh Abbasi

Junto com Taibeh Abbasi foram já mais de cem mil as pessoas que, em 129 países, reforçaram aquele pedido, incluindo 7 381 em Portugal. Esta petição permanece ativa e continua a poder ser subscrita, dada a possibilidade de a adolescente ser deportada a qualquer momento pela Noruega para o Afeganistão sob o errado pretexto de que este é um “país seguro”.

Taibeh Abbasi tem 18 anos e vive desde há cinco anos na cidade norueguesa de Trondheim. A jovem nasceu no Irão e nunca esteve no Afeganistão, de onde os pais fugiram em 1998 durante o regime dos talibãs e onde o seu grupo étnico – hazara – é minoritário e alvo de perseguição e de discriminação. Caso seja deportada, esta família ficará separada dos amigos e da rede social construída na Noruega. Em Cabul não terão onde morar nem forma de sustento. Taibeh, já mais habituada a falar norueguês do que farsi, vai ter de comprar roupas e aprender as intrincadas regras de comportamento num local onde os direitos das mulheres são profundamente restringidos.

Aluna de notas máximas no último ano do secundário em Trondheim, largamente elogiada pelos professores e com o desejo de estudar Medicina, Taibeh Abbasi será ainda confrontada no Afeganistão com enormes barreiras para prosseguir os estudos: dois terços das adolescentes afegãs não vão à escola e as que o fazem vivem no medo constante de serem atacadas.

E o caso de Taibeh Abbasi não é único na Noruega, nem na Europa. Investigações da Amnistia Internacional mostram que entre 2015 e 2016 o número de afegãos deportados por países europeus quase triplicou, de 3 290 pessoas para 9 460. A Alemanha, Grécia, Suécia e Reino Unido estão também entre os que mandam afegãos de volta ao perigo, apesar de, ao mesmo tempo, emitirem alertas sobre os riscos de viajar para o país.

  • 80 milhões

    80 milhões

    Em 2020, existiam mais de 80 milhões de pessoas que foram forçadas a sair do seu local de origem devido a perseguição, violência, conflito armado ou outras violações de direitos humanos.
  • 26 milhões

    26 milhões

    No final de 2020 estimava-se a existência de 26 milhões de refugiados no mundo.
  • 45 milhões

    45 milhões

    Mais de 45 milhões de pessoas foram forçadas a deixar as suas casas permanecendo dentro do seu próprio país (deslocados internos).
  • 4 milhões

    4 milhões

    Estima-se que existam mais de 4 milhões de pessoas em todo o mundo consideradas "apátridas" – nenhum país as reconhece como nacional.

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